Que não seja uma oportunidade perdida

O plano tem de ir mais longe e permanecer em articulação com propostas de envolvimento e desenvolvimento profissional docente, modelos pedagógicos inovadores, avaliação de aprendizagens, flexibilidade curricular, educação inclusiva, organização e liderança.

Foto
"Um professor que possibilite uma integração do digital nos seus currículos (...) não seja julgado pelo trabalho que está a desenvolver" Marco Bento

A Comissão Europeia definiu o Plano de Ação para a Educação Digital (2021-2027) com os objetivos de promover uma educação digital de qualidade, inclusiva e acessível a todos, em toda a União Europeia. Este plano visa reforçar a cooperação a nível europeu e reconfigurar a educação e a formação para uma era digital. Além disso, pretende que sejam utilizadas experiências na utilização da tecnologia para fins educativos, que tenham decorrido da pandemia covid-19. Este é um ponto central, já que visa a melhoria dos sistemas educativos, apoiando o processo de integração digital e o desenvolvimento dos métodos pedagógicos no ensino e aprendizagem, com a consciência de cada país reforçar as infraestruturas necessárias.

Assim, também o Governo português, com a Resolução n.º 30/2020 do Conselho de Ministros, aprovou o Plano de Ação para a Transição Digital que previu o Plano de Ação para o Desenvolvimento Digital das Escolas (PADDE) e o Plano de Capacitação Digital de Docentes, decorrente dos resultados de um inquérito realizado a nível europeu, posicionando os professores num determinado nível de competências, de acordo com o Quadro Europeu de Competências Digitais para Educadores.

Uma proposta como o PADDE deveria estar, de facto, a intervir nas diferentes áreas da organização escolar, nomeadamente, na mais visível, a área das tecnologias digitais, desde as (i) infraestruturas, rede de internet com capacidade e fluidez, segurança da mesma, pontos de acesso por todo o espaço e pontos de carregamento energético nos espaços educativos. Os (ii) equipamentos, designadamente, computadores e diferentes tipologias em diferentes graus de ensino, acessórios informáticos, routers de acesso, software aberto e plataformas de gestão pedagógica institucional. Por fim, os (iii) recursos humanos, fundamentais para a gestão dos recursos digitais, que não pode ficar ao critério da carolice de professores, que têm uma componente que deve ser apenas pedagógica e não dispor desse tempo para fins técnicos. As escolas, ao terem técnicos especializados na gestão do parque informático, libertam pais e professores de um problema sistemático no uso de tecnologia na educação.

Porém, o plano tem de ir mais longe e permanecer em articulação com propostas de envolvimento e desenvolvimento profissional docente, modelos pedagógicos inovadores, avaliação de aprendizagens, flexibilidade curricular, educação inclusiva, organização e liderança. Na componente da formação digital dos professores, além das competências e literacias digitais, deve promover e combinar, definitivamente, práticas profissionais e pedagógicas em que a utilização da tecnologia e dos recursos educativos digitais abertos, causem uma transformação na vida escolar e no processo de ensino e aprendizagem. Estes são processos morosos e que envolvem muita paciência, predisposição e compreensão pela sociedade. Não se pretende um corte radical com o que se pratica atualmente, mas uma integração, sem receios.

É neste sentido, que um professor que possibilite uma integração do digital nos seus currículos, que inclua inovação pedagógica nas suas práticas, seja com a sua turma, na sua escola ou num município, não seja julgado pelo trabalho que está a desenvolver. Que estes professores e estas turmas, ainda que poucas, não sejam sentenciados, sem fundamentos, pela utilização do digital na forma como evoluem na aquisição de competências nas aprendizagens, no desenvolvimento da literacia e segurança digital, mas também por toda a transformação no processo de ensino que se vai tornando cada vez mais evidente, nas suas dimensões pedagógicas. Esta é uma tendência europeia e mundial, que no caso destes professores e turmas, foi antecipada bem antes desta pandemia.

Foto
Marco Bento

Apelamos aos pais e encarregados de educação que permitam que a Escola faça o seu trabalho de aprendizagem ao longo da vida, de formação inclusiva de elevada qualidade para todos. A educação com o digital contribui para o desenvolvimento da cidadania, na qual se inclui, o digital. Inclui abordagens críticas da informação, que permite aos alunos navegar num mundo digital e desenvolver uma compreensão dos valores básicos da democracia e da liberdade na sua expressão escrita e digital. Que os computadores e acessos de conexão que estão a ser entregues a cada aluno, não sejam motivo de discórdia ou rejeição, mas de compreensão e uso nestas abordagens pedagógicas.

Existe o falso entendimento, por parte de escolas, professores e pais, de que esta tecnologia apenas serve a escola a distância ou os confinamentos durante a pandemia, mas, na verdade, é a oportunidade de aprender diferentes contextos, informações, combinando fontes e produção de conteúdo em tempo real, de forma colaborativa e interativa, de forma individual ou coletiva. Para tal, aproveitemos as oportunidades que esta Escola digital nos está a oferecer, compreendendo as novas formas de aprender, permitindo aos professores aplicarem as suas abordagens pedagógicas. A sociedade está em franca e rápida transformação, levando a que essa também se note na escola, e o normal é o processo natural e evolutivo de um ecossistema. Que não seja uma oportunidade perdida!


O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

Sugerir correcção
Comentar