Quo vadis?

Então na democracia só cabem os democratas de esquerda ou do centro-direita? E quem não é de esquerda nem de centro-direita, é expulso do regime?

Para onde vai a democracia portuguesa? A polémica sobre o Chega continua ao rubro. O Chega teve cerca de 400.000 votos nas últimas eleições, tornando-se a terceira maior força política em Portugal. É este facto que o establishment, hegemonizado pela esquerda, não lhe perdoa. A raiva é má conselheira. A gritaria é tal que parece que o destino de Portugal está dependente da eleição de Diogo Pacheco de Amorim para vice-presidente da Assembleia da República, como representante de um partido constitucionalmente habilitado a indigitar uma personalidade sua para ocupar esse honroso lugar.

Então na democracia só cabem os democratas de esquerda ou do centro-direita? E quem não é de esquerda nem de centro-direita, é expulso do regime? Eu não tenho direito de Cidade? É certo que o Chega é um partido problemático, não por ser de direita mas porque é de extrema-direita e abertamente populista. Irrompeu no espaço político nacional com incitações deliberadamente chocantes. Não tivesse sido esta táctica, e ninguém teria dado por ele. Mas criou-se um problema: quase 400.000 portugueses identificaram-se com as mensagens extremistas do Chega – ficarão todos excluídos da Cidade? É o que sugere a ideia de traçar em redor do Chega um cordão sanitário, como se o partido tivesse peste ou qualquer outra doença contagiosa.

E o extremismo só é permitido à esquerda? O Bloco e o PCP são partidos de extrema-esquerda – são extremistas e é sabido, porque a história o demonstra à exaustão, que a sua adesão à democracia é puramente interesseira, circunstancial, táctica. Por vontade destes partidos, se reinassem sem peias, já tínhamos saído da Europa, nacionalizado o grosso da economia, instaurado uma censura e, se necessário fosse, uma polícia política. São partidos que não têm no seu ADN nem o amor pela liberdade nem o amor pela democracia. E, no entanto, a nossa democracia acolheu-os, normalizou-os, integrou-os. Por que motivo há-de esta tolerância ser um privilégio da esquerda? Uma extrema-esquerda que nunca, mas nunca criticou a pesadíssima responsabilidade histórica pelos milhões de vidas ceifadas pelas mãos soviética e chinesa; e que nos nossos dias nunca se distanciaram de regimes ditatoriais ou mesmo totalitários como os que vigoram em Cuba, na Venezuela ou na Coreia do Norte.

Vivemos há muitos anos com uma extrema-esquerda portadora de uma ideologia antidemocrática e anticapitalista. Mais: que odeia os ricos, porque nunca percebeu que Portugal é tão pobre pelo simples motivo de que tem poucos ricos. Se mais houvesse – mas refiro-me a ricos em grande escala – teríamos mais e maiores empresas, mais e melhores empregos. O tecido económico português é largamente dominado por pequenas e microempresas que não têm meios para pagar salários decentes nem têm como horizonte a criação de mais riqueza. Isto, em si mesmo, é um produto do “analfabetismo” empresarial: o empreendedorismo nacional é muito ignorante, sofre de uma gritante falta de bons gestores, também um resultado da nossa ancestral pobreza.

Por vontade do PCP ou do Bloco, ambos marxistas-leninistas até ao tutano e que apenas colaboram com a democracia liberal circunstancialmente e hipocritamente, enquanto a História não recomeça a rodar em direcção à utopia comunista, o país continuaria com a sua antiga e ineficaz malha micro-empresarial ao passo que tudo o que é médio-grande seria nacionalizado. É por isso que nenhum destes partidos apresenta uma ideia clara e concreta sobre como desenvolver o país e retirá-lo da cauda da Europa, porque tal obrigaria a tirar a máscara e a exibir a sua verdadeira face estatista ao extremo. E, no entanto, os extremistas Bloco e PC estão integrados no sistema e são aceites por este com toda a cordura. Quando António Costa se recusa a falar com o Chega, alegando que é um partido tendencialmente extremista, tendencialmente fascista e abertamente racista, está a excluir da Cidade os perto de 400.000 cidadãos que votaram nesse suposto papão que estaria a preparar-se para tomar de assalto a nossa doce cidadela democrática. É isto a democracia?

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