Caixa aumenta lucros para 583 milhões em 2021

Os lucros do banco público aumentaram perto de 19%, num ano em que a actividade comercial cresceu.

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LUSA/ANDRÉ KOSTERS

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) reportou um resultado líquido de 583 milhões de euros em 2021, valor que representa uma subida de 18,7% em relação aos lucros de 492 milhões que tinham sido alcançados no ano anterior. A contribuir para esta evolução esteve o crescimento da actividade comercial, conseguido apesar do contexto de pandemia.

Os resultados foram apresentados esta sexta-feira pelo presidente executivo do banco público, Paulo Macedo, que destacou a conclusão bem-sucedida do plano estratégico do período 2017-2020. Foi o sucesso deste plano, sublinhou, que permitiu o pagamento de 583,6 milhões de euros em dividendos ao Estado desde 2019, que não estavam previstos inicialmente neste plano (foram pagos 200 milhões em 2019, 83,6 milhões em 2021 e um dividendo extraordinário de 300 milhões ainda em 2021). Este ano, a distribuição de dividendos referentes ao exercício do ano passado ainda está em aberto. “Os dividendos a distribuir este ano dependerão das conversas que forem tidas com o accionista Estado”, disse Paulo Macedo.

“Em 2021, a actividade do grupo CGD continuou a ser afectada por via dos efeitos da situação epidemiológica e das medidas tomadas pelas entidades competentes para a sua contenção”, refere a instituição, no relatório de resultados consolidados enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). “Apesar da conjuntura actual, a actividade core [estratégica] do grupo Caixa continua a demonstrar resiliência”, acrescenta o documento.

Neste contexto, a Caixa aumentou a carteira de crédito em 3,7%, para um total de 52.498 milhões de euros, uma evolução para a qual contribuiu, sobretudo, o segmento de particulares, que registou um crescimento próximo de 4% e totalizou 25.534 milhões de euros. Já a carteira de crédito a empresas cresceu 1,2% e ascendeu a 15.955 milhões. Ainda relativamente ao crédito, o rácio de NPL (do inglês non performing loans, ou crédito malparado) reduziu-se de 3,9% em 2020 para 2,8% no final do ano passado. Já as imparidades de crédito reduziram-se em 64,7 milhões e totalizaram cerca de 205 milhões de euros. Considerando o volume global de imparidades para crédito, o rácio de cobertura totalizou 110,5%, levando o rácio de NPL líquido para 0%.

Também no que diz respeito aos recursos do banco público se regista uma evolução positiva, com os depósitos de clientes a aumentarem em 9,7% (mais de 7 mil milhões de euros), para 79.666 milhões de euros. Este aumento é justificado com o crescimento da poupança doméstica, “proporcionada pela restrição ao consumo em consequência da pandemia e respectivo confinamento”.

Apesar da melhoria da actividade comercial, a Caixa continuou a enfrentar um contexto de taxas de juro em níveis negativos, que, nas palavras da administradora financeira do banco, Maria João Carioca, “pesaram sobre a capacidade da CGD de desempenho em termos de produto bancário”.

A margem financeira voltou, assim, a registar uma quebra em 2021, próxima de 5%, totalizando agora cerca de 1018 milhões de euros.

A compensar a quebra da margem financeira esteve a evolução positiva das comissões e das operações financeiras. Os resultados alcançados com serviços e comissões totalizaram 564,7 milhões de euros em 2021, um aumento próximo de 13% (quase 65 milhões) face ao ano anterior. Já os resultados de operações financeiras cresceram 125 milhões, totalizando 175,7 milhões de euros.

Ao mesmo tempo, o banco reduziu os custos de estrutura em 8,8%, para 775,8 milhões de euros, uma diminuição explicada, essencialmente, pela evolução dos custos com pessoal, que diminuíram em 15,4%. “Este valor inclui um impacto não recorrente de 77,6 milhões de euros, devido ao ajustamento de provisões associadas a benefícios pós-emprego e ajustamento nos custos previstos com o programa de pré-reformas”, pode ler-se no relatório.

O produto global da actividade da Caixa acabou, assim, por crescer mais de 7% e ultrapassou os 1772 milhões de euros. Este valor mantém-se, ainda assim, abaixo daquele que era registado em 2019, antes da pandemia, quando as receitas ultrapassavam os 1884 milhões de euros.

No que diz respeito à solidez do banco, o rácio core equity tier 1 manteve-se inalterado face ao que já tinha sido registado em 2020, em 18,2%.

"A Caixa vai continuar a baixar o custo de serviço ao cliente"

Fora dos planos, garante Paulo Macedo, está um novo aumento de comissões por parte do banco público, que, recorde-se, vai passar a cobrar comissão de manutenção de conta aos clientes com mais de 65 anos que tenham depositados mais de cinco mil euros (baixando a fasquia a partir da qual esta comissão é cobrada, actualmente de 20 mil euros).

“Não estamos a ver, neste momento, que haja uma necessidade de aumentar comissões apenas para aumentar a rentabilidade”, afirma.

Aliás, salientou, o objectivo é reduzir os custos para os clientes - o que implicará uma continuação da estratégia de reestruturação do grupo, com fecho de balcões e redução da força de trabalho. “A Caixa continuará a baixar o seu custo de serviço aos clientes. Se conseguirmos servir digitalmente, conseguiremos, imediatamente, baixar o custo para o cliente. Outra maneira de conseguir isso é reduzirmos a nossa estrutura”, disse o responsável, detalhando que, por ano, há “300 pessoas” que pedem para sair do banco “sem que haja qualquer acção da gestão”.

Essa é a tendência que irá manter-se. “Claramente, haverá redução de pessoas, basta atender aos pedidos, e não serão todos atendidos. Obviamente, a tendência será essa”, afirma. Por outro lado, ressalvou, o plano estratégico para o período 2021-2024 prevê a entrada de 400 a 600 pessoas.

Vendas no Brasil e em Cabo Verde à espera do Governo

Por concretizar continuam as vendas dos bancos que a CGD detém no Brasil e em Cabo Verde. O banco público, indicou Paulo Macedo, já enviou ao Governo as recomendações relativamente às alienações destas instituições e aguarda agora pela resposta do executivo.

“As recomendações [quanto aos processos de venda no Brasil e em Cabo Verde] foram feitas ao Governo e estamos à espera”, afirmou o presidente executivo da Caixa.

Em causa estão o brasileiro Banco Caixa Geral e o Banco Comercial do Atlântico, que a CGD detém em Cabo Verde. Ambos os bancos deveriam ter sido vendidos até 2020, como previsto no plano estratégico da Caixa para 2017-2020, mas nenhum dos processos acabou por ficar fechado. No caso do Banco Caixa Geral, chegaram a ser apresentadas propostas, mas o Governo acabou por determinar a rejeição das mesmas.

Quanto ao Banco Comercial do Atlântico, onde a Caixa detém uma participação superior a 50%, que pretende vender na totalidade, Paulo Macedo afirma que a venda “vai depender do mercado, da procura e das autoridades de Cabo Verde”. Para já, a CGD deixou de contabilizar este banco como um activo disponível para venda, passando a consolidar a actividade desta instituição integralmente nas suas contas, uma vez que, neste momento, não existe um prazo para a venda.

Várias entidades interessadas na sede da Caixa

O presidente da Caixa confirmou, ainda, que há conversações com o Governo sobre o arrendamento de parte do edifício onde o banco público tem a sua sede por ministérios. E adiantou que há outras entidades interessadas no espaço, de reguladores a empresas.

“Houve conversas sobre o interesse, os timings e a forma. Houve, também, conversas com outras entidades, quer empresas, quer reguladores”, referiu o banqueiro, detalhando que a Autoridade Tributária foi uma das entidades a manifestar interesse.

A cedência dos espaços a outras instituições, contudo, ainda vai demorar, reconhece Paulo Macedo. “Temos de fazer a reorganização completa dos serviços e de tratar de acessibilidades, seguranças e separação entre as entidades”, apontou. “Numa primeira fase, poderemos libertar um piso ou um piso e meio. Depois, se houver interesse, poderemos passar dos 20 mil para os 30 mil metros quadrados ou mais”, acrescentou.

Em qualquer dos cenários, não está excluída a hipótese de o banco vir a mudar de instalações. “Em princípio, a Caixa continuará neste edifício, mas também admite mudar de instalações. A sair deste edifício, isso nunca acontecerá antes de 2026 ou 2027”, concluiu o presidente do banco.

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