Portugal e Brasil, nações unidas
A razão mais forte para acreditarmos que o melhor ainda está para vir são as pessoas.
No ano em que o Brasil comemora o 200.º aniversário da sua Independência, estudar o passado para entender o presente e projetar o futuro é um exercício da maior utilidade, desde que cada época seja contextualizada na sua especificidade temporal. E o Brasil, que bem se pode orgulhar de quase dois séculos de paz num continente atravessado por tantos conflitos, saberá melhor do que ninguém aproveitar este ano para exercer esse olhar crítico e catalisador.
Pelo meu lado, enquanto português e também na qualidade de representante de Portugal no Brasil, quero concentrar-me no que nos une. Dois países cujo destino, historicamente ligado, realiza-se hoje em geografias diferentes, com prioridades distintas e métodos de ação diversos. Mas também com tanto em comum, a ponto de cada vez mais se apreciarem, num mundo em constante mutação, mas que guarda certas caraterísticas e valores que partilhamos. Partilhamos uma língua de dimensão planetária, a quarta ou a quinta mais falada no mundo, a primeira mais falada no hemisfério Sul. Juntos enriquecemos o espaço ibero-americano com uma voz forte em português. Um dia, esperamos, o português será a língua oficial das Nações Unidas.
Da ciência e tecnologia à educação, da defesa à agricultura, dos negócios à cultura, a nossa cooperação alcançou um nível de excelência e amadurecimento que ainda tem espaço para crescer. E a razão mais forte para acreditarmos que o melhor ainda está para vir são as pessoas. É a comunidade brasileira em Portugal e a comunidade portuguesa ou lusodescendente no Brasil, que representam mais de 1,5 milhão de pessoas. São as centenas de milhares que cruzam o Atlântico nos dois sentidos para estudar, investigar, ensinar, exercer uma profissão, investir ou simplesmente fazer turismo.
Olhemos o exemplo da saúde. Em outubro passado foi criada, na presença do ministro da Saúde brasileiro, a marca Portugal Saúde no Brasil, envolvendo o governo português e 11 hospitais brasileiros de matriz portuguesa. Um passo que terá auspiciosos desenvolvimentos futuros. 2021 foi também um ano de forte aumento da cooperação entre a Fiocruz e diversas instituições portuguesas, estando a Fiocruz a internacionalizar-se através de Portugal. Pode dizer-se que foi lançada à terra a semente do futuro cluster Portugal-Brasil na área da saúde.
Neste ano, não só deveremos assistir a desenvolvimentos substanciais em diversas áreas da nossa cooperação — a participação portuguesa nas comemorações do bicentenário proporcionará vários momentos relevantes — como Portugal e Brasil estarão envolvidos em matérias da maior importância internacional, onde o Brasil pode contar conosco e nós esperamos poder contar com o Brasil. Do lado português, a realização da Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos. Do lado brasileiro, a condição de membro do Conselho de Segurança da ONU.
Não é por acaso que uma das manifestações mais fortes da cooperação entre Portugal e o Brasil, atualmente, se concretiza na escola das Nações Unidas em Nova Iorque, através de dois professores, um brasileiro e outro português, que ensinam a nossa língua naquela escola internacional.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico