“Os rapazes estão todos a dizer que vão para a guerra” na Ucrânia

Kateryna, que vive há 20 anos em Portugal, ainda espera que seja possível parar Putin, mas avisa: “É uma ameaça para o mundo todo”. Mais de 28 mil ucranianos vivem em Portugal.

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Katerina Maksymova vive em Portugal. Chegou da Ucrânia em 2001 DR

É verdade. Está mesmo a acontecer”, exclama Kateryna Maksymova depois de relatar o que lhe chegou da família que ainda vive na Ucrânia na manhã desta quinta-feira, quando a irmã ligou para uma prima e esta lhe transmitiu que estavam “a ouvir disparos”.

Kateryna, de 37 anos, é responsável por uma galeria de arte. Veio para Portugal em 2001. Na Ucrânia tem amigos e vários familiares. A prima é um deles. Contou ainda que “o marido, militar, já está em combate”. E deu conta ainda de que “os rapazes estão todos a dizer que vão para a guerra”.

Até esta madrugada, ela e a mãe ainda tinham esperança de que a invasão não fosse para a frente. Mas aconteceu. “Ainda estamos em choque. Temos tanta pena de quem lá está”, desabafa.

Por agora, ainda tem esperança de que os Estados Unidos e os outros países consigam parar Putin. E avisa: “Ele não se vai ficar pela Ucrânia. É uma ameaça para o mundo todo”.

Entretanto vai reafirmando o que ainda lhes pode dar alento: “A Ucrânia é um país independente e não uma espécie de extensão da Rússia. Temos a nossa língua, a nossa cultura”. Mas se Putin ganhar vai querer acabar com tudo, avisa. O passado na União Soviética assim o prefigura: “Sabemos como era.”

Mais de 28 mil ucranianos em Portugal

Segundo os últimos dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), em 2020 viviam em Portugal 28.629 cidadãos ucranianos, sendo a quinta comunidade de imigrantes mais numerosa. Antes da crise iniciada em 2008 eram mais de 100 mil, adianta-se numa informação patente no site da embaixada da Ucrânia em Portugal.

Onde se refere também o seguinte: “a redução significativa de cidadãos ucranianos em Portugal deve-se, gradualmente, não ao êxodo em massa do país, mas principalmente à aquisição da cidadania portuguesa e/ou aquisição de estatuto de residente permanente, o que, de jure et de de facto, faz com que sejam removidos da lista de estrangeiros”. Entre 2008 e 2020 obtiveram a nacionalidade portuguesa 29.329 ucranianos.

Kateryna já fez o ensino secundário em Portugal, na escola António Arroio que é a única escola artística da capital. É por viver cá desde tão jovem que diz isto: “Portugal é o meu país, mas a Ucrânia continua a fazer parte de mim”.

Vive em Lisboa com a mãe, Marita Vaskova, uma pintora que se apaixonou pela luz e cores da cidade, que se tornou protagonista de quase todos os seus quadros. Em Lisboa tiveram durante 10 anos uma galeria de arte que fechou com a pandemia, sobrevivendo agora no espaço virtual. Chama-se Running Elephant Gallery. No site deste espaço explicam assim a razão de tal nome: “Adoramos a sabedoria e a empatia dos elefantes” e também “nunca esquecemos as nossas raízes”.

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