Pedro Guimarães sobre o Tribunal de Gouveia, uma “casa da Justiça” para “unir espaços de cidade”

O podcast No País dos Arquitectos é um dos parceiros da Rede PÚBLICO.

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Palácio da Justiça de Gouveia José Campos
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O podcast No País dos Arquitectos está de regresso com uma terceira temporada. No 28.º episódio, Sara Nunes, da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures, conversa com o arquitecto Pedro Guimarães, do gabinete Barbosa & Guimarães, sobre o Palácio da Justiça de Gouveia (Guarda), concluído em 2011. Ao longo da entrevista, o arquitecto fala sobre como a arquitectura deve contribuir para uma cidade mais justa e reforça ainda a importância da manutenção dos edifícios para garantir a sua preservação e conservação.

Os arquitectos Pedro Guimarães e José António Barbosa usaram uma versão do modernismo clássico para alcançar a dignidade e o simbolismo que um edifício como o tribunal deve ter. A inscrição em latim que se encontra nos pilares – Domus Iustitiae – quer dizer “Casa da Justiça” e acrescenta o apelo “a uma cidade mais justa”. Como se remetesse para o culto sagrado, esta simbologia procura dignificar o tribunal, transmitindo quase a ideia de “uma justiça acima da nossa justiça”.

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Em diálogo com os muros de granito que definem a sua envolvente, actualmente a praça assume-se como um embasamento de pedra, sobre o qual repousa o Palácio da Justiça. Apesar de esta ideia da praça não constar inicialmente no programa, os arquitectos avançaram com a proposta para que a praça permitisse a transparência e a ligação entre os jardins, que fazem fronteira a norte e a sul. Através desta premissa, conseguiram a permeabilidade e fluidez do espaço público: “Antes de construirmos um edifício, há sempre a ideia de urbanidade, de fazer cidade. A nossa ideia foi, precisamente, construir a praça, (...) e unir espaços de cidade”, explica Pedro Guimarães.

O edifício pousa em quatro pilares e a sua fachada dobrada apresenta-se com “prismas de betão”, como se de um origami se tratasse. À medida que outros pormenores técnicos vão sendo revelados durante a entrevista, Pedro Guimarães conta uma pequena curiosidade sobre o edifício da sede da Vodafone, no Porto. Embora este último tenha sido concluído antes do Palácio da Justiça de Gouveia, a verdade é que a “Casa da Justiça” serviu como um “primeiro ensaio” para o edifício da Vodafone. Para além disso, ficamos a saber que a presença da geometria na fachada foi beber inspiração aos edifícios de cariz religioso e às fortificações antigas.

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A acrescentar ainda este carácter simbólico, o arquitecto reflecte sobre a evolução da tipologia da arquitectura judicial. Se outrora estes equipamentos eram facilmente reconhecíveis através dos seus materiais nobres – “com uma escala monumental para que as pessoas sentissem a sua pequenez humana quando entrassem nesses espaços” –, com o avançar dos anos, as edificações destinadas a albergar o exercício judicial “transformaram-se em edifícios banais”. No Palácio da Justiça de Gouveia, Pedro Guimarães e José António Barbosa quiseram “trazer essa carga simbólica” com espaços amplos e decorações cuidadas como “as pinturas, as esculturas e as tapeçarias”.

O Palácio da Justiça de Gouveia é acessível através de uma escada de generosas proporções, que se estende quase como um tapete até à entrada do edifício. Depois de passarmos pelo volume suspenso, no momento da subida, “os prismas de betão parecem aproximar-se de nós e provocam alguma tensão”. Construída também em betão, a escada representa o principal meio de acesso ao espaço interior, assumindo um forte protagonismo no edifício. Já o volume principal foi estruturado numa base hierárquica, apresentando a sala de audiências “no coração da volumetria”. Este espaço tem uma luminosidade significativa, proveniente de lanternins verticais.

Inspirados nos desenhos que os arquitectos Luis Moreno Mansilla e Emilio Tuñón fizeram no Auditório Municipal de León, o gabinete Barbosa & Guimarães procurou “escavar de forma angular” as vigas maciças – que garantem a estrutura do edifício – para que os vãos variem consoante o nível de privacidade que cada espaço precisa de ter: “Aqui tinha de ser respondida uma dualidade: por um lado pretendia-se ter luz natural; mas, por outro lado, a maior parte dos espaços exigiam recato e privacidade”. Este carácter de invisibilidade assume especial relevância na sala de audiências e seus gabinetes de apoio, nomeadamente as salas de magistrados, salas de testemunhas e secretaria judicial.

Quando a entrevista se aproxima do fim, o arquitecto lembra um aspecto menos positivo: a falta de manutenção dos edifícios públicos em Portugal. Esta ausência de intervenção leva a muitos problemas relacionados com a perda progressiva de funcionalidade por parte do edificado. Neste contexto, Pedro Guimarães dá o exemplo do próprio Palácio da Justiça de Gouveia que, apesar de ter sido concluído apenas há dez anos, tem agora a sua fachada com sujidade: “Durante a obra, aplicámos um protector de superfície. (...) Esse protector deveria ser aplicado de cinco em cinco anos, mas ninguém o fez”, lembra.

Tal como este, muitos outros edifícios, em Portugal, encontram-se sem as obras necessárias à manutenção da sua salubridade, segurança e arranjo estético. As acções preventivas contribuem não só para o prolongamento da vida útil dos edifícios, como também reduzem as despesas excessivas que as obras de emergência requerem. Se essas medidas não forem tomadas, Pedro Guimarães afirma que os arquitectos têm de começar a pensar “em soluções que sejam o mais isentas possível de manutenção, para prevenir que situações desta natureza aconteçam”.

No País dos Arquitectos é um dos podcasts da Rede PÚBLICO. Produzido pela Building Pictures, criada com a missão de aproximar as pessoas da arquitectura, é um território onde as conversas de arquitectura são uma oportunidade para conhecer os arquitectos, os projectos e as histórias por detrás da arquitectura portuguesa de referência.

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