Um novo ataque russo a Kiev pode estar por dias

Rússia parece estar perto de ultrapassar os problemas logísticos que encontrou e está a aproximar-se, ainda que lentamente, da capital ucraniana. CIA estima que 2000 a 4000 soldados russos tenham morrido até agora.

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Irpin, a Oeste de Kiev, continua a ser palco de combates Reuters/CARLOS BARRIA

Com avanços territoriais lentos, a invasão russa da Ucrânia parece ter chegado no fim-de-semana a uma nova fase de impasse, à semelhança do que tinha acontecido nos primeiros dias do conflito. Mas esse quase imobilismo pode acabar muito em breve, assim que a Rússia terminar a reorganização de tropas e o reabastecimento que os analistas ocidentais acreditam que está em curso.

“As forças russas estão provavelmente a completar os preparativos para um ataque a Kiev a partir de Leste e de Oeste nas próximas 24 a 96 horas”, escreveram os observadores do Institute for the Study of War na mais recente avaliação da guerra. Também é provável, na visão deste think thank americano que reúne e analisa informações militares, que haja ataques às cidades de Zaporizhzhia e de Odessa nos próximos dois ou três dias.

Kiev continua a ser o principal objectivo político e militar da ofensiva russa. Apesar de uma enorme coluna de veículos estar praticamente parada às portas da capital há vários dias e de as tropas terem progredido lentamente a Oeste do rio Dnipro, a Leste há movimentações mais significativas. Uma análise da consultora de defesa Janes concluiu que há pelo menos seis grupos que combinam infantaria, artilharia e apoio aéreo perto dos subúrbios de Brovary e Boryspil.

Ainda assim, esta frente não está totalmente consolidada, uma vez que o seu apoio é feito a partir da Rússia pela zona de Sumi, a mais de 300 quilómetros para Nordeste. “Os russos enfrentam problemas em manter uma linha logística tão grande, especialmente porque não conquistaram a cidade propriamente dita [Sumi] e as forças ucranianas continuam a atacar nessa via”, diz o Institute for the Study of War. “Talvez considerem necessário garantir as linhas terrestres de comunicação ao Leste de Kiev antes de tentarem tomar a capital.”

Depois de terem entrado em Kherson e na central nuclear de Zaporizhzhia, em Enerdogar, as forças russas têm-se dedicado nos últimos dias a atacar refinarias e locais de armazenamento de petróleo junto a Odessa, Mykolaiv, Zaporizhzhia e Kharkiv, entre outros sítios.

Ao mesmo tempo, prosseguem os bombardeamentos a alvos civis em cidades como Mykolaiv e Kharkiv. Esta terça-feira as autoridades ucranianas denunciaram também que a Rússia tinha violado o cessar-fogo estabelecido em Mariupol.

Entre 2000 e 4000 mortos russos

Na sua análise às mais recentes movimentações militares, Thomas Bullock, da Janes, afirma que “a Rússia parece ter perdido um grande número de aviões no fim-de-semana” e “começou a mobilizar tropas adicionais e a mandá-las para a Ucrânia”. E isto acontece num momento em que um número crescente de altas patentes russas “está a deslocar-se para a linha da frente para impor ordem e personalidade de forma a melhorar a operação”.

Em Washington, a percepção é a de que Vladimir Putin “está zangado e frustrado” e vai “duplicar” os esforços para subjugar o exército ucraniano, “sem consideração pelas vítimas civis”, disse na Câmara dos Representantes o director da CIA, William Burns. Os serviços secretos americanos acreditam que “quase 100%” das tropas que estavam estacionadas junto à Ucrânia já estão a combater no país, mas dizem não ter ainda informação fiável quanto a possíveis reforços.

Na sua audição, o director da CIA também revelou que 2000 a 4000 soldados russos terão morrido nestes 12 dias de guerra. Trata-se de uma estimativa muito distante quer dos números apresentados pela Ucrânia (mais de 11 mil) quer dos apresentados pela Rússia (menos de 500), na única vez em que o Kremlin se pronunciou sobre baixas.

Sejam quantas forem, há famílias na Rússia em desespero por notícias dos seus. A RFE divulgou esta terça-feira um vídeo em que cidadãos confrontam o governador da região de Kemerovo, Serguei Tsiviliov, acusando o Estado de ter enganado e enviado polícias de choque daquela zona para a frente de batalha “como carne para canhão”.

“O que eles disseram a toda a gente era que iam fazer exercícios na Bielorrússia. A última vez que ouvi notícias dele foi na véspera da invasão. Disse-me que lhes tinham dito para tirarem as matrículas dos veículos e entregarem os telemóveis”, relata um amigo de um soldado à RFE.

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