Mais de 4300 detidos na Rússia em manifestações contra a guerra

Contestação popular à invasão da Ucrânia chegou este domingo a 29 cidades russas. Só em Moscovo foram detidas 1700 pessoas, segundo a ONG OVD-Info.

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A polícia detém um manifestante antiguerra em São Petersburgo EPA/ANATOLY MALTSEV

Apesar da repressão, a oposição na Rússia à guerra na Ucrânia parece não dar sinais de abrandar. Este domingo, milhares de russos saíram às ruas nas principais cidades do país para protestar contra a invasão. Mais de 4300 pessoas foram detidas, segundo apurou a organização não-governamental OVD-Info.

Um porta-voz da polícia confirmou que só em Moscovo foram feitas 1700 detenções numa “manifestação não autorizada” que contou com 2500 pessoas, entoando palavras de ordem como “Não à guerra” e “Vergonha”. Outras 750 pessoas foram detidas num protesto que juntou cerca de 1500 pessoas em São Petersburgo.

Pelo menos 96 pessoas foram detidas em Novosibirsk, 18 em Irkutsk e 15 em Vladivostoque e Khabarovsk, segundo um balanço provisório efectuado pela OVD-Info, que contabilizou manifestações em 29 cidades da Rússia.

Dezenas de manifestantes foram também detidos em Ekaterinburgo, onde as autoridades não se refrearam no uso da violência. Um vídeo partilhado nas redes sociais mostrava um dos manifestantes a ser espancado com bastões pela polícia quando já estava por terra. Segundo relata o jornal britânico The Guardian, um mural com a imagem do Presidente Vladimir Putin foi desfigurado pelos manifestantes em Ekaterinburgo.

De acordo com a OVD-Info, mais de 12 mil pessoas já foram detidas em protestos contra a guerra desde o início da invasão da Ucrânia, a 24 de Fevereiro.

“Os parafusos estão a ficar completamente apertados. Estamos a testemunhar actos de censura militar”, afirmou Maria Kuznetsova, porta-voz da OVD-Info, citada pela Reuters.

Antes das manifestações deste domingo, o líder da oposição russa, Alexei Navalny, pedira à população do país que ignorasse as proibições e fosse para a rua exigir o fim da invasão da Ucrânia e protestar contra Vladimir Putin, o “principal arquitecto” da invasão.

Navalny descreveu Putin como um “ditador louco” que “destruiu todas as conquistas do país numa questão de dias” e que “condenará a Rússia à culpa durante décadas”.

Quer a procuradoria-geral da Rússia quer o Ministério do Interior reiteraram nas horas que antecederam as manifestações os alertas à população para não se juntar aos protestos, lembrando que a participação em “distúrbios organizados” é punível com pena até oito anos de prisão na Rússia, um aviso que Navalny denunciou como um acto de repressão.

“É normal ter medo, mas sucumbir significa ficar do lado de fascistas e assassinos. Por dignidade, contra Putin, pela Rússia e contra a guerra”, escreveu o opositor, actualmente a cumprir uma pena de dois anos e meio de prisão.

O Ministério do Interior russo alertara os cidadãos russos na quinta-feira, 24 de Fevereiro, dia da invasão da Ucrânia, que as autoridades tomariam “todas as medidas necessárias” para manter a lei e a ordem”, avisando que os manifestantes que cometessem acções “provocatórias ou agressivas” contra as forças policiais seriam detidos.

Os protestos deste domingo não ficaram limitados à Rússia: milhares de manifestantes saíram às ruas em Bruxelas, na Bélgica, e Londres, no Reino Unido. No Cazaquistão, um tradicional aliado de Moscovo, foi permitida uma manifestação pela paz em Alma-Ata que contou com cerca de duas mil pessoas.

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