Chernobyl: todos os animais serão abatidos

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Na primeira manhã de 2020, um americano tranquilo (de férias em Portugal; vindo de Berlim onde fixara residência) e bom conversador, falou-me da mini-série da HBO Chernobyl (2019) com enorme entusiasmo. Guardei a referência até hoje e a recente escalada da tensão bélica entre a Rússia e a Ucrânia foi decisiva para me empurrar a vê-la. Nós não tínhamos visto quase nada de Chernobyl, nos anos 1980, e o pouco que tínhamos sabido fora esquecido, daí o maior impacto desta monumental dramatização, de onde se destacam os contributos do criador e argumentista Craig Mazin e do realizador Johan Renck (alguém que fez currículo na publicidade e nos telediscos). Chernobyl é mais um mergulho na imperscrutável psicologia do povo russo, à qual Vladimir Putin ainda recentemente se dirigia apelando ao sentimento nacionalista. Detalha a cronologia dos eventos que conduziram ou que se seguiram ao rebentamento de um reactor nuclear numa central construída pela URSS em solo ucraniano. Trata-se de uma reconstituição que em larga medida respeita as fontes e os factos e que dá uma perspectiva do que aconteceu e, mais perturbador, poderia ter acontecido. Presos no fluxo de situações de contornos fortemente dramáticos, podemos ver em Chernobyl os elementos de um holocausto provocado para evitar um outro holocausto de resultados ainda mais devastadores. E um holocausto pressupõe o sacrifício de vidas humanas, o extermínio de muitas vidas, o cenário de poluição nuclear por tempo indeterminado, a evacuação de centenas de milhares de pessoas sem uma perspectiva de poderem regressar às suas casas e à vivência de que foram arrancadas compulsivamente.

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