Benjamin Moser é o convidado do Encontro de Leituras de Abril

O biógrafo norte-americano de Clarice Lispector estará no clube de leitura do PÚBLICO e da Folha de S. Paulo a 12 de Abril, para discutir com os leitores o seu mais recente livro Susan Sontag- Vida e Obra, acabado de publicar em Portugal.

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Benjamin Moser Beowulf Sheehan

O escritor norte-americano Benjamin Moser, que se formou em História pela Universidade de Brown, onde também fez o curso de Literatura Brasileira e aprendeu a falar fluentemente português, é o convidado do próximo Encontro de Leituras. A sessão está marcada para 12 de Abril, às 22h de Lisboa (18h em Brasília) e acontecerá no Zoom, como habitualmente, aberta a todos os que queiram participar. A ID é a 863 4569 9958 e a senha de acesso 553074. Aqui fica o link.

Em discussão, neste clube de leitura do PÚBLICO com o jornal brasileiro Folha de S. Paulo, estará o seu livro mais recente, aquele que lhe deu o Prémio Pulitzer em 2020. É uma biografia dedicada à autora de A Doença Como Metáfora / A Sida e as Suas Metáforas (ed. Quetzal), uma das mais importantes intelectuais norte-americanas do século XX. Susan Sontag — Vida e Obra foi editado no Brasil pela Companhia das Letras em 2019, o mesmo ano em que saiu nos Estados Unidos, e chegou a Portugal pela Objectiva, que o lançou na semana passada.

Ao longo de quase 700 páginas, sentimos que o século nos cai em cima, como se o retrato que Benjamin Moser faz de Susan Sontag (1933- 2004) facultasse uma panorâmica geral do que vivemos culturalmente nas últimas décadas. Estão lá a história da família da escritora e a nostalgia do tempo em que viveram na China, onde tinham negócios; a morte prematura do pai, Jack; a relação de Susan com a sua mãe, Mildred, que se tornou alcoólica e muitas vezes ausente, e com a sua irmã, Judith, de quem escondeu as relações lésbicas que manteve ao longo da vida.

Recordamos a sua avidez de conhecimento nos tempos de escola e na faculdade onde, aos 17 anos, conhece o professor Philip Rieff, de quem fica noiva pouco mais de uma semana depois. Acompanhamos nascimento do filho de ambos, David Rieff, a partida de Susan Sontag para estudar na Europa, o seu regresso aos Estados Unidos e a separação do casal. Sabemos das suas relações amorosas, com homens e com mulheres, assistimos à sua ascensão cultural, aos seus feitos, mas também às suas inseguranças.

À medida que Benjamin Moser nos vai contando a vida de Susan Sontag e dos que a rodeavam, vai também analisando as suas inúmeras obras, que abarcam vários géneros, e também o seu cinema, o teatro, o seu activismo, as suas viagens. E o modo como lidou com o cancro em várias fases da sua vida, até a doença a matar.

No final desta biografia, para a qual teve acesso aos arquivos privados da escritora, Benjamin Moser escreve: “Ela mostrou-nos como permanecermos ancorados nas conquistas do passado sem deixarmos de abraçar o nosso próprio século. Demonstrou uma admiração infinita pela arte e pela beleza e um infinito desprezo pela vulgaridade intelectual e espiritual. Impressionou gerações de mulheres como uma pensadora que não tinha medo dos homens e nem sequer a noção de que deveria ter. Significava auto-aperfeiçoamento — a transformação do eu em algo maior do que se esperava. (…). Depois da morte de Sontag, quando emergiram novos fenómenos que exigiam interpretação, as pessoas passaram a perguntar-se com frequência o que teria ela feito com eles e diziam sentir a sua falta. Não porque as respostas dela tivessem sido sempre certas, mas porque, durante quase 50 anos, mais do que qualquer outro pensador público de destaque, ela estabelecera os termos do debate cultural em moldes que nenhum outro intelectual fizera até então, ou viria a fazer depois.”

São muitas as vezes em que Benjamin regressa a algum assunto que deixou pendurado lá atrás. Este livro diz, é “uma tessitura”, em que juntou pedacinhos para compor um retrato que não é linear. “Uma vida não tem uma só forma, não tem uma só história. É por isso que há muitos livros sobre Susan Sontag e também sobre Clarice Lispector. Mas o nosso livro, ele tem de ser da forma que é. É uma coisa quase mística. Cada livro tem uma estrutura escondida, talvez inevitável, que vamos descobrindo ao longo dos anos”, explicou Benjamin Moser ao PÚBLICO.

O escritor de 45 anos, que vive há duas décadas nos Países Baixos, chegou a pensar estudar mandarim quando era estudante em Brown, mas acabou por se inclinar para o português. Costuma lembrar que às vezes acabamos na cama com uma pessoa que encontrámos num bar e no dia seguinte acordamos de ressaca lamentando o sucedido. Também pode acontecer, porém, que essa pessoa se torne o amor da nossa vida. Foi isso que lhe aconteceu com a obra da escritora brasileira Clarice Lispector, um amor que ele nunca pensou que fosse para a vida inteira. Quando leu A Hora da Estrela, ficou apaixonado.

Viajou então pela primeira vez para o Brasil. Seguiu, sozinho, do Rio de Janeiro até à Argentina e subiu de Buenos Aires até Assunção, no Paraguai. “Em Florianópolis, comprei uma edição de A Paixão segundo G. H. e a verdade é que é a única coisa de que me lembro naquela viagem. Aquele livro teve em mim um impacto de que nunca mais recuperei”, contou ao PÚBLICO em 2010, quando o seu primeiro livro, Clarice Lispector Vida e Obra, foi publicado em Portugal pela Livraria Civilização. Finalista do The National Book Critics Circle Award e incluído na lista dos 100 Notable Books of 2009, do The New York Times, a biografia foi reeditada em Portugal em 2017 pela Relógio D’Água com o título Porquê Este Mundo Uma Biografia de Clarice Lispector.

O Encontro de Leituras junta leitores de língua portuguesa uma vez por mês e discute romances, ensaios, memórias, literatura de viagem e obras de jornalismo literário, na presença de um escritor, editor ou especialista convidado. É moderado pela jornalista Isabel Coutinho, responsável pelo site do PÚBLICO dedicado aos livros, o Leituras, e pelo jornalista da Folha de S. Paulo Eduardo Sombini, apresentador do Ilustríssima Conversa, podcast de livros de não-ficção.

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