PIB cresce mais que o previsto em 2021, mas menos que a zona euro

Mesmo com a nova vaga da pandemia, PIB continuou a crescer no quarto trimestre de 2021, mas não o suficiente para regressar aos níveis pré-crise, como já aconteceu no total da zona euro

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Nelson Garrido

A economia portuguesa registou, nos últimos três meses do ano passado, um crescimento de 1,6% face ao trimestre imediatamente anterior. É um abrandamento que já se esperava tendo em conta os efeitos da variante Ómicron, mas que ainda assim não impediu que a variação do PIB no total do ano acabasse por ficar ligeiramente acima das mais recentes estimativas do Governo. Portugal, que no final do ano cresceu mais que a zona euro, voltou, contudo, a divergir face à média europeia no total de 2021.

Quando apresentou a proposta de OE para 2022, o Executivo antecipava, para a totalidade de 2021, uma taxa de crescimento de 4,8%, que o ministro das Finanças, já este mês viria a reiterar. Na semana passada, no meio da campanha eleitoral, o primeiro-ministro, António Costa, surpreendeu, afirmando que a economia teria crescido afinal 4,6% no ano passado e esclarecendo, quando questionado se estava a antecipar os dados a publicar mais tarde pelo INE, que essa era apenas a estimativa corrigida pelas Finanças.

Afinal, verifica-se na primeira estimativa das contas nacionais do quarto trimestre de 2021, publicada esta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), que a taxa de crescimento da totalidade do ano passado deverá ter ficado ligeiramente acima desses valores, nos 4,9%, recuperando uma parte da quebra histórica de 8,4% que a economia portuguesa registou em 2020.

Ainda assim, olhando para os dados trimestrais, é possível verificar o efeito negativo que a última vaga da pandemia teve na evolução da actividade económica. A variação em cadeia do PIB, que no segundo trimestre de 2021 tinha sido de 4,3% e no terceiro já tinha abrandado para 2,9%, foi no quarto trimestre do ano de 1,6%.

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É um abrandamento que já se esperava, tendo em conta os efeitos na actividade económica que a nova vaga pandémica, dominada pelo surgimento da variante Ómicron, inevitavelmente teria de ter. Ainda assim, a economia continuou a crescer, o que mostra também que está cada vez mais adaptada aos efeitos negativos da pandemia.

Na comparação em termos homólogos, o crescimento do PIB foi no quarto trimestre de 5,8%, mais do que os 4,5% do terceiro trimestre e menos que os 16,4% do segundo. Neste caso, continuam a dominar os efeitos base das fortes oscilações que a economia registou durante o ano de 2020, tendo o quarto trimestre desse ano sido de quase estagnação da economia, o que acaba por beneficiar agora o resultado em termos homólogos do quarto trimestre de 2021.

Divergir em 2021

O Eurostat publicou também a sua primeira estimativa de crescimento da economia europeia dos últimos três meses do ano passado. Portugal cresceu, neste período, mais do que a média da zona euro, que apresentou uma variação em cadeia do PIB de 0,3% (0,4% na União Europeia) e uma variação homóloga do PIB de 4,6% (4,8% na UE).

No entanto, o crescimento no total de 2021 na zona euro e na UE foi, de acordo com as contas do Eurostat, de 5,2%. Isto é, depois de ter caído mais do que a média da zona euro em 2020 (-8,4% contra -6,5% na zona euro), a economia portuguesa voltou, em 2021, a divergir face à média europeia, com um crescimento em 2021 que foi 0,3 pontos percentuais mais baixo (4,9% contra 5,2%).

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Além disso, feitas as contas, confirma-se ainda que a economia portuguesa, que tem a desvantagem de ter um peso maior do sector do turismo, não conseguiu, como aconteceu com a média da zona euro, regressar aos níveis em que se encontrava antes da pandemia durante o ano de 2021. O valor do PIB no quarto trimestre de 2021 em Portugal ainda é, em termos reais, 1,4% inferior ao do quarto trimestre de 2019, o último antes de se começarem a fazer sentir os efeitos económicos negativos da pandemia. No caso da zona euro, o PIB do quarto trimestre de 2021 já foi 0,1% superior ao do quarto trimestre de 2019.

Para 2022, a proposta de OE que acabou chumbada, projecta uma aceleração da economia portuguesa face a 2021, com um crescimento de 5,5% do PIB.

Em relação ao final de 2021, o INE não divulga, nesta sua primeira estimativa para as contas nacionais, dados detalhados relativos às diversas componentes do PIB. Ainda assim, revela que, no quarto trimestre do ano passado, o contributo positivo da procura externa líquida (exportações menos importações) para a variação em cadeia diminuiu, ao passo que para a variação homóloga do PIB se registou uma melhoria, “em consequência da aceleração em volume das exportações de bens e serviços”.

O INE dá ainda conta da ocorrência de “uma perda significativa nos termos de troca” na economia portuguesa no quarto trimestre do ano, “mais intensa que nos dois trimestres precedentes”, e que resulta do facto de os preços dos bens energéticos e das matérias-primas, muito importados por Portugal, terem crescido muito fortemente neste período.

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