Estudantes de Coimbra querem usar sargarço na agricultura e farmacêutica

Projecto de investigação da Universidade de Coimbra propõe desenvolver novos biofertilizantes e bioestimulantes para aplicação na agricultura e avaliar a aplicação dos compostos bioactivos do sargaço no sector farmacêutico e da cosmética.

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Benjamin L. Jones/Unsplash

Uma equipa da Universidade de Coimbra lidera um projecto que visa desenvolver produtos a partir do sargaço, uma mistura de diferentes algas que se deposita à beira-mar.

O sargaço é a designação dada na “costa litoral norte à mistura de diferentes algas” que crescem nas plataformas rochosas e que com o movimento das ondas se depositam à beira-mar.

A Universidade de Coimbra (UC) referiu que o projecto “ValSar: Valorização do Sargaço da Costa Litoral Norte” é financiado pelo Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas (FEAMP), através do MAR2020, e é realizado com a colaboração da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC) e do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), com o apoio dos municípios de Vila do Conde e da Póvoa do Varzim, do distrito do Porto.

Trata-se de um projecto que propõe desenvolver novos biofertilizantes e bioestimulantes para aplicação na agricultura, assim como avaliar a potencial aplicação de compostos bioactivos do sargaço no sector farmacêutico e de cosmética. A ideia é identificar oportunidades de negócio que permitam promover o desenvolvimento local.

O processo passa por três fases: caracterização do sargaço, o estudo, selecção e ensaios com os compostos extraídos do sargaço, e, por fim, a disseminação do conhecimento produzido, não só junto da comunidade científica e do público em geral, como também junto de investidores.

“Queremos valorizar este conjunto de algas que abundam na nossa plataforma continental e que estão subaproveitadas. O sargaço é uma mistura orgânica muito rica, quer em termos de compostos minerais, quer em termos de compostos bioquímicos”, disse, citada na nota de imprensa, a investigadora e coordenadora do projecto, Cristina Rocha.

A equipa começou por caracterizar sazonalmente a diversidade, quantidade e composição química e bioquímica da mistura de algas e foi possível “identificar os diferentes compostos bioactivos do sargaço e seleccionar os mais promissores para os produtos que se pretendem desenvolver, isto é, para a valorização que se propõe”, explicou. Com base nesta informação, os investigadores vão agora avançar para a preparação dos extractos.

O projecto aposta no desenvolvimento de um substrato correctivo fertilizante, misturando o sargaço com “resíduos sólidos urbanos para tentar obter um composto mais rico, que potencie melhor o crescimento das culturas”, acrescentou. Estes fertilizantes e bioestimulantes vão depois ser testados num conjunto de culturas de interesse económico para a região Litoral Norte. Simultaneamente, a equipa vai explorar a outra linha de produtos dirigida ao sector farmacêutico e de cosmética.

Sabendo-se que as algas possuem muitos compostos bioactivos, “com diferentes actividades biológicas, como, por exemplo, antivirais, antibacterianas, antifúngicas e antitumorais, vão-se preparar extractos e testar os compostos bioactivos desses extractos em ensaios de exposição de células do sistema imunitário e em linhas celulares que representam a pele — a epiderme e a derme”, detalhou.

O Valsar já tem um ano e apresenta “um elevado interesse colectivo, uma vez que visa promover a valorização de uma actividade económico-social e de um recurso natural da região Litoral Norte, centrando-se na inovação de produtos e biotecnologia e criando condições para o empreendedorismo”, concluiu Cristina Rocha.

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