Mulher ficou curada do VIH depois de um novo tratamento

O caso desta mulher envolveu a utilização de células estaminais do sangue do cordão umbilical, uma nova abordagem que pode tornar o tratamento disponível para mais pessoas.

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Vírus da sida (a amarelo) e linfócito T, uma das células defendem o organismo de agentes patogénicos NIAID

Uma doente norte-americana parece ter ficado curada do VIH depois de ter recebido um transplante de células estaminais de um dador que era naturalmente resistente ao vírus que causa a sida, foi anunciado esta terça-feira. O caso desta mulher foi apresentado na Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas, em Denver (Estados Unidos), e envolveu a utilização de sangue do cordão umbilical, uma nova abordagem que pode tornar o tratamento disponível para mais pessoas.

Além de VIH, a mulher também tinha leucemia. Desde que recebeu o sangue do cordão para tratar a sua leucemia mielóide aguda (um cancro que que afecta a medula óssea), a mulher esteve em remissão e livre do vírus durante 14 meses – isto sem que fosse necessário nenhum tratamento contra o VIH, a conhecida terapia anti-retroviral.

Os dois primeiros casos deste género aconteceram em homens, que receberam células estaminais adultas, o que é frequentemente usado em transplantes de medula óssea. “Este é agora o terceiro relato de uma cura neste contexto, e o primeiro numa mulher que vivia com VIH [utilizando especificamente células estaminais do sangue do cordão umbilical]”, afirma Sharon Lewin, presidente da Sociedade Internacional de Sida, em comunicado. Os outros dois casos pertencem ao “Paciente de Berlim”, Timothy Ray Brown, que ficou livre do vírus durante 12 anos até morrer em 2020 de cancro. Em 2019, outro doente, depois identificado como Adam Castillejo, também ficou curado.

No ano passado, uma equipa de cientistas também apresentou os resultados de um estudo publicado na revista Archives of Internal Medicine sobre a “paciente Esperanza” infectada com VIH que conseguiu que o próprio sistema imunitário eliminasse o vírus. Depois de Loreen Willenberg, o caso de Esperanza era o segundo documentado de uma pessoa infectada com VIH em que se provou que tinha um sistema imunitário capaz de se livrar do vírus.

O caso da mulher relatado esta semana faz parte de um grande estudo liderado por Yvonne Bryson (da Universidade da Califórnia em Los Angeles) e por Deborah Persaud (da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore). Este trabalho pretende seguir 25 pessoas com VIH que foram submetidas a um transplante com células estaminais retiradas do sangue do cordão umbilical para tratamento de cancro ou outras doenças graves.

No primeiro ensaio, os doentes têm de fazer quimioterapia para matar as células imunitárias cancerosas. Depois, a equipa médica transplanta as células estaminais de indivíduos com uma mutação genética específica que faz com que lhes faltem receptores usados pelo vírus para infectar as células. A equipa acredita que esses indivíduos desenvolvem um sistema imunitário resistente ao VIH.

Sharon Lewin refere que os transplantes de medula óssea não são uma estratégia viável para curar a maioria das pessoas com VIH, mas o relato deste caso “confirma que uma cura para o VIH é possível e, além disso, fortalece o uso da terapia genética como uma estratégia viável para a cura do VIH”, considerou.

Este estudo sugere que um importante elemento para o sucesso do tratamento é o transplante de células resistentes ao VIH. Anteriormente, os cientistas pensavam que um efeito secundário comum do transplante de células estaminais chamado “doença de enxerto contra o hospedeiro” – em que o sistema imunitário do dador ataca o sistema imunitário de quem recebe o transplante – teria um papel numa possível cura. “Todos juntos, esses três casos de uma cura após o transplante das células estaminais ajudam a deslindar os vários componentes do transplante que foram a chave para a cura”, nota Sharon Lewin.

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