Gostei do resultado das eleições

António Costa é um líder a sério. Não luta por si, luta pelo país e leva os militantes a fazê-lo. Freud dizia que há profissões impossíveis: governar e educar.

Mesmo se aparentemente não era o objectivo de todos os que votaram PS. Gostei porque é um bom e grande desafio para o país, sobretudo claro para os políticos e para as forças sociais. Todos sabemos, todos disseram durante a campanha como o país precisa de reformas, reformas de fundo. E de negociar essas mudanças. E acho que o PS é actualmente o partido em melhor posição para avançar com elas e com as negociações. Já falo do PS. Antes quero dizer que lamento muito a queda dos partidos que contribuíram para a construção da democracia portuguesa: PCP, CDS e PSD (ainda que este, a queda não é de hoje). Fazem parte da nossa história política, fazem falta e seria bom que cada um deles tentasse reencontrar as forças d’alma que lhes deram origem.

Mas é do PS que quero falar. O PS de Mário Soares foi o partido da democracia portuguesa. Construiu-se e construiu-a com força, alegria, (sou psicanalista, posso acrescentar com libido) e grande abertura a outrem de fora e a todos de dentro. Nas reuniões de militantes ou de dirigentes, Soares sentado do princípio ao fim, com o seu lápis e caderninho tomava notas, ouvia e respondia a todos da melhor forma. Tinha amigos e interlocutores em todas as camadas sociais e em todas as áreas ideológicas.

Quando em 96 deixou o partido este fez um caminho de fechamento. Deixou de ser um partido aberto de militantes vivos para se tornar bem depressa num partido de aparelho. Este foi rapidamente construído e o silêncio, o fechamento, o pensamento único instalaram-se. E o partido tinha orgulho nisso. Pior que o PCP que, se é verdade que tem a cassete, di-la com emoção e com solidariedade.

Hoje vejo como nestes seis anos António Costa mudou o PS. Claro que esta mudança de abertura não se faz de um dia para o outro, levou o seu tempo e penso que ainda tem por onde continuar. Mas hoje o partido já não vive só nem sobretudo do aparelho fechado que herdou. Os seus militantes, os que tinham capacidade de mudar, mudaram graças à nova liderança. Vemos antigos aparachiks funcionarem com inteligência, sensibilidade e alegria. Vemos novas rivalidades que a comunicação social tenta explorar, manifestar-se pelo bom desempenho, com alegria, numa excelente transferência de afectos para com o AC e sem rivalidade ou deslealdade manifesta uns para os outros. Os patrões em Portugal deviam aprender com Costa. Ele sabe valorizar os seus militantes, confiar, ouvi-los, exigir e zangar-se sem consequências na vida pessoal. Vemos homens e mulheres de aparelho transformarem-se em políticos activos, criativos e que pensam.

António Costa é um líder a sério. Não luta por si, luta pelo país e leva os militantes a fazê-lo. Freud dizia que há profissões impossíveis: governar e educar. O difícil no governar é que não se governa com base em teorias económicas ou estatísticas, mesmo que sejam necessárias. Governa-se homens e mulheres, com homens e mulheres que quanto mais sintam que o são (na relação e no trabalho) melhor contribuem para construir o país.

Por isso estou feliz com estas eleições. A possibilidade de se conseguir mudar Portugal existe. O que tem feito pelo partido e também já pelo país, Costa tem agora possibilidade de continuar. Não vai agarrar-se a um utópico poder absoluto e esquecer aquilo de que gosta: governar os portugueses, levá-los ao governo e a aprenderem a governar-se. Claro que para isso é necessário o confronto saudável com o PSD, o PCP, e o CDS que embora fora do Parlamento é um partido. E idealmente com o BE e o IL. Quanto ao Livre é da mesma raça.

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