Um quarto dos internados em alas dedicadas à covid-19 foi hospitalizado por outra doença, revela a DGS

Os dados surgem dias depois de vários médicos terem revelado que uma grande parte dos internados que constavam dos boletins diários da DGS não tinham diagnóstico principal de covid-19, apenas tinham testado positivo ao SARS-Cov-2.

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A DGS revelou os dados sobre os internados em alas dedicadas à covid-19 Rui Gaudêncio

A Direcção-Geral de Saúde (DGS) revelou ontem que uma média de 75% das pessoas internadas tinha diagnóstico principal de covid-19, ao passo que as restantes 25%, embora estivessem em alas destinadas à covid e constassem dos boletins diários, tinham outra doença que as levou ao hospital e ao internamento. Lá chegadas, acabariam por testar positivo ao SARS-CoV-2, o que fazia com que fossem encaminhadas para as enfermarias e unidades de cuidados intensivos especialmente dedicados a quem estava infectado o novo coronavírus. Daqui, todas estas pessoas iriam contar para os dados revelados no boletim diário da DGS, que se limita a revelar o número de camas ocupadas nestas unidades, diariamente.

Depois de vários médicos terem revelado que havia uma parte substancial de pessoas internadas em enfermarias dedicadas à covid e até em unidades de cuidados intensivos que ali estavam por causa de outra doença, a DGS decidiu divulgar os dados relativos a quase dois anos de pandemia. Entre 2 de Março de 2020 e 10 de Dezembro de 2021, este valor nunca subiu além dos 85%, portanto existiram sempre no mínimo 15% de doentes constantes do boletim diário que não estavam internados por causa da covid, mas apenas positivos para SARS-CoV-2. O valor mais díspar encontra-se em Junho de 2020, quando 44% dos internados não tinham um diagnóstico principal de covid-19.

Com uma variante como a Ómicron, a própria DGS admite que “é provável que este valor venha a reduzir-se”. No entanto, refere, “o seu apuramento com rigor apenas é possível 2 meses após o internamento”. E exemplifica: “A distinção entre um diagnóstico principal (o que motivou o internamento) e um diagnóstico secundário (não motivou o internamento, p. ex. pessoa com uma fractura que é diagnosticada com SARS-CoV-2) de Covid-19 ocorre no momento da alta hospitalar emitida pelo médico.”

O PÚBLICO questionou a DGS sobre qual o número total de pessoas internadas no período em causa em enfermarias e unidades de cuidados intensivos dedicados à covid-19; quantas pessoas estiveram internadas na última semana em enfermaria e UCI e dessas quantas tiveram diagnóstico principal de covid-19, mas não obteve resposta.

Um levantamento feito na última semana pelo Ministério da Saúde, em articulação com a DGS e as administrações regionais de saúde, enviado à agência Lusa, indicava que entre 55% e 60% dos casos reportados pelos hospitais diziam “respeito a doentes cuja admissão a internamento ocorreu devido à covid-19”.

“Considerada a situação epidemiológica actual de circulação prevalente da variante Ómicron, em que muitos utentes apresentam quadros assintomáticos ou de doença ligeira, admite-se que exista ocupação de camas covid-19 por doentes com outras patologias e cujos internamentos possam ter sido motivados por essas outras circunstâncias, mas que se encontram em camas/alas dedicadas a doentes positivos para SARS-CoV-2”, referiam.

Isto depois de a CNN Portugal ter divulgado dados de um documento interno do Ministério da Saúde que mostrava que de 13 a 20 de Janeiro dos internamentos totais, 41% (a 13 de Janeiro) e cerca de 45% (a 20 Janeiro) não eram de pessoas com diagnóstico principal de covid-19. Com Ana Maia

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