110 Histórias, 110 Objectos: a bilha de azeite

O podcast 110 Histórias, 110 Objectos, do Instituto Superior Técnico, é um dos parceiros da Rede PÚBLICO.

No podcast 110 Histórias, 110 Objectos, um dos parceiros da Rede PÚBLICO, percorremos os 110 anos de história do Instituto Superior Técnico (IST) através dos seus objectos do passado, do presente e do futuro. Neste 36.º episódio do podcast, descobrimos a história da bilha de azeite.

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A bilha de azeite do Grupo de Cantares Tradicionais do IST IST

É hoje um dos símbolos do Grupo de Cantares Tradicionais do Instituto Superior Técnico, mas fez um grande caminho no tempo até aqui chegar. A bilha de azeite chegou ao Técnico durante o período da construção do campus da Alameda do Técnico, que durou entre 1929 e 1942, e esteve escondida entre caves e arquivos até ser adoptada pelo grupo do IST, fundado em 2001.

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Vamos por partes e pelas palavras de Delminda Carneiro, funcionária aposentada do Técnico e uma das fundadoras do grupo: o engenheiro Duarte Pacheco, director do IST à época da sua construção, “trouxe – não sei se da terra dele – dois senhores que vieram para ajudar nas obras da construção do Instituto Superior Técnico e deu-lhes casa na cave do Edifício Central”. A partir de então, e por tempo difícil de determinar, viveram dois casais no edifício principal do IST, que se viram a tornar funcionários do Técnico.

Quando as casas ficaram livres e as equipas do IST foram retirar os pertences, foram encontrados dois objectos históricos – um merendeiro de vime e a bilha de azeite. “Eles eram ali da região de Cernache do Bonjardim ou da Sertã. Os objectos são naturais dessa região e muito antigos”, descreve.

O irmão de Delmina, Hermínio Carneiro, esteve nessa equipa que desmantelou a casa e ao ver os objectos históricos, decidiu guardá-los num arquivo morto da secção de contabilidade. O objecto passou quase uma vida no IST e assim avançamos décadas e décadas até à fundação do Grupo de Cantares Tradicionais: “Quando fundámos o grupo, ele trouxe estes dois acessórios tradicionais porque fazia todo o sentido que fizessem parte do grupo”.

Esta bilha de azeite, ou talha de azeite dependendo da região, encarna também na perfeição os objectivos deste grupo. “O Grupo de Cantares, preserva não só as modas (género musical) mas também os usos e costumes de antigamente” resume Delmina Carneiro.

A bilha de azeite é acompanhada por uma pequena “jaula” de madeira, que servia para a proteger durante o transporte. Caso batesse em alguma coisa, não ficava amassada.

É uma das estrelas da companhia, para além dos 15 elementos que compõem actualmente o grupo e acompanha muitas vezes o grupo quando tem actuações fora de Lisboa. “Normalmente vamos de véspera e costumamos levar farnel naquele cesto”, descreve. É também usado para a decoração do palco. “Já participámos em concursos nacionais de música tradicional, precisamente para simbolizar que somos um grupo tradicional e mantemos viva a tradição”.

O grupo de Cantares Tradicionais do IST veio, na opinião de Delmina, colmatar uma necessidade que existia na instituição. “Grande parte dos funcionários que vieram para cá nos anos 70 era gente lá de cima da Beira Alta e do norte do país. E havia essa necessidade porque havia pessoas que tinham umas vozes muito lindas e que deviam ser aproveitadas. Reunirmos um bocado da cultura e das tradições da região dessas pessoas e trazê-las para dentro do Técnico”, descreve. O grupo, fundado no seio da Associação do Pessoal do Instituto Superior Técnico (APIST) e entretanto autonomizado, dedica-se ao levantamento e interpretações do cancioneiro de várias regiões do país, de norte a sul e ilhas.

Delmina acumulou 43 anos de funcionária do IST e está no grupo de cantares desde a sua fundação, há 21 anos. Mantém-se optimista com o futuro do grupo: “Fico contente porque vejo que entram pessoas quem nem estavam ligados a este tipo de música e estão a aderir e penso que serão eles que vão ser os continuadores deste grupo. Nomeadamente alunos que entram, vêm com o pensamento de que se os mais velhos faltarem, nós continuamos. Enquanto os mais velhos e até os mais novos tiveram este espírito, isto não vai terminar”. A vida do grupo manifesta-se todas as semanas no IST: há ensaios todas as segundas-feiras.

O podcast 110 Histórias, 110 Objectos é um dos parceiros da Rede PÚBLICO. É um programa do Instituto Superior Técnico com realização de Marco António (366 ideias) e colaboração da equipa do IST composta por Filipa Soares, Sílvio Mendes, Débora Rodrigues, Patrícia Guerreiro, Leandro Contreras, Pedro Garvão Pereira e Joana Lobo Antunes.

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