Paulo Rangel: “O ministro Santos Silva tem estado impecável”

Paulo Rangel acusa o Governo de falhar na mensagem aos portugueses e nas medidas para mitigar o impacto da guerra na Ucrânia.

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Paulo Rangel, eurodeputado pelo PSD, na entrevista ao PÚBLICO/Renascença Rui Gaudêncio

O eurodeputado social-democrata lembra que há países a congelar os preços dos combustíveis e, em entrevista ao PÚBLICO/Renascença, acusa o Governo de estar a falhar na gestão da crise interna: “O Governo tem fugido a dar explicações, tudo é muito atabalhoado.”

Que consequências terá a invasão da Ucrânia para os portugueses? Acredita que haverá falhas no abastecimento de alimentos?
Estou pessimista quanto à situação internacional, espero estar enganado. Este ciclo negativo do ponto de vista económico vai prolongar-se. Estamos a dar muita atenção à crise energética e temos de dar porque os preços repercutem-se no resto. Mas também temos de dar à crise agro-alimentar, que em Portugal está a ser um pouco disfarçada e que vai ser uma crise séria. Em termos de escassez não sei, mas vai haver escassez no mundo.

Na nossa gestão interna, do ponto de vista da assunção das nossas responsabilidades perante a União Europeia e a NATO, o Governo tem estado bem para não dizer muito bem, nomeadamente o ministro dos Negócios Estrangeiros. Aqui, Santos Silva tem estado impecável. Na gestão dos impactos da crise interna, as coisas são diferentes. O Governo tem fugido a dar explicações, tudo é muito atabalhoado. Não há um discurso claro. No caso dos combustíveis, a novela dos impostos é antiga e o Governo não saiu disso, continua com os vouchers e uma série de esquemas. No ISP retira o que seria o IVA e agora diz ‘pedimos à União Europeia para baixar o IVA’ que, com certeza vai fazê-lo, e não fomos apenas nós a pedir.

Devia haver medidas concertadas?
O discurso do Presidente da República na sequência do Conselho de Estado é muito mais verdadeiro e sério para com os portugueses. Claro que o discurso dele é no plano dos princípios e das grandes linhas. No plano das medidas tem de ser o Governo e aí está a falhar.

O que podia fazer para mitigar o impacto da guerra?
Em vários países, o preço dos combustíveis foi congelado, por exemplo. Não estou a dizer que devia ser esta a medida, mas este aumento podia ser muito mais mitigado. Essa medida só pode ser aguentada durante algum tempo, mas podia ser uma resposta até ver se haveria no curto prazo alguma solução. No aspecto alimentar, também era preciso dar outras garantias. Era importante dar uma mensagem sobre o que nos espera e que é a de que vamos ter de fazer alguns sacrifícios.

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Paulo Rangel, eurodeputado pelo PSD, na entrevista ao PÚBLICO/RR Rui Gaudêncio

É o regresso do discurso da austeridade, que o Governo não quer fazer.
Não sei se é o discurso da austeridade. Temos de preparar a nossa opinião pública, a nossa cidadania para um período que será difícil. Mesmo que tudo agora corresse bem, já tínhamos uma factura grande a pagar só por esta instabilidade e turbulência e ataque aos valores humanos fundamentais.

A invasão vai ficar-se pela Ucrânia? Ou este conflito pode espalhar-se aos independentistas dos Balcãs?
Temos de contar com o pior. Putin está a trabalhar para a História, está a querer restaurar o império russo e a comparar-se com Pedro, o grande, com Catarina, a grande, e com Estaline de alguma maneira, não está a competir com estes poderes de agora e isso torna-o mais imprevisível. Ele neste momento não tem nada a perder, é um pária internacional.

A Moldova é talvez o país mais vulnerável por causa da Transnístria, porque não é membro da NATO e foi uma república soviética. Existe risco e de maior gravidade do que no tempo da Guerra Fria. O poder americano e soviético eram responsáveis porque as cadeias de poder não pertenciam a uma pessoa e neste momento não sabemos qual é o mecanismo de decisão que está no Kremlin.

O Vaticano pode ter aqui um papel de mediação?
O Vaticano tem uma tradição de diplomacia muito grande. Uma das razões pelas quais eu defendo que o Vaticano deve continuar a ser um Estado é porque a Igreja Católica tem uma tradição diplomática muito grande. Há boas relações com a Igreja Ortodoxa, embora com a de Moscovo seja um pouco mais problemática. O Papa pode ter um papel mediador, não será tanto pela linha religiosa mas pela linha política como teve em muitos conflitos no mundo.

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