Boicote à Rússia: o mundo une-se em apoio à Ucrânia

Da proibição de bebidas a restrições nas plataformas sociais de comunicação: o mundo está a reagir à guerra na Ucrânia e são várias as formas de boicote a ser aplicadas contra a Rússia.

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EPA/FILIP SINGER

Enquanto os países ocidentais a respondem à invasão da Ucrânia por parte da Rússia, muitos têm procurado atingir Moscovo onde dói – a carteira – com sanções contra o Presidente Vladimir Putin e os seus aliados e restrições contra companhias aéreas e bancos russos.

Seguindo o exemplo desses esforços, retalhistas e organizações desportivas internacionais​ também anunciaram boicotes a produtos russos e puseram de parte equipas russas, integrando um movimento simbólico global criado para mostrar solidariedade para com a Ucrânia.

Abaixo, estão reunidos alguns dos boicotes feitos a nível mundial desde a invasão russa à Ucrânia.

1. Bebidas alcoólicas

Nos Estados Unidos, os empregados dos bares estão a retirar produtos de origem russa das prateleiras um pouco por todo o país, enquanto governadores de vários estados assinam ordens para restringir as vendas.

Recentemente, os governadores republicanos Mike DeWine, do Ohio, Spencer J. Cox, do Utah, e Chris Sununu, de New Hampshire, emitiram a ordem de restrição da venda de algumas vodkas russas.

O governador do Texas, Greg Abbott, também republicano, pediu à associação estatal de restaurantes e retalhistas que retirasse os produtos russos das prateleiras voluntariamente, incluindo bebidas alcoólicas. No Oregon, a comissão estatal de bebidas alcoólicas e cannabis indicou às lojas de bebidas alcoólicas que parassem de vender produtos russos. No Maine, a governadora democrata Janet Mills apelou às agências estatais para excluir vodka de origem russa para prevenir que os produtos “chegassem às prateleiras de restaurantes e retalhistas do Maine, até nova ordem”.

Especialistas avisam, contudo, que um boicote da vodka russa nos Estados Unidos não vai ter um grande impacto financeiro, sendo maioritariamente um gesto simbólico.

Retalhistas de 12 países retiraram vodka russa das suas prateleiras, incluindo Austrália, Canadá, Dinamarca, Lituânia, Letónia, Estónia, Suécia e Polónia

2. Equipas desportivas

Desde a invasão à Ucrânia que várias federações e ligas desportivas têm posto de lado atletas e equipas russas. Tal começou na segunda-feira, depois de o Comité Olímpico Internacional ter recomendado às federações desportivas internacionais que se abstenham de permitir (ou convidar) a participação de atletas e oficiais russos ou bielorrussos em competições, “a fim de proteger a integridade das competições desportivas globais e pela segurança de todos os participantes”.

A FIFA anunciou que, até nova ordem, vai suspender a participação de todas as equipas russas, nacionais e de clubes, em competições internacionais. Num comunicado conjunto da FIFA e da UEFA, que supervisiona a modalidade na Europa, disseram que esperavam que “a situação na Ucrânia melhore significativa e rapidamente para que o futebol possa voltar a actuar como uma agente de união e paz entre as pessoas”.

3. Eventos desportivos

Várias federações desportivas internacionais alteraram as localizações de grandes eventos desportivos, que iam decorrer em cidades russas. A primeira grande decisão veio da UEFA, que alterou a final da Liga dos Campeões, marcada para 28 de Maio, da Gazprom Arena, em São Petersburgo, para o Estádio de França, em Paris.

Além disso, na passada sexta-feira, a Federação Internacional de Xadrez anunciou que não vai organizar a 44.ª Olimpíada de Xadrez em Moscovo, abrindo a possibilidade de outras cidades se disponibilizarem para receber o evento. Também a Federação Internacional do Automóvel, responsável pela Fórmula 1, cancelou o Russia Grand Prix, que estava prevista para Setembro.

“Estamos a assistir aos desenvolvimentos na Ucrânia com choque e tristeza e esperamos que a presente situação tenha uma resolução rápida e pacífica”, adiantou a organização num comunicado, acrescentando que o evento não poderia acontecer “dadas as circunstâncias actuais”.

Entretanto, o conselho executivo do Comité Olímpico Internacional incitou as federações desportivas nacionais a “realocar ou cancelar” todos os eventos planeados na Rússia e na Bielorrússia.

A Liga Nacional de Hóquei adiantou que não estava a considerar a Rússia como local para eventos futuros e que ia pôr as relações com parceiros de negócios russos em pausa, ainda que simpatize com os jogadores russos da liga. “Compreendemos que eles e as suas famílias estão a ser colocados numa posição extremamente difícil.”

O Comité Paralímpico Internacional disse que não ia organizar eventos nem na Rússia, nem na Bielorrússia, e nenhum dos países vai poder participar na competição, que começa na próxima sexta-feira.

4. Indústrias cultural e de entretenimento

Os boicotes também atingiram as indústrias de cultura e entretenimento russas. Num comunicado publicado na terça-feira, os organizadores do Festival Cannes, que tem a sua 22.ª edição programada para 17 de Maio, anunciaram que delegações oficiais e pessoas ligadas ao Governo russo não são bem-vindas, a menos que a invasão tenha um fim “em condições que satisfaçam o povo ucraniano”.

Simultaneamente, os organizadores aclamaram os russos que estão a protestar contra a invasão e mostraram apoio aos artistas e cineastas russos que se afirmaram contra Putin. De acordo com o The Hollywood Reporter, não foi feito nenhum comentário que indicasse que os seus filmes seriam banidos.

5. Meios de comunicação

Gigantes da indústria tecnológica agiram rapidamente para limitar o alcance dos meios de comunicação estatais russos: Russia Today (RT) e Sputnik. Nick Clegg, presidente dos Assuntos Globais da Meta, previamente conhecida como Facebook, publicou um tweet na segunda-feira, a dizer que a empresa estava a trabalhar para restringir o acesso da RT e da Sputnik à União Europeia. Esta acção surge na sequência de uma outra medida, anunciada no sábado, que proíbe os meios de comunicação estatais russos de publicar anúncios ou criar rendimento na plataforma Meta.

A Google anunciou num comunicado, na terça-feira, que ia bloquear canais de YouTube associados à RT ou à Sputnik na Europa, a fim de “parar a disseminação de informação incorrecta e interromper as campanhas de desinformação online”.

“Isto baseia-se na pausa indefinida da rentabilização dos meios de comunicação estatais russos em toda a nossa plataforma, o que significa que entidades como a RT não podem lucrar com conteúdos ou anúncios nas nossas plataformas”, lê-se no comunicado.

O TikTok vai seguir o exemplo, banindo a Sputnik, a RT e entidades associadas na Europa, de acordo com o Insider. O Twitter anunciou que vai começar a sinalizar tweets de utilizadores que partilhem conteúdos relacionados com sites de meios de comunicação estatal russos. Yoel Roth, director de integridade da empresa, acrescentou, num tweet, que estão a caminhar para “reduzir significativamente a circulação destes conteúdos no Twitter”.

A gigante do streaming, Netflix, anunciou na segunda-feira que não vão fazer a transmissão de quaisquer canais russos na plataforma da Rússia, desafiando a nova regulação que exige que serviços com mais de 100 mil subscritores assegurem a transmissão de um determinado número de canais locais, de acordo com o The Wall Street Journal.

De acordo com a agência de notícias russa TASS, Oleg Gavrilov, vice-chefe do departamento de Informação e Imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros Russos, disse, na passada terça-feira, que a Google e a Meta estão a permitir a circulação de propaganda contra a Rússia enquanto bloqueiam os seus sites de notícias.

“Estão a conduzir actividades propagandísticas hostis abertamente nas suas plataformas sociais”, disse Gavrilov, apelando à criação de um sistema que “responsabilize belicistas estrangeiros”.

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
A tradução original foi actualizada tendo em conta a mais recente decisão do Comité Paralímpico Internacional

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