110 Histórias, 110 Objectos: Rhino, o primeiro robot pedagógico do IST

O podcast 110 Histórias, 110 Objectos, do Instituto Superior Técnico, é um dos parceiros da Rede PÚBLICO.

No podcast 110 Histórias, 110 Objectos, um dos parceiros da Rede PÚBLICO, percorremos os 110 anos de história do Instituto Superior Técnico (IST) através dos seus objectos do passado, do presente e do futuro. Neste 32.º episódio do podcast, ouvimos falar do Rhino, o primeiro robot pedagógico do IST.

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Rhino, o 1.º Robot pedagógico do Técnico Débora Rodrigues

“Robot Rhino, os motores são passo a passo”. Esta era a resposta que o primeiro robot pedagógico do Técnico dava, nos anos 80, ao jovem aluno do IST, Mário Ramalho, durante o seu trabalho de mestrado da cadeira de robótica, quando este o programava para fazer movimentos. Em resposta, o estudante n.º 24.066 “dizia” ao motor “avança dez passos” e o robot ia dizendo quantos passos faltavam. “Se eu contasse o número de passos que faltavam eu conseguia saber se ele estava a bater nalguma coisa. Nós aí conseguíamos inverter-lhe o movimento e tentar deslocá-lo para um dos lados”, explica o agora professor auxiliar do Departamento de Engenharia Mecânica. “Era na altura a fina flor da tecnologia, como se costuma dizer”, defende.

Começou a trabalhar com o Rhino (o nome não tem qualquer relação com a palavra rinoceronte; é apenas o registado pela empresa que o comercializou) nas cadeiras dos últimos anos de mestrado, entre 1984 e 1986, e continuou a aprender com ele e a usá-lo para ensinar já como professor. O robot encontra-se actualmente exposto numa vitrina do edifício de Mecânica III, no campus da Alameda, e é um engenho de memórias de muitos estudantes do IST dos anos 80 e 90. “Na altura [quando o Rhino chegou] eu não conhecia mais nenhum robot aqui no Técnico”, recorda Mário Ramalho. O entusiasmo era tal que, numa demonstração na Escola Escola Náutica, os alunos interromperam as aulas quando souberam que tinham lá um robot a funcionar.

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O Rhino era essencialmente um robot de aprendizagem, o primeiro do IST. Compensava uma não tão brilhante capacidade de repetir movimentos com a possibilidade de ser uma poderosa ferramenta de robótica para uma geração de estudantes. Como grande novidade tinha o seu sistema de comando electrónico, que permitia que os movimentos independentes do braço fossem programados. Por outras palavras: “Eu podia pôr o robot a fazer os movimentos que quisesse, que me interessassem, manter isso em memória e ele ia repetir essa sequência de movimentos sempre que fosse necessário”. É o chamado grau de liberdade do robot que aplica esses movimentos repetitivos de forma prática em todas as tarefas como colocar parafusos, apanhar peças à saída da máquina e colocá-las de maneira ordenada numa caixa, aplicar colas, linhas de soldadura, entre outras. Movimentos razoavelmente complexos para serem feitos pelas máquinas que existiam até essa altura.

“As demonstrações que nós fazíamos com os alunos passavam por, baseando na base rotativa, programar movimentos de alternar peças, colocar peças umas em cima das outras e tarefas desse tipo”, relembra. No fundo, a pequena e frágil base do Rhino não era muito diferente do princípio que vemos hoje em dia nas linhas de montagem da indústria automóvel, por exemplo. “Basicamente o robot tem um braço, com um número necessário de motores e é uma estrutura articulada juntamente como uma caixa de comando. Eles continuam a ser programados. Hoje têm uma multiplicidade de sensores que lhes permitem tomar decisões, ajustar-se e fazer tarefas de uma maneira muito mais eficiente do que o robot Rhino tinha naquela altura”, descreve Mário Ramalho.

A evolução tecnológica avassaladora e o passar do tempo expuseram algumas das fragilidades de Rhino. Por exemplo: se o braço do robot batesse em algum objecto, ele pura e simplesmente tentava continuar a fazer o movimento até alguém o parar. Hoje em dia, os robots ao detectarem uma colisão param e invertem o movimento. A vida activa do Rhino terminaria no início dos anos 90, com a renovação dos laboratórios de Engenharia Mecânica e com a chegada de robots de outra geração capazes de admitir mais sistemas de programação, mais fiáveis, e precisos.

No entanto, os desafios que se exploraram com o Rhino mantiveram-se nas máquinas que lhe seguiram. “Ele era um brinquedo muito interessante, que dava para desenvolver todas essas aptidões desde o esquema de programação aos problemas que advinham da falta de repetibilidade de fiabilidade, etc, que se põem também nos robots seguintes”, explica Mário Ramalho. O Rhino testemunhou o arranque de um espantoso processo de transformação industrial entretanto consolidado e transformação do que na altura era “absolutamente fabuloso” em ferramentas que hoje fazem parte do quotidiano. “Há robots em todo o lado, a operar em todas as áreas, mesmo aquelas onde na altura se dizia que não iam entrar, como a agricultura… uma panóplia de utilizações perfeitamente espantosa”.

O podcast 110 Histórias, 110 Objectos é um dos parceiros da Rede PÚBLICO. É um programa do Instituto Superior Técnico com realização de Marco António (366 ideias) e colaboração da equipa do IST composta por Filipa Soares, Sílvio Mendes, Débora Rodrigues, Patrícia Guerreiro, Leandro Contreras, Pedro Garvão Pereira e Joana Lobo Antunes.

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