Conferência virtual debate o impacto da pandemia no cancro

Integrada na iniciativa “Uma agenda para combater o cancro: Por todos nós, para todos nós”, organizada pelo Público em parceria com a MSD Portugal, realiza-se no próximo dia 2 de Fevereiro, a quinta conferência virtual, em antecipação ao Dia Mundial de Luta Contra o Cancro, comemorado no dia 4 desse mês.

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Esta iniciativa promoveu nas sessões anteriores o debate sobre o Plano Europeu de Combate ao Cancro, as respostas na articulação entre cuidados de saúde primários e hospitalares nas estratégias de prevenção e de diagnóstico, a voz da sociedade civil e a inovação e os desafios de acesso. A próxima conversa online será dedicada ao “Impacto da Covid-19 no diagnóstico e tratamento do cancro”.

De acordo com o director do Programa Nacional das Doenças Oncológicas, José Dinis, em entrevista ao Diário de Notícias, “só em 2025 e 2026 é que se conseguirá perceber o que a pandemia fez às doenças oncológicas”. Quanto à análise da resiliência na resposta à pandemia, também no Dia Mundial contra o Cancro de 2021, o mesmo jornal em conjunto com a Lusa, dava conta de que a OMS Europa havia revelado que “entre 53 países, um em cada três interrompeu parcial ou totalmente os serviços oncológicos por causa da mobilização contra a pandemia e das restrições de viagens”.

Segundo a análise ao acesso aos cuidados de saúde no Serviço Nacional de Saúde (SNS), baseada nos dados do Portal da Transparência do SNS e do BI dos Cuidados de Saúde Primários [recolhidos entre 14 e 29 de Outubro de 2021] e realizada pela Moai Consulting para o Movimento Saúde em Dia, uma colaboração conjunta entre a Ordem dos Médicos, a Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares e a Roche, “foram realizadas menos 18% de mamografias, menos 13% de rastreios ao cancro do colo do útero e menos 5% ao cancro do cólon e do recto comparativamente ao ano de 2020“. Revelou ainda que “sete em cada dez portugueses consideram insuficiente o investimento em saúde por parte do Estado. Cerca de 80% apontam a falta de profissionais e os tempos de espera como os principais problemas do SNS”. Os rastreios do cancro da mama, do útero e colorretal foram suspensos numa primeira fase da pandemia, tendo ficado por realizar “perto de 450 mil rastreios” segundo dados recolhidos pelo mesmo estudo.

A Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) também realizou um questionário entre 2 de Julho e 18 de Novembro de 2020. Com uma amostra constituída por 948 doentes oncológicos/sobreviventes de cancro e por 378 familiares/cuidadores com mais de 18 anos e residentes em Portugal, avaliou o impacto socioeconómico, psicológico e de acesso aos serviços de saúde por parte de doentes e seus familiares / cuidadores informais. Entre alguns resultados, a LPCC apurou que “um a dois em cada dez doentes tiveram algum tratamento suspenso durante este período. E, dois em cada dez doentes e um em cada dez cuidadores ponderaram suspender, por iniciativa própria, os actos clínicos por receio de se dirigirem aos serviços hospitalares”. A Liga concluiu ainda que “72% dos doentes e 76% dos cuidadores sentem-se bastante a muitíssimo preocupados com a pandemia”.

Medo de contágio, ansiedade, depressão, distress emocional e dificuldade em pagar as despesas familiares foram algumas das preocupações manifestadas pelos inquiridos. O Núcleo do Norte da LPCC também já veio a público confirmar que, só no primeiro ano da pandemia, terão ficado “cinco mil rastreios ao cancro por realizar”.

Junte-se ao debate

A crise pandémica surtiu consequências directas nos cuidados de saúde, uma vez que foi preciso mudar as prioridades na actividade clínica, levando ao cancelamento de consultas e exames e até mesmo à suspensão da actividade clínica de várias especialidades.

E, nos dias de hoje, com o vírus ainda a infectar milhares de pessoas, de que forma é que a pandemia continua a condicionar a referenciação e o tratamento do cancro? Como se pode explicar o total de diagnósticos por realizar e recuperar o atraso? O Plano Europeu de Combate ao Cancro, apresentado pela Comissão Europeia a 4 de Fevereiro do ano passado, deverá contemplar uma resposta ao impacto da Covid? Quais as recomendações para o próximo governo actuar nesta matéria e quais as principais preocupações para o futuro?

Especialistas de diferentes áreas vão participar nesta conferência virtual para discutir algumas destas problemáticas: Miriam Brice, presidente da Associação Careca Power; Gabriela Sousa, oncologista e directora do Serviço de Oncologia Médica do IPO de Coimbra; Miguel Guimarães, Bastonário da Ordem dos Médicos e Teresa Almodovar, presidente do Grupo de Estudos do Cancro do Pulmão.