Vitinha, um regresso inesperado e uma afirmação categórica

Wolverhampton não exerceu opção de compra, no ano passado, e o médio voltou a casa, assumindo hoje um papel preponderante no FC Porto.

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MANUEL FERNANDO ARAUJO

Aos 70 minutos do jogo da 13.ª jornada da Liga portuguesa, no Algarve, Vitinha tirou um adversário do caminho, já dentro da área do Portimonense, e estreou-se a marcar pelo FC Porto, num triunfo por 0-3. Nove minutos depois, saiu para dar lugar a Sérgio Oliveira e para receber uma ovação dos adeptos. Nessa altura da época, a equação já se invertera: de primeira escolha no início da temporada, o agora médio da Roma passava a estar na sombra de um dos grandes talentos das selecções jovens portuguesas.

Aos 22 anos, Vítor Machado Ferreira, Vitinha dentro dos relvados, é já prata da casa. Chegou ao FC Porto, oriundo do CB Póvoa de Lanhoso, aos 11 e desde então foi subindo degraus na hierarquia. Passou pelos diferentes escalões, com um empréstimo ao Padroense pelo meio, e em 2020 foi vítima da espartilho do fair-play financeiro da UEFA a que os “dragões” foram submetidos. Forçados a vender para cumprirem metas, os dirigentes “azuis e brancos” cederam o médio ao Wolverhampton, com uma cláusula de compra fixada nos 20 milhões de euros.

O clube inglês (que utilizou Vitinha em 22 jogos numa temporada) acabou por não exercer o direito de preferência e o encaixe financeiro previsto pelo FC Porto gorou-se. Do ponto de vista desportivo, porém, essa transformou-se numa boa notícia para os “dragões”, que viram regressar a casa um médio polivalente que Sérgio Conceição foi preparando para os desafios que agora enfrenta com aparente facilidade.

Mais do que uma escolha habitual do treinador (nesta época soma já 34 jogos em todas as provas, três golos e duas assistências), Vitinha tornou-se determinante na dinâmica da equipa. A construir, a garantir equilíbrios sem bola, a pressionar e a criar — no encontro de domingo, em Paços de Ferreira, foi decisivo em dois dos golos do FC Porto. Predicados aos quais junta ainda um remate de respeito de meia distância e apetência para as bolas paradas.

“Parece-me um médio completo. É sempre dos jogadores que recupera mais bolas. Associando à qualidade técnica, temos um jogador que enche o campo, o que para nós é fantástico”, elogiou anteontem Sérgio Conceição, referindo-se a um atleta com 90,5% de médio de acerto no passe e quase dois passes para golo por jogo no campeonato.

A evolução do médio que nasceu em Santo Tirso no trabalho sem bola também é uma evidência, sendo que os elogios que lhe são dirigidos têm surgido de diferentes quadrantes. Com um percurso sólido na selecção de Sub21, tem sido uma das apostas mais regulares de Rui Jorge, que não poupou na apreciação ao jogador depois do triunfo sobre a Itália, nos quartos-de-final do Campeonato da Europa de 2021.

“O Vitinha é um jogador tremendo, de um nível superior. Por alguma coisa tem sido invariavelmente titular connosco. Reconheço-lhe muita qualidade e espírito colectivo”, assinalou na altura o seleccionador. Qualidade que já se tinha detectado a léguas na formação do FC Porto e que galgou também fronteiras com a conquista da UEFA Youth League, em 2018-19.

Em entrevista à UEFA, há poucos meses, Vitinha atribuía a esse momento uma carga e um impacto especiais. “Deu visibilidade ao nosso trabalho, os nossos nomes começaram a aparecer e fizemos história. A partir daí começaram a olhar para nós [e no nós incluía também João Mário] de maneira diferente”, sublinhou. Ele que foi distinguido, nos passados meses de Dezembro e Janeiro, com o prémio de melhor jogador do mês da Liga portuguesa.

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