Freguesia de Couto de Esteves contesta construção de mini-hídrica no Lordelo

Autarca quer “devolver o rio ao povo” e, por isso, está a tentar comprar os terrenos junto ao rio. Empresa responsável pelo projecto espera iniciar a construção durante este semestre.

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Rio Lordelo Junta de Freguesia de Couto de Esteves

A Junta de Freguesia de Couto de Esteves, em Sever do Vouga, está contra a construção de uma mini-hídrica no Rio Lordelo, anunciada para breve, e mais do que dar conta da sua contestação decidiu avançar com medidas. A autarquia está a tentar comprar os terrenos junto ao rio, com o objectivo de ali “valorizar actividades recreativas (pesca, canyoning, escalada e caminhada)”, parando com o projecto do Aproveitamento Hidroeléctrico de Lourizela. A empresa responsável pelo empreendimento, a Hidro Lourizela (grupo Energetus), estima avançar com a obra ainda durante o primeiro semestre deste ano e garante que a infra-estrutura não irá colocar em causa a fruição turística e desportiva do rio.

No anúncio feito através da sua página de Facebook, a junta de freguesia diz que “procurará e negociará com representantes dos proprietários afectados pelo Aproveitamento Hidroeléctrico de Lourizela e oferecerá quantias superiores aos valores da tabela oferecidos pela empresa”. O objectivo, refere a autarquia, passa por “devolver o rio ao povo”, ao mesmo tempo que se tenta “criar uniformidade e dar dignidade aos lamentáveis valores que estão a ser praticados, por metro quadrado”.

Contactado pelo PÚBLICO, o presidente da Junta de Freguesia, Sérgio Soares (independente), apontou o facto de esta mini-hídrica colocar em causa um troço com um “enorme potencial turístico e desportivo”, para além “dos impactos que pode ter também na agricultura”. Segundo faz questão de evidenciar, é naquela zona que se situa “uma das melhores pistas canoyng do país”, sendo secundado, na sua preocupação, por uma empresa de desporto e aventura daquele município da região de Aveiro. “O rio Lordelo é uma das linhas de água que mais visitamos durante a época de actividades aquáticas. Mais de um quilómetro da sua zona jusante ficou submerso pelas águas da Barragem do Vouga (Ribeiradio/Ermida) e agora, mais uma vez, pretendem a afectação de um troço do rio com elevado potencial turístico – cascata da Agualva, pista natural de canyoning, trilhos pedestres da Agualva, Avideira e Vale da Mó”, lamentam os responsáveis pela empresa Desafios – Desporto e Aventura.

Este projecto resulta de um leilão realizado em 2010, tendo já suscitado “a contestação da população em 2012, altura em que foi conhecida a ‘venda do rio’”, recorda o presidente da junta. Em 2021, o projecto voltou a estar na ordem do dia, “depois de a empresa ter feito alguns ajustes e novos estudos”, acrescenta. Ainda assim, a reformulação do projecto não foi suficiente para convencer a junta de freguesia.

Área alagável reduziu para um quarto

A mini-hídrica desenhada pela Hidro Lourizela prevê a construção de “uma barragem, uma conduta de adução, uma conduta forçada e uma central hidro eléctrica junto à barragem de Riberadio”, revela Diogo Oliveira, da empresa que está no terreno em conversações com os proprietários de terrenos. Segundo assevera este responsável, o que está em causa é um “projecto pequeno”, com um açude com “30 metros de largura e 10 metros de altura”. “Enquanto o primeiro projecto previa uma área alagada de 2 hectares, o actual tem 0,52 hectares, ou seja, cerca de 5.000 metros quadrados, quando anteriormente eram 20,000”, especifica Diogo Oliveira.

Para reduzir o impacto na agricultura, nomeadamente nas plantações de mirtilos, especifica, também foi “alterada a localização”. “Agora, fica numa zona mais encaixada, mais fechada, e o impacto é menor”, faz questão de esclarecer Diogo Oliveira.

Confrontado com a tomada de posição do presidente da Junta de Freguesia de Couto de Esteves, o representante da Hidro Lourizela diz que esta compra de terrenos não coloca em causa a construção da mini-hídrica. “Quanto muito, pode atrasar”, declara, lembrando que a empresa “tem um contrato de concessão [assinado] com o Estado que obriga a fazer expropriações, expropriações essas que se pretendem amigáveis”.

Já o presidente da Câmara Municipal de Sever do Vouga, Pedro Amadeu Lobo (PSD), não quis comentar a tomada de posição do presidente da junta, uma vez que “desconhece o âmbito e contexto da situação”, anunciou num depoimento ao PÚBLICO, prestado por escrito.

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