Carta aberta de ex-alunos da Universidade de Pequim censurada pelas autoridades chinesas

Pediam uma investigação à actuação da polícia no caso de uma mulher, mãe de oito filhos, acorrentada pelo pescoço num armazém na província de Jiangsu que gerou muitos protestos.

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Protesto de estudantes universitárias contra a violência doméstica na China em 2012 Reuters/DARLEY SHEN

Um vídeo publicado na internet que mostra uma mulher, mãe de oito filhos, acorrentada pelo pescoço num armazém numa zona rural da província de Jiangsu gerou reacções e um protesto escrito de ex-alunos da Universidade de Pequim. A carta acabou, no entanto, censurada pelo Governo chinês após a sua divulgação.

Nas imagens divulgadas, a vítima aparece sem dentes e com roupas finas no rigoroso Inverno chinês. Não conseguia nem responder às perguntas de quem a filmava. O conteúdo tornou-se viral no Douyin (a versão local do TikTok).

Inicialmente, a polícia de Jiangsu, minimizou a gravidade da história e divulgou que a mulher era natural de Yunnan, no sudoeste do país, e tinha sido levada para Jiangsu em 1998 por um amigo que queria encontrar para ela uma “boa família e um bom casamento”.

À medida que mais dados foram desenterrados pelos internautas, descobriu-se que a mulher tinha sido traficada ainda nova.

A inépcia da polícia gerou uma onda de fúria online e offline, motivando a carta dos antigos alunos da prestigiada Universidade de Pequim.

O texto pedia uma investigação às autoridades locais envolvidas no caso e uma “abrangente revisão das leis nacionais de protecção às mulheres e crianças traficadas”; os alunos criticaram os relatos “cheios de inconsistências” da polícia local e exigiram uma “resposta firme” do governo central.

Mas a carta desapareceu das redes sociais chinesas pouco depois de ser publicada. Os posts foram substituídos pelo aviso padrão de censura: “Não é possível visualizar este conteúdo porque ele viola regras.”

A Universidade de Pequim (ou Beida, como é chamada pelos chineses) é conhecida pela natureza contestatária dos alunos. Foi no seu campus que começaram os protestos de 4 de Maio de 1919 contra o imperialismo estrangeiro e o da Praça Tiananmen, em 1989.

Mesmo assim, um desafio aberto e público ao governo central do país é raro. A reacção daqueles que são vistos na China como a elite académica nacional, mostra o quanto o caso teve repercussão na sociedade, com a preocupação cada vez maior da população em relação aos casos de feminicídio, violência de género e violência doméstica noticiados nos últimos anos.

Exclusivo PÚBLICO/Folha de S.Paulo

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