Blogger saudita Raif Badawi libertado após dez anos na prisão

Amnistia Internacional sublinha que Badawi, prémio Sakharov em 2015, ainda enfrenta dez anos sem poder sair do país e sem poder usar redes sociais.

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A mulher de Raif Badawi, Ensaf Haidar, mostrando o retrato do marido, quando ele foi premiado pelo Parlamento Europeu Vincent Kessler/Reuters

O blogger saudita Raif Badawi, cuja flagelação em público numa praça de Jidá em 2015 levou a uma grande campanha internacional contra esse tipo de castigo, foi libertado na sexta-feira após dez anos na prisão, anunciou a família.

Mas a Amnistia Internacional diz que Badawi não só não pode sair do país durante dez anos como está proibido de usar redes sociais durante esse tempo.

O crime de Raif Badawi foi defender o secularismo num blogue que fundou, a Rede Liberal Saudita. Em Junho de 2012, foi preso e acusado de insulto ao islão, desobediência ao monarca e apostasia (renúncia deliberada da religião) – a última acusação valia-lhe a pena de morte. A acusação mais grave acabou por ser retirada, mas mantiveram-se a prisão e as chicotadas, um castigo que surpreendeu os sauditas mais liberais e levou a uma enorme campanha pelo cancelamento de novas flagelações (a pena eram mil chicotadas, divididas em grupos de 50, a serem dadas durante 20 sextas-feiras). As restantes acabaram canceladas depois de grande indignação, e o país acabou por proibir as flagelações em Abril de 2020.

“Depois de dez anos de prisão, Raif está livre”, publicou no Twitter a mulher, Ensaf Haidar, que vive no Canadá, onde obteve asilo político. Haidar e as filhas não vêem Badawi há oito anos.

“Raif Badawi ainda está bloqueado na Arábia Saudita, já que está impedido de sair do país nos próximos dez anos. Também está proibido de usar redes sociais durante os próximos dez anos, o que limita de modo grave a sua liberdade de expressão”, disse a Amnistia Internacional.

A organização Repórteres Sem Fronteiras diz que vai tentar agora que Badawi possa viajar para o Canadá, onde tem garantido asilo e cidadania se conseguir sair da Arábia Saudita, segundo a emissora britânica BBC.

Badawi, de 38 anos, foi objecto de uma intensa campanha pela sua libertação e por reformas na Arábia Saudita. Recebeu vários prémios, dos Repórteres Sem Fronteiras ao Prémio Sakharov, do Parlamento Europeu, em 2015.

No ano passado, as autoridades sauditas começaram a libertar uma série de activistas, incluindo Loujain al-Hathloul em Fevereiro de 2021, e a irmã de Raif, Samar Badawi e Nassima al-Sadah, em Junho passado.

No entanto, as activistas libertadas ainda enfrentam restrições. Al-Hathloul, que tinha feito campanha para legalizar a condução para mulheres na Arábia Saudita, continua proibida de viajar e tem uma pena suspensa de três anos. Há ainda muitos presos políticos nas prisões sauditas, incluindo o estudioso muçulmano Salman al-Awdah e o economista Essam al-Zamel, aponta a Al-Jazeera.

Numa rara crítica pública, os Estados Unidos apelaram, na terça-feira, à Arábia Saudita para que revisse os casos de “prisioneiros de consciência” e levantasse as proibições de viagem e outras restrições impostas às activistas dos direitos da mulher depois de libertadas.

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