Santos Silva garante que próximo Governo dirá “não a qualquer lógica austeritária” de resposta à crise

O governante acredita que o próximo Governo, que deverá tomar posse no final do mês, não irá recorrer à medidas de austeridade para combater a crise provocada pela crise na Ucrânia.

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Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros Nuno Ferreira Santos

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, acredita que o próximo Governo “não hesitará em dizer não a qualquer lógica austeritária como resposta às consequências económicas” provocadas pela guerra na Ucrânia. Em entrevista à rádio TSF e Jornal de Notícias, o ministro começou por ressalvar que não poderia falar pelo próximo executivo em relação a ajustamentos orçamentais concretos, mas assegurou que a austeridade não está nos planos do próximo Governo socialista.

“Não haverá sacrifício das políticas sociais”, garantiu o actual governante. “Se há coisa que a resposta à crise das dívidas soberanas de 2010 mostrou é que as políticas de austeridade só aumentam a dimensão da crise”, argumentou Santos Silva. “E se há coisa que as respostas às consequências da pandemia mostraram é que políticas económicas expansionistas, políticas orçamentais anticíclicas, políticas cujo objectivo principal é preservar a coesão do tecido social e a capacidade do tecido empresarial e do mercado de emprego, são políticas bem-sucedidas”, contrapôs.

Por isso, o governante acredita que o próximo Governo rejeitará a austeridade como resposta. “Estou certo que o XXIII Governo não hesitará em dizer não a qualquer lógica austeritária como resposta às consequências económicas desta guerra”, vincou.

Sobre a área da Defesa, o ministro dos Negócios Estrangeiros lembrou que Portugal tem um plano de desenvolvimento do investimento em Defesa, acordado na Cimeira de Gales em 2014 e que, portanto, deverá aumentar o valor da despesa sobre o produto para “próximo dos 2% em 2024”.

Quanto à questão energética, Santos Silva diz que o país não precisa de mudar a sua política e que tem vindo a aumentar a importância das renováveis no nosso país, ao mesmo tempo que diversifica as importações.

O ministro antecipa também a necessidade de uma mobilização “para acomodar as consequências que directa ou indirectamente” os países irão sofrer. “Essa mobilização passa por mais recursos que sustentem políticas económicas e sociais que respondam positivamente e eficazmente às consequências económicas desta guerra”, explica.

"A Ucrânia é o agredido e a Rússia é o agressor"

Na mesma entrevista, o governante defende também uma “solução política para a Ucrânia” como “a única duradoura” e ressalva que tal só será possível se a Rússia aceitar um cessar-fogo. Augusto Santos Silva sublinha que o país agressor é a Rússia e avisa que a “campanha de manipulação e de mentira” do Governo russo está a ser levada “a um extremo tal que se autodestrói”. “Eu não estabeleço nenhuma equivalência entre a Ucrânia e a Rússia. A Ucrânia é o agredido e a Rússia é o agressor e, como sustentei no Parlamento, há que dizer isto sem qualquer mas, nem qualquer se”, afirmou.

Sobre as partilhas feitas pelo Presidente ucraniano, Zelensky, que mostram imagens da destruição provocada pela artilharia russa, incluindo os feridos e mortos, Augusto Santos Silva diz que é “um direito básico e irrenunciável dos ucranianos e, até, uma obrigação das suas autoridades, porque é preciso dar a conhecer ao mundo a barbárie que se está a perpetrar hoje na Ucrânia”. “A agressão militar à Ucrânia é de uma barbaridade que desafia a consciência moral de qualquer um”, conclui o ministro.

Porém, sublinha que é imperativo “distinguir a guerra de Putin da guerra do povo russo”, lembrando que “há neste momento milhares de pessoas detidas na Rússia porque ousaram criticar e protestar publicamente contra a invasão da Ucrânia”.

Santos Silva defende ainda que, mais do que nunca, “é necessária uma combinação entre firmeza e prudência” e avisa que “prudência só não chega”. E que firmeza é essa? “No robustecimento da nossa capacidade de dissuasão – nossa, quer dizer, da NATO”, no “robustecimento da nossa capacidade de defesa” e no “plano político e económico”, nomeadamente pela União Europeia, “com sucessivas medidas políticas de isolamento internacional da Rússia e sanções económicas muito poderosas”.

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