Movimento ambientalista contesta chegada de navio russo de gás a Sines

Navio Vladimir Vize partiu da Rússia poucas horas antes da invasão da Ucrânia e tem atracagem prevista para sábado às 11 horas, após alterações de calendário. Movimento Climáximo exige a rejeição do carregamento de gás.

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Miguel Manso

Quando o navio Vladimir Vize saiu do porto de Sabetta, na zona norte da Rússia, a 23 de Fevereiro, os ucranianos não sabiam que dentro de algumas horas seriam invadidos. Agora, com o ataque russo em pleno curso, o navio-tanque de gás natural liquefeito está ao largo do Porto de Sines com atracagem marcada para as 11 horas deste sábado – depois de várias mudanças de horário. Em comunicado, o movimento Climáximo, que se define como um colectivo que luta pela justiça climática, exige a “rejeição do carregamento de gás por parte da autoridade portuária”.

No comunicado, este movimento adianta que esta sexta-feira “mais de 450 organizações de sociedade civil mostraram o seu apoio a uma declaração lançada pelas organizações climáticas da Ucrânia, que exige a paragem imediata dos contratos de combustíveis fósseis com as empresas russas, com vista a acabar com a economia fóssil através de uma transição justa, bem como a proibição de qualquer importação de combustíveis fósseis da Rússia”.

Embora os produtos energéticos não estejam, pelo menos nesta fase, na lista de sanções, há várias companhias energéticas que já se afastaram do mercado russo. De acordo com o Financial Times, que citou esta semana uma análise da consultora Energy Aspects, a Rússia estava com dificuldades para encontrar clientes para 70% do seu petróleo.

De acordo com o Expresso, o cliente deste gás é a espanhola Naturgy. Em resposta a questões do PÚBLICO, fonte oficial do Porto de Sines recordou que as sanções à Rússia não abrangem produtos energéticos e que “eventuais alterações a esta situação devem emanar do Governo”, não cabendo à autoridade portuária “qualquer decisão”. O PÚBLICO enviou também questões ao Ministério dos Negócios Estrangeiros e à Naturgy, às quais aguarda resposta.

O Porto de Sines é ponto de entrada do gás natural liquefeito (GNL) em Portugal, que circula depois através da infra-estrutura da REN (o gás argelino que chega por gasoduto tem vindo a perder expressão).

A primeira vez que Portugal importou gás natural da Rússia foi em 2019, com 92 milhões de metros cúbicos, uma quantidade correspondente a 2% do total. Em 2020, o volume de abastecimento de gás russo subiu para 542,9 milhões de metros cúbicos, equivalente a 10% do total, mantendo-se nesse volume em 2021, de acordo com os dados da Direcção Geral de Energia e Geologia (DGEG), com chegadas de navios nos meses de Janeiro, Maio, Agosto e Outubro.

De acordo com os últimos dados da DGEG, referentes a Janeiro, não chegou GNL da Rússia, cabendo a primazia à Nigéria e aos EUA. Juntos, estes dois países representaram 98% do total das importações do gás natural (que foram residuais via gasoduto).

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