“Dependência da Europa do gás natural russo é extremamente complicada”

O economista Abel Mateus considera que a dependência europeia do gás russo é “um problema gravíssimo”, para o qual não antevê “solução no curto, nem no médio prazo”, numa altura em que os preços da energia dispararam na zona euro.

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Abel Mateus é o actual presidente do conselho consultivo da SEDES – Associação para o Desenvolvimento Económico e Social JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Abel Mateus, economista e ex-presidente da Autoridade da Concorrência, revela-se apreensivo com a dependência europeia do gás russo, não antevendo uma solução no médio prazo.

“Esta dependência da Europa do gás natural russo é algo extremamente complicado, que está a ser utilizado pela Rússia não só em termos de subida de preços, mas também em termos políticos e geoestratégicos”, afirma o economista em entrevista à Lusa.

O actual presidente do conselho consultivo da SEDES – Associação para o Desenvolvimento Económico e Social considera que este é “um problema gravíssimo”, para o qual não antevê “solução no curto, nem no médio prazo, porque é um problema de 10, 15 anos e a Europa ainda não pensou como é que vai resolver a questão”.

Questionado sobre a subida dos preços da energia, que tem contribuído para o aumento da inflação na zona euro, Abel Mateus acredita que poderá haver uma descida este ano, mas alerta também para o impacto de “toda a política ambiental de descarbonização da Europa acelerada em relação ao resto do mundo”.

“[A política de descarbonização] implica que neste período de transição de 20 ou 30 anos tem de ser assente em grande parte no consumo de gás natural”, assinala.

A escalada de tensão entre a Rússia e a Ucrânia está a levantar preocupações sobre o fornecimento de gás russo à Europa, numa altura em que os preços da energia dispararam na zona euro.

Recentemente, a Comissão Europeia estimou que os preços energéticos, nomeadamente da luz e do gás, estejam “perto do pico” na União Europeia (UE), esperando uma estabilização a partir de meados deste ano, quando deverá também aliviar a inflação.

“Os preços da energia estão a flutuar a um nível elevado, mas os indicadores demonstram que o pico está próximo”, prevê o executivo comunitário, nas previsões macroeconómicas intercalares de Inverno publicadas em 10 de Fevereiro.

Em altura de crise energética, motivada pelos problemas de fornecimento e pelas tensões geopolíticas, Bruxelas aponta no documento que “os preços da energia continuarão a ser um motor fundamental da dinâmica da inflação em 2022”.

“Apesar da estabilização esperada nos preços grossistas do gás a partir do segundo trimestre, é provável que a inflação face aos preços do gás no consumidor atinja o seu pico médio apenas em meados do ano, uma vez que os aumentos passados continuarão a reflectir-se até lá”, assinala a instituição.

E, segundo a Comissão Europeia, “é provável que a trajectória da inflação no gás seja positiva até meados de 2023, embora em desaceleração”, prevendo-se para depois “uma forte redução”.

Tendência semelhante prevê a instituição relativamente aos preços da electricidade, ainda que “as oscilações para o lado positivo como para o lado negativo devam ser menos pronunciadas”, explica.

No que toca ao Brent, “dada a rápida aplicação dos preços do petróleo aos preços na bomba, a inflação dos combustíveis – medida em variação homóloga – deverá diminuir gradualmente e desvanecer-se nos próximos 12 meses, assumindo que a ampla estabilização implícita se concretiza”, projecta ainda a Comissão Europeia.

O aumento dos preços grossistas da energia tem sido o principal motor da recente subida dos preços ao consumidor e, consequentemente, da inflação em toda a UE.

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