PAN elege no último minuto, mas sai destas eleições como um dos grandes derrotados

Depois de uma noite de silêncio e antecipação numa sala meio cheia, o PAN conseguiu eleger um único deputado, perdendo, assim, o seu grupo parlamentar. Inês Sousa Real, porta-voz do partido, assume o mau resultado e alerta para os perigos da maioria absoluta e do crescimento da extrema-direita.

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Inês Sousa Real, porta-voz do PAN, conseguiu ser eleita por Lisboa LUSA/JOSE SENA GOULAO

O Partido-Animais-Natureza (PAN) chegou ao final da noite com um deputado eleito, depois das projecções da Universidade Católica terem previsto que o partido teria apenas 1 a 3% dos votos, isto é, que poderia eleger no máximo dois deputados, correndo o risco de não chegar a eleger mesmo nenhum.

O PAN passa, assim, de força com quem o Partido Socialista (PS) admitia a possibilidade de chegar a um acordo, a um dos grandes derrotados da noite.

“É com muita tristeza que assumo este mandato sozinha”, disse Inês Sousa Real, porta-voz do partido, acrescentando que os resultados das eleições representam “um mau resultado para o PAN e para a democracia”, já que “não reflectem o trabalho empenhado que o PAN desenvolveu nestes anos” e que se abriram as portas “ao populismo, ao fascismo, ao racismo e à xenofobia”.

Considerando que os resultados destas eleições se devem ao receio das pessoas da instabilidade e do crescimento da extrema-direita, a líder do partido assume que a comissão interna terá de fazer uma reflexão sobre o futuro do partido.

Durante a campanha, Inês Sousa Real opôs-se a um cenário de maioria absoluta, que voltou a criticar esta noite, e apelou ao voto útil no PAN, referindo repetidamente que o seu partido é “responsável” e quer “construir pontes”, ao contrário das forças de esquerda que ao inviabilizarem o Orçamento de Estado abriram portas a uma “crise política”, segundo a líder do PAN.

Contudo, assim como a esquerda, o PAN termina estas eleições como um resultado muito aquém das expectativas, face a um PS que atingiu o objectivo da maioria absoluta.

Apesar disso, Inês Sousa Real garante que irá continuar a defender as causas do PAN no Parlamento, nomeadamente, a protecção animal e ambiental.

Um percurso atribulado

O PAN chegou pela primeira vez ao Parlamento em 2015, quando conseguiu eleger André Silva, porta-voz do partido e cabeça de lista por Lisboa, com 75.140 votos (1,4%). Apenas quatro anos antes, na sua primeira candidatura à Assembleia da República, havia obtido 57.995 votos (1%).

Em 2019, elegeu quatro deputados nas legislativas. Por Lisboa, André Silva e Inês Sousa Real (48.536 votos), pelo Porto, Bebiana Cunha, (32.328 votos), e por Setúbal, Cristina Rodrigues (17.529). Dessa vez, atingiu os 174.511 votos, tornando-se na sexta força política do país (3,3%), abaixo do CDS e acima do Chega.

Contudo, no final do mandato, o PAN contava com uma substituição e apenas três deputados: Cristina Rodrigues desfiliou-se do partido, tornando-se deputada não-inscrita e Nelson Silva entrou na AR, pelo círculo de Lisboa, após André Silva abandonar o Parlamento.

Agora, tão depressa e com a mesma surpresa com que subiu há três anos, sai destas eleições sem cumprir o objectivo que tinha: manter o grupo parlamentar e ganhar representação noutros círculos eleitorais.

Uma noite eleitoral a meio gás

A noite eleitoral do PAN decorreu na Sala Fernando Pessoa, do Centro Cultural de Belém. Com capacidade para 50 pessoas, a sala contou com pouco mais de três dezenas de pessoas, que foram recebendo os resultados eleitorais sem entusiasmo e em relativo silêncio. À medida que a noite ia avançando, a antecipação para saberem se conseguiam eleger um deputado, ia crescendo, assim como o burburinho na sala. Inês Sousa Real esteve ausente toda a noite e recusou falar antes da contagem final dos votos, agarrando-se a todas as esperanças de ser eleita. Por fim, a espera compensou e Sousa Real foi eleita, entre palmas entusiásticas, ouvindo-se pela sala “Já está!”.

Algumas figuras de maior destaque do partido não estiveram presentes, como Bebiana Cunha. Tal como desvalorizou a ausência de André Silva das acções de campanha do partido, Sousa Real justificou a falta de comparência dos membros do partido com o facto de a noite eleitoral do partido se ter espalhado pelas sedes do Porto, de Faro e das regiões autónomas dos Açores e da Madeira.

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