Vox exige ao PP entrar no governo de Castela e Leão

Casado resiste, por agora, ao cenário que quase todos vêem como inevitável. Líder do PP na região admite todas as opções. Autarca do PSOE defende abstenção para permitir ao partido governar sem a extrema-direita.

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Os sorrisos de Santiago Abascal e de Juan García-Gallardo, depois da divulgação dos resultados EPA/PABLO REQUEJO

O Vox sentiu-se menorizado pelo Partido Popular, de Pablo Casado, e agora que se tornou necessário, e pela primeira vez se vê em posição de integrar um governo regional, está decidido a ajustar contar: mal os resultados das eleições autonómicas antecipadas em Castela e Leão foram conhecidos, Santiago Abascal disse querer ver o seu candidato na vice-presidência da região. O próprio candidato, Juan García-Gallardo, afirma que não quer começar por debater cargos, mas programas, e tem duas exigências mínimas – por um lado, quer ver anulado o decreto que regula a Lei da Memória História na comunidade; por outro, exige o enterro da lei autonómica contra a Violência de Género.

“Nós vamos fazer valer os nossos votos”, sublinhou Gallardo esta segunda-feira, defendendo que o seu partido não vale “nem mais nem menos” do que outros. No passado, diferentes formações entraram em governos com menos representação, recorda. Com um resultado acima do que antecipavam as sondagens, o Vox somou 17,64% dos votos e elegeu 13 deputados, atrás apenas do PP (31 eleitos, com 31,43%) e do PSOE (28 lugares e 30,05%). O partido de extrema-direita, que elegera apenas um deputado em 2019, ultrapassa mesmo os 16,67% que obtivera em Castela e Leão nas últimas legislativas.

As eleições provocadas por Gallardo para obter a maioria absoluta, beneficiando do declínio do seu sócio de coligação, o partido Cidadãos (que consegue manter um deputado dos 12 que elegera), acabaram por produzir a vitória mais agridoce do PP em muito tempo. É verdade que vence – perdera para o PSOE em 2019, e só formou governo graças à coligação – mas abdica de uma aliança estável e fica refém da extrema-direita.

A nível nacional, a vitória-derrota é ainda mais clara: o líder do partido, Pablo Casado, acreditava que o resultado repetiria o da comunidade de Madrid, em Maio do ano passado, quando a sua rival interna obteve uma maioria arrasadora, provando assim que o PP não precisa de Isabel Díaz Ayuso para vitórias claras e iniciando um percurso de sucessos até às eleições legislativas do próximo ano. Pelo contrário, fragilizou a sua liderança e enfrenta agora uma decisão que vai definir o futuro da direita espanhola, mas também do conjunto da política do país.

Para já, a posição de Casado permanece imutável e recusa um governo com Vox, defendendo, em vez disso, que o já presidente do governo autonómico, Alfonso Fernandéz Mañueco, deve negociar com os movimento locais que elegeram um total de 7 deputados (Soria Ya!, que se apresentou na coligação Espanha Esvaziada, elegeu três, a somar aos 3 da União do Povo Leonês e ao eleito pelo partido Por Ávila), exigindo ao Vox uma abstenção que permita ao PP tomar posse em minoria e negociando depois alianças caso a caso – para chegar à maioria absoluta o PP teria de se aliar ao Vox ou ao PSOE.

Culpas e responsabilidades

Este caminho tem vários obstáculos, desde logo a recusa do Vox em abster-se no debate de investidura, e Mañueco já disse e repetiu que está disponível para negociar “com todos” e “sem linhas vermelhas”. O movimento Soria Ya! admite apoiar o PP, por exemplo, mas não se esse pacto incluísse o Vox.

Do ponto de vista do PP nacional, “quem quer um governo de coligação com Vox é o PSOE, a pensar na Andaluzia”, escreve o jornal El País citando membros da direcção em conversa na sede durante a noite eleitoral. As eleições autonómicas na Andaluzia são as que se seguem; para Casado, seriam o segundo passo da tal caminhada até ao poder que estes resultados vieram abalar.

Para os que vêem numa aliança com o Vox o pior cenário para as ambições futuras do PP, tudo é melhor, até algum tipo de acordo com os socialistas. À partida, a liderança do PSOE não admite esse caminho: “Para o PSOE e para a sua direcção esta situação é clara: a pergunta sobre um apoio ao PP já foi respondida pelo próprio PP. O PP diz que não tem nenhum problema em falar e pôr-se de acordo com o Vox”, afirmou o porta-voz nacional, Felipe Sicilia, na conferência de imprensa que se seguiu à reunião da direcção executiva. “Não vamos abrir a porta a um governo manchado por corrupção”, acrescentou Sicilia, culpando o PP por ter querido “reforçar Casado e transmitir a ideia de uma mudança de ciclo político que não existe”.

De acordo com Sicilia, ninguém no encontro desta segunda-feira admitiu uma abstenção. Mas a opinião não é unânime – para alguns socialistas, a responsabilidade de evitar que a extrema-direita entre pela primeira vez num governo autonómico também é do PSOE. Óscar Puente, presidente da câmara de Valladolid, defende que o partido deve “permitir que o PP possa governar sem que necessite de contar com o Vox”, uma opinião que considera “coerente” com as posições dos socialistas. “Acredito que o PSOE tem uma possibilidade que é oferecer-lhes uma alternativa”, defende Puente. “Se o PP se atirar para os braços do Vox que não seja por falta de opções.”

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