Entre os sete finalistas a Carro do Ano em Portugal, os eléctricos estão em maioria

Sinal dos tempos: em sete finalistas do Carro do Ano, prémio que será votado a 22 deste mês e revelado a 8 de Março, quatro automóveis 100% eléctricos e três híbridos. O vencedor sucede ao Seat León.

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Os sete finalistas: Cupra Born, Hyundai Ioniq 5, Kia EV6, Nissan Qashqai, Peugeot 308, Skoda Enyaq iV e Toyota Yaris Cross DR

Com o cerco às emissões a apertar, a electrificação do parque automóvel veio para ficar, com propostas cada vez mais adequadas às necessidades do dia-a-dia, sobretudo ao nível da autonomia, capaz de números similares aos automóveis com mecânicas movidas exclusivamente a combustíveis fósseis. Por isso, não é de admirar que também a imprensa especializada se tenha vindo a render à tecnologia de baterias: prova disso é a prevalência de carros eléctricos nos vários prémios nacionais e globais, não tendo sido Portugal uma excepção: entre os sete finalistas ao troféu Volante de Cristal há quatro propostas movidas a bateria. As outras três oferecem soluções mild-hybrid, full-hybrid e plug-in.

Dos 22 candidatos a Carro do Ano 2022, o júri, composto por 20 jornalistas que acompanham o sector para os respectivos órgãos de comunicação social, escolheu destacar, por ordem alfabética, Cupra Born, Hyundai Ioniq 5, Kia EV6, Nissan Qashqai, Peugeot 308, Skoda Enyaq iV e Toyota Yaris Cross, numa selecção que deixa adivinhar uma luta renhida em algumas classes: Cupra Born, Hyundai Ioniq 5, Kia EV6 e Skoda Enyaq iV lutam pelo prémio Eléctrico do Ano; Nissan Qashqai e Toyota Yaris Cross são dois candidatos ao troféu de Híbrido; e Peugeot 308 e Skoda Enyaq iV estão na lista para Familiar do Ano. E, para perceber o que está a lutar por quê, passamos em revista os sete magníficos de 2022.

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Cupra Born, eléctrico com alma

Construído sobre a mesma base do Volkswagen ID.3, com o qual partilha plataforma, também é um hatchback de cinco portas e cinco lugares, mas distingue-se por uma aparência mais emocional e afinações que lhe permitem reclamar o estatuto de desportivo (não à toa, a marca inscreveu o carro também nesta classe onde compete com Hyundai i20 N, Hyundai Kauai N e Peugeot 508 PSE). Para tal, vários elementos foram ajustados de forma a tornar o carro mais magro e, assim, aparenta ser mais rápido, ainda que o tempo que precisa para ir de 0 a 100 seja o mesmo do irmão da Alemanha: 7,3 segundos. Além disso, a altura ao solo é mais baixa (15mm na frente e 10mm atrás), aproximando o condutor do chão, o que cria a sensação de condução tipo kart, e a direcção foi trabalhada para ser ainda mais precisa, usufruindo de um sistema de direcção progressiva. Na altura de travar, o Born mostra que não há nada a temer, agarrando-se com competência ao asfalto. Por dentro, dá cartas uma certa serenidade, com um tablier bem arrumado e um interior que recorre a materiais agradáveis ao toque (e, noblesse oblige, há a opção de equipar o automóvel com tapetes e bancos revestidos com um material criado a partir de lixo marinho reciclado). A gama será composta por uma bateria com três capacidades distintas (de 45, 58 e 77 kWh), mas a unidade submetida a concurso é a solução intermédia, equipada com bateria de 58 kWh, capaz de debitar uma potência equivalente a 204cv. Os preços arrancam nos 38.865€.

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Hyundai Ioniq 5, o grande hatch

Pode parecer um SUV, mas na verdade o eléctrico sul-coreano foi concebido para reconquistar a paixão pelos cinco portas, ainda que se apresente como um gigante, com uma distância entre eixos de três metros, capaz de potenciar uma habitabilidade muito acima da média: neste carro, é até possível fazer uma paragem para descansar, com os bancos dianteiros a rebaterem totalmente, ao mesmo tempo que um apoio para as pernas se estende, qual lugar de avião de primeira classe. Já quem se senta atrás tem a mesma sensação que teria numa grande limusina, sobretudo ao nível das pernas — e o piso plano faz com que nos sintamos mesmo como numa sala de estar. A versão de entrada de gama do Hyundai Ioniq 5 está equipada com uma bateria de 58 kWh e um motor de 125 kW (170cv), que alimenta as rodas traseiras e lhe permite acelerar de 0 a 100 km/h em 8,5 segundos, com uma velocidade máxima limitada a 185 km/h, mas nas classes foi submetida a proposta também de tracção traseira, mas com bateria de 73 kWh e motor eléctrico de 160 kW ou 218cv (aceleração 0-100 km/h em 7,4 segundos), sendo este capaz de percorrer 692 quilómetros sem o ligar à corrente uma única vez, quando a condução se faz em cidade. Para esta versão, o preço, com campanha, arranca nos 50.990€. Nas classes, o Ioniq 5 está inscrito para eléctrico do ano, a categoria mais concorrida, onde estão também Cupra Born, Dacia Spring, Ford Mustang Mach-E, (o irmão) Kia EV6, Opel Mokka-e, Skoda Enyaq iV, Toyota Mirai e Volkswagen ID.4.

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Kia EV6, o coreano europeu

Irmão do Hyundai Ioniq 5, o Kia EV6 apresenta-se com um corpo que brinca entre as linhas de um SUV e de um coupé convencional, sendo um carro maior do que parece, com quase 4,7 metros e cotas de habitabilidade muito generosas, admitindo que qualquer pessoa a bordo se sinta confortável, a ponto de competir com os espaçosos Skoda (ainda que não atinja os 585 litros da mala do Enyaq, consegue, entre o compartimento dianteiro e a mala, oferecer entre 500 e 542 litros). Com bateria de 77,4 kWh e um motor de 168 kW (229cv), mostra-se capaz de, em circuito misto, circular cerca de 500 quilómetros com uma única carga, mas, na cidade, com pé leve, pode facilmente registar em torno de 700 quilómetros. Visualmente, a Kia conseguiu um carro que enche o olho, ao mesmo tempo que foi capaz de o dotar com um interior que nos remete para um mundo tecnológico, com destaque para um novo ecrã táctil curvo, de 12,3 polegadas, bem no centro do tablier, com uma excelente resolução e gráficos que tornam o sistema fácil de usar (ainda que nos pareça que podia ser mais rápido). Já a qualidade geral é muito aceitável, sobretudo se avaliada de uma perspectiva do equilíbrio entre aquela e o preço: o EV6 comercializa-se desde 50.250€, mas uma campanha de lançamento permite adquirir a versão mais básica a partir de 43.950€ (a GT Line, de 58.050€, está a ser proposta por 51.550€). E é importante referir que não é usada pele de animais, sendo os interiores revestidos a materiais veganos. Em destaque, a garantia de sete anos (ou 150 mil quilómetros).

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Nissan Qashqai, trunfos reforçados

Foi em 2007 que a Nissan inaugurou com o Qashqai a moda dos sport utility vehicle. Catorze anos depois, chegou a terceira geração com pretensões de voltar a reclamar o sucesso das duas primeiras vidas. Assente na plataforma CMF-C da Aliança, o Qashqai traz mais rigidez na torção, ao mesmo tempo que surge mais magro em cerca de 60 quilogramas, destacando-se ainda por ter abandonado definitivamente o gasóleo. Em vez disso, são propostas mecânicas a gasolina mild-hybrid, já disponíveis, com 140 (desde 32.450€) e 158cv (desde 35.250€), sendo a última aquela que foi submetida a concurso nas classes Híbrido e SUV Compacto. Gerido por uma caixa de variação contínua Xtronic com equipamento Tekna+ (a partir de 43.950€), o apoio eléctrico quase passa despercebido, ainda que faça a diferença quer nos consumos, quer nas emissões de gases poluentes. As prestações não tiram o fôlego a ninguém (acelera de 0 a 100 km/h em 9,2 segundos), mas isso não significa que não revele competência em quaisquer situações e traçados, algo que pode ser fruto de um binário de 270 Nm entre as 1800 e as 3750rpm. Por outro lado, no conforto, a Nissan consegue dar cartas, tendo acertado no equilíbrio entre a rigidez associada à estabilidade e a suavidade, ao mesmo tempo que a qualidade de construção e montagem dos interiores parece estar alguns patamares acima da última geração. Outro aspecto que deverá ser valorizado é a segurança: cinco estrelas nos testes Euro NCAP, tendo conseguido mesmo o título de melhor na classe dos SUV compactos.

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Peugeot 308, o (novo) tradicional

Um cinco portas entre um mar de SUV: a Peugeot continua a apostar com força no seu familiar compacto que, no fim de 2021, chegou à sua terceira geração e que tem a missão complicada de se destacar entre um conjunto muito forte: Opel Astra, Seat León​, Skoda Octavia ou Volkswagen Golf… De visual marcante, o francês destaca-se pelo facto de propor na sua gama mecânicas para todos os gostos: há gasolina, gasóleo, híbridos de ligar à corrente. No mercado português, a Peugeot julga que as duas versões híbridas de ligar à corrente serão as mais bem-sucedidas: uma que recorre ao 1.6 PureTech de 150cv para uma potência combinada de 180cv (a partir de 34.800€) e outra, com ambições dinâmicas, de 225cv (desde 41.850€), que faz uso do mesmo motor a gasolina na declinação de 180cv, versão inscrita nas classes Familiar e Híbrido Plug-in. Com uma autonomia eléctrica de cerca de 60km (valor WLTP), mais do que o suficiente para uma utilização diária do condutor europeu médio, é importante notar que, mesmo após esgotada a bateria, os consumos se mantêm em valores de 6,0 litros. Outro ponto relevante de apontar é o trabalho ao nível das suspensões, que admitem um bom nível de conforto a todos os ocupantes, independentemente do tipo de piso. Em suma: o 308 é um carro muito fácil de se conduzir, que oferece um bom equilíbrio entre aderência e suavidade, faltando-lhe ainda o eléctrico entre a gama (chegará em 2023) para se dizer que é um carro do seu tempo.

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Skoda Enyaq iV, o racional

A plataforma é a mesma do Volkswagen ID.4, mas, cumprindo as premissas da Skoda, o Enyaq iV distingue-se pela racionalidade, pelo imenso espaço, com bagageira XXL, boa versatilidade, uma segurança premiada (melhor na classe dos SUV grandes lançados em 2021, segundo o Euro NCAP) e, claro, preço competitivo: apresenta-se a partir de 38.776€ (o 50, de 150cv, com bateria para rolar 362 quilómetros). No entanto, a versão submetida a concurso, tanto entre os eléctricos como entre os familiares, foi a 80 de 204cv e autonomia para mais de 500 quilómetros, proposta a partir de 49.683€. Importante, porém, esclarecer que, não obstante os seus mais de 200cv, este não é automóvel para explorar de forma mais fervorosa, potenciando uma condução tranquila e despreocupada, ao longo da qual, não fosse o silêncio, mal se dá conta que se está num eléctrico. Ainda assim, como acontece com qualquer eléctrico, a aceleração é rápida nos primeiros metros, a direcção mostra-se precisa o suficiente e as suspensões conseguem uma satisfação razoável. Como costume na marca checa, há uma série de soluções simples, mas que facilitam a vida dos utilizadores dos seus veículos, desde um compartimento na porta para arrumar o guarda-chuva até um pequeno caixote de lixo. No caso do Enyaq, destaque para se poder equipar o carro com encostos para a cabeça tipo almofada, o que deverá ser um sucesso para quem se senta atrás. A completar os mimos no capítulo do conforto, há opção de incluir bancos com função de massagem. Para o condutor, de referir a possibilidade de gerir a posição do banco em altura, capaz de agradar tanto quem aprecia uma postura elevada como quem prefere sentir-se mais colado ao piso.

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Toyota Yaris Cross, aventureiro urbano

A partir de uma base de sucesso — o Yaris foi Citadino do Ano em Portugal e Carro Internacional do Ano —, a Toyota fez nascer o Yaris Cross, desenvolvido para a Europa e tendo os clientes europeus sempre em mente. O resultado é um automóvel compacto e dinâmico para sobressair na lufa-lufa de todos os dias na cidade e versátil q.b., dentro do espírito aventureiro que se espera de um sport utility vechicle (SUV). No design, destacam-se as linhas elegantes e vincadamente urbanas, casando-as com traços que remetem para a robustez necessária para quando se pretende ir um pouco mais além do asfalto. Assente sobre a plataforma GA-B para modelos compactos (que faz parte da estratégia Toyota New Global Architecture), o Yaris Cross revela ser capaz de ter prestações rápidas, com respostas adequadas em situações urbanas, mas também fora do perímetro da cidade (ou mesmo quando nos atrevemos a levá-lo para fora de pé, que é como quem diz, para longe do alcatrão) sem que o ponteiro do nível de combustível desça muito rapidamente. No interior, é possível observar o mesmo cuidado com que o irmão mais pequeno foi trabalhado, quer nos materiais, quer na construção, havendo alguns detalhes que lhe imprimem uma identidade única. Na mala, há 397 litros de volume de carga disponíveis, que podem crescer, com as costas dos bancos traseiros rebatidas (em 60/40 de série ou na proporção de 40/20/40 nas versões mais equipadas), até um máximo de 1097 litros. Os preços deste também candidato a Híbrido do Ano arrancam nos 24.390€.

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