Brasil: ocaso político e a irresponsabilidade da elite

O que fazer quando as opções eleitorais variam entre o ruim e o pior? Temos uma elite brasileira omissa e pouco atuante nas justas causas da democracia e precisamos de mais energia cívica e participação efetiva.

Imagine, caro leitor, uma eleição polarizada entre a imoralidade orgânica e a estupidez contumaz. A hipótese, abstratamente considerada, representaria manifesto sinal de decadência democrática; agora, uma vez concretizada, estaremos diante da prova provada do deletério ocaso político brasileiro.

A situação é absolutamente preocupante. E, salvo a rara manifestação do espírito público superior – capaz de transpor questões e interesses pessoais em favor do bem do Brasil – a tendência é de que o pleito presidencial corra entre extremos estanques, sem qualquer possibilidade de construção equilibrada por preceitos da razão pensante e justa ponderação política. Logo, entre ódios, o voto será incapaz de produzir a paz.

Sim, o ano promete. O que está em jogo vai além da eleição do Presidente, governadores, senadores e deputados; por trás do teatro eleitoral, é o rumo futuro do país que está em xeque. Se decidirmos bem, será possível salvar o que ficou do Plano Real, atacando a sangria do gasto público desmedido, o fervor corporativista (estatal e privado) sobre os escassos recursos do povo, privatizando elefantes brancos e seus infindáveis cabides de emprego, acabando com a imoralidade de emendas parlamentares e fundos públicos partidários/eleitorais bilionários, fazendo a reforma administrativa, racionalizando o manicômio tributário para, entre outras medidas urgentes, retomarmos a capacidade de investimento estrutural que possibilite aos brasileiros o direito de efetivamente serem felizes e exercerem seus talentos individuais em favor de uma nação aberta ao progresso, ao desenvolvimento econômico e à livre iniciativa séria, trabalhadora e consciente de seu papel transformador.

Agora, se votarmos mal, os danos políticos serão catastróficos. Mas o que fazer quando as opções eleitorais variam entre o ruim e o pior? Aliás, por que dispor de um fundo público eleitoral R$5.000.000.000,00 (cinco bilhões de reais) – $1 bilhão de dólares americanos – para partidos políticos flagrantemente incompetentes em seu papel democrático institucional? Em outras palavras, por que alimentar uma besta acéfala e obesa que recorrentemente age contra os imperativos éticos de democracia política? Aí, alocamos mal recursos públicos escassos e, na época das chuvas, ocorrem tragédias lamentáveis como em Petrópolis/RJ, ceifando a vida de centenas de cidadãos inocentes. Tudo muito triste perante uma pantomima política real.

Como se vê, a urgência do momento é inegável. A gravidade da hora exige responsabilidade e compromisso cívico com o bem do Brasil. A diretriz é uma só: sem decência política é impossível tirar o povo do sofrimento, da fome e da pobreza coletiva. Aliás, não existe democracia digna com governos indecentes.

Infelizmente, os riscos de retrocesso são elevados; pululam aos olhos de todos. A recente lição da História parece soar incompreendida no sentido de que o populismo irrefreado é a semente da desorganização institucional, da ilicitude desbragada e da implosão das contas públicas nacionais. Foi visto que, enquanto a ciranda da dívida pública roda, os espertos fazem a festa, vivendo – entre discursos de fundo social e migalhas assistencialistas à massa – as fugazes e frenéticas alucinações do poder. Acontece que a cocaína do gasto público tem efeito limitado; passado o transe, a ressaca se apresenta com contratos dúbios, faturas impagáveis, parasitas por todo lado num corpo político moribundo, fulminado pela indignidade sistêmica. Na cena derradeira, um povo enganado afoga-se no endividamento familiar, no desemprego e na torrente inflacionária.

Ora, não precisamos reviver tais cenas lamentáveis. O passado, em sua pedagogia eloquente, deve ensinar o presente a fazer um futuro melhor. Logo, aquilo que foi, já era e lá deve ficar. Não precisamos cultivar mágoas nem revanchismos primários, mas temos o dever cívico de trilharmos novos e melhores caminhos. Aliás, antes de lateralizarmos esterilmente entre esquerda e direita, o Brasil precisa andar para frente.

As oportunidades são muitas e estão postas diante de nós. A tecnologia, a computação quântica e a inteligência artificial estão a remodelar profundamente as lógicas do poder global, seus players econômicos hegemônicos e as estruturas decisórias da geopolítica mundial. O jogo está sendo jogado, abrindo um leque de possibilidades àqueles que compreendem a complexidade da atual, dispondo de conhecimento e tato neste intrincado tabuleiro dinâmico.

O Brasil, no entanto, está completamente alijado dos jogos da primeira divisão mundial. E não joga porque não consegue formar um time minimamente capaz de fazer o enfrentamento. Embora com inúmeros talentos e promessas de base, nos contentamos em jogar campeonatos amadores, cujo prêmio é um latão de cerveja na quitanda da esquina. Convenhamos, merecemos mais. O problema é que nossa classe política – com exceções cada vez mais raras – quer que o sistema permaneça exatamente como está, pois os cartolas do poder jamais ganharam tanto dinheiro. Enfim, um país de miseráveis com uma política bilionária.

Aqui chegando, importante dizer que a culpa é da política, mas não só dela. O fato é que temos uma elite brasileira omissa e pouco atuante nas justas causas da democracia institucional. Precisamos, assim, de mais energia cívica genuína e maior participação efetiva daqueles que podem fazer a diferença positiva; precisamos dos melhores e mais preparados cidadãos trabalhando pelo Brasil; precisamos falar e não, simplesmente calar; precisamos agir e fazer, rompendo a inércia que nos faz menores. Ou seja, não basta apenas votar: a complexa democracia contemporânea exige compromisso diário com os assuntos políticos nacionais. Por tudo, se não assumirmos, com firmeza, nossa intransferível responsabilidade cívica pelo bem do Brasil, o ontem poderá voltar amanhã, pois o vazio do hoje é profundo e desolador.

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