Não conseguiu ser “a voz do mundo rural” por Beja, agora quer ser “a voz do Algarve” no Parlamento

Pedro Pinto, deputado do Chega eleito por Faro, vem do mundo da tauromaquia e promete ser a “voz do Algarve no Parlamento”

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Filipe Farinha

O secretário-geral adjunto do Chega, Pedro Pinto, chegou ao Algarve, viu e venceu. A região rendeu-se às promessas de André Ventura e um desconhecido foi eleito deputado. Não precisou de fazer grande campanha, nem gritar em comícios para chegar à Assembleia da República como representante de uma região que já foi maioritariamente “cavaquista” e onde agora — à semelhança do que se passa no resto do país — é o Partido Socialista quem mais ordena. “Sinceramente, não esperava esta vitória tão grande”, admitiu o presidente da distrital do partido, João Graça, que se gaba de ter “duplicado o número de militantes” em menos de um ano.

A sede distrital do partido, em Faro — mesmo depois da vitória — é pouco mais do que uma presença simbólica. Desde que foi inaugurada, em Maio do ano passado, raras vezes teve portas e janelas abertas. “Só ontem à noite é que se ouviram uns rumores”, relata a funcionária da Gardy – a pastelaria tradicional da capital algarvia, na Rua de Santo António. “Eles são muito silenciosos”, sublinha, por contraste com as habituais ruidosas prestações de André Ventura.

Dos dias de campanha ficaram os ecos dos cinco carros de som que circularam por todos concelhos algarvios, replicando a mensagem do homem que promete “fazer tremer o sistema” e perseguir António Costa. Poucos cartazes se viram nas ruas, e no dia em que André Ventura esteve em Faro — a marcar o terreno a Rui Rio, que visitou a região na mesma ocasião — nem sequer a sede foi aberta. “Vamos procurar que, pelo menos à sexta-feira à tarde, um militante possa abrir a porta”, refere João Graça, oficial de registos nas conservatórias de Aljezur e Vila do Bispo, concelho onde reside, destacando a nova realidade: “Temos um grupo parlamentar, vou publicar [nas redes sociais] o nosso programa”, acrescenta.

O programa para a região resume-se a um “flyer” com uma dezena de temas: sazonalidade turística, seca, Hospital Central, entre outros. Pedro Pinto acrescenta: “Estou a receber felicitações de encorajamento de muita gente.”

De resto, foi no Algarve que o Chega obteve o melhor resultado em termos percentuais: 12,3% dos votos. Albufeira foi o concelho algarvio com o registo mais expressivo: 15,21%, seguido de Portimão com 14,2%.

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Pedro Pinto

Já nas autárquicas se tinham registado surpresas, com a eleição de dois vereadores: Pedro Xavier, empresário da construção civil em Portimão, e Fernando Santos, arquitecto em Loulé.

Pedro Pinto reside em Portalegre, onde chegou a ser dirigente do dirigente do CDS (desfiliou-se em 2019). A nível profissional está ligado à tauromaquia e à realização de espectáculos nesta área. Chegou a ser director da revista Ruedo Ibérico, cargo que deixou em 2010.

Como vai fazer a ligação à região que o elegeu? “Vou dedicar um dia da semana (como têm todos os deputados) para estar no Algarve”, disse ao PÚBLICO, enfatizando: “Vou ser a voz do Algarve no Parlamento.”

Nas últimas legislativas, candidatou-se por Beja, como a promessa de ser “a voz do mundo rural na Assembleia da Republica”. Não teve sucesso nessa corrida e, também, a candidatura a presidente da câmara de Beja saiu gorada. Em defesa do Algarve, coloca em primeiro lugar a construção do novo Hospital Central (garantia assumida, igualmente, pelo PS).

O líder distrital, por seu turno, destaca a implantação do partido na região: “Duplicámos o número de militantes [desde Maio do ano passado], temos de 1500 filiados, e passamos de 22 para 33 delegados ao Congresso”. Ainda sobre a dinâmica partidária, diz que foram criadas estruturas de representação em todos os concelhos. O sistema funciona numa espécie de democracia simplex. “Nomeio o coordenador, e ele envia para a direcção os outros elementos.”

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