A única mulher na sala

É importante termos modelos e pessoas que possamos admirar, que nos inspirem, e demonstrem que tudo é possível e nenhuma profissão está barrada a ninguém, mesmo que seja mais difícil lá chegar.

Ser muitas vezes a única mulher na sala faz-me pensar. É preciso ter mais mulheres em muitas áreas e sobretudo, dar mais destaque às mulheres, também na inovação.

Pode observar-se que ainda é maioritariamente aos homens a quem é dado lugar de destaque geralmente no espaço público. Aliás, foi criada uma plataforma online Mulher Não Entra (ou quase não entra), que pretende denunciar a exclusão das mulheres e atua como repositório da ausência de mulheres no espaço público.

Esta falta de representatividade é observada na maioria dos setores e atividades, mesmo naqueles em que as mulheres estão em maioria, e sobretudo nos espaços de poder, incluindo a comunicação social, academia, administrações das empresas e lideranças de organismos públicos, associações diversas e órgãos de soberania. Há menos mulheres em lugares de destaque, e isso faz com que haja muitas ocasiões em que estamos horas a ouvir assuntos discutidos única e exclusivamente por homens. O mais curioso é que muitas vezes sou a única a reparar que não há mulheres, provavelmente porque sou mulher e me acontece frequentemente ser a única.

Nas aulas, observo que os rapazes intervêm mais regularmente, enquanto preciso de pedir explicitamente a alunas para falar. No fim de uma aula, um colega meu observou que o facto de eu ter pedido a uma aluna para intervir tinha transformado a dinâmica da aula, aumentando a participação feminina, e partilhou com alguma surpresa que ele nunca se teria lembrado de o fazer.

Também na inovação o universo feminino está menos visível. O estudo Draw a Scientist, desenvolvido em 1983 para analisar a perceção das crianças sobre os cientistas, identificou que a grande maioria perceciona o cientista como uma figura masculina (cerca de 75%). A evidência mostra que o género tem na realidade um efeito na probabilidade de se desenvolver inovação. Mas embora os homens inovem mais, não há disparidades no comportamento inovador e nas características das inovações que permitam distinguir diferenças entre homens e mulheres. A investigação conclui também que as mulheres criam menos empresas, e que criam, em média, empresas mais pequenas e com menores taxas de crescimento, e em determinados setores. As motivações para criar uma empresa são diferentes para mulheres e homens, o que ajuda a explicar algumas destas diferenças.

Para além disso, os estudos indicam que há diferenças estratégicas no comportamento empreendedor de mulheres e homens e que as mulheres gerem as suas empresas de forma diferente, tendo estilos de liderança diferenciados. A investigação revela que as mulheres são tendencialmente mais cautelosas e inseguras nos processos de tomada de decisão, sobretudo em contextos de risco, e que tendem a ser menos agressivas. De acordo com o trabalho existente, as mulheres gestoras procuram promover relações de confiança com as suas equipas, partilhando mais a informação, tendo maiores capacidades relacionais com as equipas, podendo gerar uma maior satisfação no trabalho. Os relatórios da National Foundation for Women Business Owners, nos EUA, evidenciam ainda que as mulheres recorrem menos a mentores, por exemplo, e fazem menos uso da sua rede.

Há evidências de que trabalhar numa start-up criada por uma empreendedora pode influenciar mais mulheres a criarem empresas, algo que é explicado por um efeito de modelo ou role model. E que os modelos têm um efeito amplificado para as mulheres, tendo em conta o enviesamento, as barreiras institucionais e os estereótipos negativos existentes. Os modelos mostram que é possível e inspiram outras mulheres a serem mais ambiciosas. Assim, é importante termos modelos e pessoas que possamos admirar, que nos inspirem, e demonstrem que tudo é possível e nenhuma profissão está barrada a ninguém, mesmo que seja mais difícil lá chegar. Temos que continuar o nosso caminho para aumentar a representatividade não só das mulheres, mas promovendo a diversidade em todas as áreas.

Quanto a mim, vou aproveitando o exemplo de muitas mulheres e pessoas fantásticas para me inspirar.

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