Desengane-se quem acha que sozinho não vai a lado nenhum

Não temos todos meios para colocar uma ação judicial no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, mas todos temos consciência e a perfeita noção de que estamos a caminhar para a destruição.

O meu nome é Catarina Mota, tenho 21 anos e vivo em Pombal, Leiria. Apesar de mais velho do que eu, o PÚBLICO faz parte da minha vida e de toda a minha geração, e estou muito grata por poder tomar o lugar de diretora por um dia e defender a luta contra as alterações climáticas.

Desde criança que o interesse por este tema esteve presente na minha vida, e as minhas escolas foram as grandes “culpadas”. Em todos os meus anos de aprendizagem, as escolas onde estudei sempre foram Eco-Escolas e todas apostavam na sustentabilidade.

Pessoalmente, o gosto pelo meio ambiente e pela sustentabilidade sempre esteve lá, mas o medo instaurou-se, sobretudo em 2017, quando em pleno mês de outubro estavam mais de 30ºC e deflagraram os incêndios. Até então, as estatísticas e previsões que nos alertavam para tantos perigos pareciam irreais. Infelizmente, muitas pessoas ainda pensam que são.

Nesse momento decidi agir. Decidimos agir. Eu e mais cinco jovens portugueses temos vindo a desenvolver uma ação contra os 33 governos europeus. Grande parte da população ainda desconhece a nossa luta, mas todos os dias têm sido pequenas vitórias e conquistas. Saber que os jornais e as rádios apostam cada vez mais nestes temas é uma grande vitória, e ter uma edição de aniversário dedicada às alterações climáticas é a prova de que muito há ainda por fazer.

Ser uma escola intitulada Eco-Escola não é suficiente, é preciso adaptar conteúdos, ensinar e mostrar as consequências reais das alterações climáticas — as que já se verificam, as que estão a acontecer e as que vão continuar a acontecer se nada mudar.

Ser “líder” não é suficiente se eu não usar o meu “poder” para ensinar e transmitir a importância das lutas em que me envolvo. E a luta pelo direito à vida está na mão de cada um de nós.

Desengane-se quem acha que sozinho não vai a lado nenhum, porque é com pequenos passos que se começa. Com pequenos passos, quem sabe, influenciamos a nossa família, os nossos vizinhos, os nossos colegas, e juntamo-los, eles e muitos mais, a esta luta contra as alterações climáticas, para que o mundo continue a ser uma casa habitável.

Ser sustentável só porque tenho benefícios fiscais não é suficiente. É um passo muito importante, mas não chega. As políticas mudam conforme os governos e é preciso que o que hoje fazemos ao abrigo de um benefício fiscal qualquer seja realmente interiorizado como um passo que vai ter mesmo impacto no planeta. Se não for assim, quando a política mudar, quando o benefício económico diminuir, mudaremos as nossas escolhas e optaremos novamente pelo que é mais barato e poluente. Voltaremos à estaca zero.

Cumprir as leis e não emitir gases com efeito de estufa é o caminho. Mas esse caminho tem de trazer recompensas, porque é assim que o ser humano se move. Àqueles que ainda não querem reconhecer que o planeta em que vivemos está ameaçado é preciso dizer que as multas impostas a quem não cumpre as regras de proteção ambiental são muito superiores ao que se gasta a cumpri-las.

Se eu, com apenas 21 anos, conseguir mostrar a urgência de agir, já estou a fazer a minha parte. Não temos todos de ir para as ruas e participar em manifestações, não temos todos meios para colocar uma ação judicial no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, mas cada um pode fazer a sua parte, todos temos de ter consciência de que estamos a caminhar para a destruição. Comecemos por mudar o que está mal nos nossos gestos, nas nossas escolhas do dia a dia, alertando quem nos rodeia para o impacto das suas ações. Já é fazer muito.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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