Portugueses consumiram menos 25,6 toneladas de sal e menos 6256 toneladas de açúcar em três anos

Em causa estão os efeitos da reformulação de vários produtos alimentares e mudanças de consumo entre 2018 e 2021. Primeiros resultados do protocolo assinado entre a DGS e as associações do sector da distribuição e da indústria alimentar mostram que cerca de 50% das categorias de produtos abrangidos pelo acordo já alcançaram as metas traçadas para o final deste ano.

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Muitos produtos passaram a conter menos sal e menos açúcar e os consumidores fizeram escolhas mais ponderadas Nelson Garrido

Nos últimos três anos, os portugueses terão consumido menos 25,6 toneladas de sal e menos 6256 toneladas de açúcar, revela o primeiro relatório de avaliação do protocolo assinado entre a Direcção-Geral da Saúde, através do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS), a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) e Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares (FIPA). Uma redução que se deveu à reformulação de vários produtos alimentares, com reduções de sal e açúcar, e a mudanças de consumo. Segundo o documento, divulgado esta terça-feira, cerca de 50% das categorias de produtos abrangidas pelo acordo já cumpriram as metas que estavam definidas para este ano.

O protocolo assinado em 2019 abrange “cerca de 56% das categorias de alimentos definidas no âmbito da redução do teor de sal (batatas fritas e outros snacks salgados, cereais de pequeno-almoço, sopa pré-embalada pronta a consumir, pão e refeições pré-embaladas prontas a consumir) e 33% das categorias de alimentos definidas no âmbito da redução do teor de açúcar (cereais de pequeno-almoço, iogurtes, leite achocolatado, néctares de fruta e refrigerantes)”. Dentro de cada uma destas categorias, o objectivo foi “promover a reformulação e monitorizar os produtos alimentares que representavam pelo menos 80% do consumo”.

A maioria das metas do PNPAS a atingir foram definidas para o final de 2022: reduzir em 10% a média da quantidade de sal e de açúcar e diminuir a quantidade de ácidos gordos “trans” para menos de 2% no total de gorduras disponibilizadas à população. Usaram-se como referência “os valores baseline, os dados de 2018 relativos à composição nutricional dos produtos alimentares”. A monitorização ficou a cargo da empresa NielsenIQ, uma entidade independente que fez avaliações da evolução em 2019, 2020 e 2021.

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“De acordo com os dados relativos à monitorização dos teores de sal e de açúcar dos produtos alimentares, entre 2018 e 2021, verificou-se uma redução global de 11,5% e de 11,1% na média ponderada do teor de sal e de açúcar por cada 100 gramas de alimento (g/100 g), respectivamente, nos produtos abrangidos nos compromissos para a reformulação dos produtos alimentares”, lê-se no relatório que resume o impacto. “No global, estima-se que, entre 2018 e 2021, o volume total de sal e de açúcar dos alimentos abrangidos por este protocolo reduziu-se em cerca de 25,6 toneladas de sal e 6256,1 toneladas de açúcar.”

Para a directora do PNPAS Maria João Gregório, estes resultados são vistos como “muito positivos” e mostram que “houve um progresso assinalável durante o período de 2018 a 2021”, que aconteceu juntando duas variáveis: a redução do teor de sal e açúcar por parte dos fabricantes e as escolhas do consumidor, explica ao PÚBLICO.

A responsável destaca como uma das componentes mais “importantes e inovadoras” do acordo a existência de “um sistema de monitorização robusto e o envolvimento de uma entidade independente que permite verificar que esta reformulação está a acontecer” nos produtos mais vendidos dentro de cada categoria. “Com este modelo, estamos a monitorizar os produtos que representam cerca de 80% do volume total de vendas em Portugal”, acrescenta. Estão abrangidos 899 produtos das categorias avaliadas neste relatório.

Evolução não foi igual em todas as categorias

Maria João Gregório destaca que, face às metas definidas para o final deste ano, “neste momento, temos cerca de 50% das categorias que já atingiram ou ultrapassaram a meta”. Em algumas, como os néctares, refeições pré-embaladas e sopas, as metas a atingir foram definidas para o final de 2023.

Apesar do resultado global positivo, a evolução na redução dos teores de sal e de açúcar não foi igual em todas as categorias durante o período em análise. No caso do sal, o relatório refere que a diminuição “foi mais expressiva nos produtos alimentares da categoria das pizzas (em 2021 registou-se uma diminuição de 22,3% do teor de sal, face a 2018)”. E destaca que quer esta categoria, quer a dos “cereais de pequeno-almoço” “já atingiram a meta de redução do teor de sal definida para o ano de 2022”.

Quanto ao açúcar, “verificou-se um decréscimo mais acentuado na categoria dos ‘refrigerantes’, quando comparado com as restantes categorias de alimentos, tendo-se verificado uma estabilização relativamente ao teor de açúcar na categoria dos ‘néctares’”. “Destaca-se que três das categorias abrangidas neste acordo (“refrigerantes’, ‘leite achocolatado’ e ‘iogurtes’) já atingiram a meta de redução do teor de açúcar definida para o ano de 2022”, sinaliza o relatório.

Sobre as diferentes evoluções, Maria João Gregório explica que “há categorias em que a reformulação é mais complexa”, dando o exemplo dos néctares. “Por outro lado, este sistema também monitoriza alterações que acontecem no mercado e transferência de consumo de umas bebidas para outras. Se existir uma preferência por bebidas que tenham um maior teor de açúcar, ainda que exista uma redução do teor médio de açúcar, podemos não ver uma redução na média ponderada”, diz, considerando que esta pode ser uma das explicações para a estabilização dos valores na categoria dos néctares.

Relativamente a passos futuros, a directora do PNPAS refere que os caminhos são dois. Por um lado, “continuar este trabalho e com metas mais ambiciosas para algumas das categorias que já fazem parte do acordo”. “Devemos olhar para os cereais de pequeno-almoço, iogurtes e leites fermentados no que respeita ao teor de açúcar. Em relação ao sal, provavelmente as sopas serão uma das categorias que iremos continuar a trabalhar no futuro”, diz. E querem alargar a iniciativa a outros produtos como o queijo, charcutaria, bolachas, biscoitos e alimentos para bebés.

O plano passará por um novo acordo com os parceiros. “É muito importante termos metas definidas, um sistema de monitorização e ter os parceiros do sector alimentar – a indústria e a distribuição – envolvidos no processo. São eles que podem operacionalizar esta mudança. Este trabalho de articulação continuará a existir. Iremos desde já iniciar este diálogo e tentar que um novo protocolo seja formalizado tão breve quanto possível”, diz.

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