A “viagem alucinante” de William Hurt

Foi nomeado quatro vezes para os Óscares. Tinha 71 anos.

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William Hurt tinha 71 anos Earl Gibson III/getty images

William Hurt, que na década de 1980 fez filmes como Noites Escaldantes, Os Amigos de Alex ou Viagens Alucinantes, morreu este domingo, aos 71 anos. À imprensa norte-americana, o filho, Will, enviou um comunicado a dizer que o actor nascido em 1950 tinha morrido de “causas naturais”. Em 2018, anunciou que lhe tinha sido diagnosticado um cancro terminal na próstata.

Hurt, que se estreou em 1980 como protagonista de Viagens Alucinantes, do britânico Ken Russell, tinha uma colaboração frutífera com Lawrence Kasdan, argumentista e realizador, tendo protagonizado, para ele, o neo-noir Noites Escaldantes, ao lado de Kathleen Turner, e a comédia dramática de reunião de amigos de faculdade Os Amigos de Alex. Faria mais dois filmes com ele, O Turista Acidental, de 1988, e Amar-te-ei até te matar​​, de 1990. Fez filmes, por exemplo, com Wim Wenders em Até ao fim do mundo, ao lado de Solveig Dommartin e a fugir à volta do mundo com uma catástrofe a pairar no ar e Steven Spielberg, a quem tinha recusado um papel em Parque Jurássico, em A. I. - Inteligência Artificial​.

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Com Sónia Braga na estreia de "O Beijo da Mulher Aranha" em Nova Iorque Getty Images

O actor foi nomeado quatro vezes para os Óscares. A primeira delas deu-se em 1986, para Melhor Actor, por O Beijo da Mulher Aranha, do argentino-brasileiro Héctor Babenco. Ganhou a estatueta pelo papel de um homem encarcerado numa prisão brasileira durante a ditadura militar. Seguiu-se, também como Melhor Actor e ainda na década de 1980, Filhos de um Deus Menor, de Randa Haines, em que fazia de professor de alunos surdos, e Edição Especial, de James L. Brooks, em que era um pivô televisivo que é mais atraente do que competente e que sobe na carreira por isso, sendo referido pela personagem de Albert Brooks como “o diabo”. Em 2005, voltou a ser para Melhor Actor Secundário pelo papel em Uma História de Violência, de David Cronenberg, em que fazia de um chefe da máfia irlandesa de Filadélfia.

Ao longo dos anos, trabalhou também com realizadores tão variados quanto Chantal Akerman Michael Apted, Woody Allen, Anthony Minghella, Peter Yates, Nora Ephron, István Szabó, Luis Puenzo, Carl Franklin, Franco Zeffirelli, M. Night Shyamalan, Wayne Wang, Robert De Niro, Sean Penn, Julie Delpy, Stephen Gaghan, Julie Gavras ou Ridley Scott.

Em 2009, Marlee Matlin, que contracenou com ele em Filhos de um Deus Menor e com esse papel tornou-se a primeira actriz surda a ganhar um Óscar, escreveu um livro de memórias chamado I'll Scream Later. No livro, acusava Hurt, com quem tinha tido uma relação de dois anos que ela caracterizava como abusiva com o actor, de violência sexual, física e verbal. Na altura, o actor enviou um comunicado ao programa de televisão Access Hollywood: “A minha lembrança é de que ambos pedimos desculpa e fizemos muito para sarar as nossas vidas. Claro, eu pedi e peço desculpa por qualquer dor que tenha causado. E sei que ambos crescemos. Desejo tudo de bom à Marlee e à sua família.” Sandra Jennings, com quem teve uma relação entre 1981 e 1984, também o acusou de violência física e verbal, tendo-o levado a tribunal para pedir pensão de alimentos para o filho de ambos.

Desde 2008, ano de O Incrível Hulk, que Hurt fazia parte do Universo Cinematográfico Marvel, no papel do general e depois secretário de Estado Thaddeus Ross. O seu derradeiro filme acabou por ser Viúva Negra, de Cate Shortland, apesar de este ano ter sido lançado, internacionalmente, o filme The King's Daughter, de Sean McNamara, originalmente filmado em 2014.

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Óscar para Melhor Actor em "O Beijo da Mulher Aranha" Getty Images

Na televisão, fez trabalhos como a minissérie Dune, adaptação de Frank Herbert do ano 2000, bem como Damages, a série britânica de ficção científica Humans e as mais recentes Condor, adaptação do filme Os Três Dias do Condor​, e Goliath.

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