Os influencers começam a clonar os cães — para o conteúdo (e o amor) não acabar

A replicação genética de animais de companhia atinge as dezenas de milhares de euros, mas já ganha adeptos humanos que tentam “prolongar o legado” de cães ou gatos adorados. E insubstituíveis?

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Willow e os amigos @Wander_with_Willow

Willow, uma impressionante híbrida entre um cão e um lobo, tinha milhares de pessoas a verem-nos crescer desde que era uma bola de pêlo. Courtney Udvar-Hazy publicava todos os momentos que passavam juntos, até que, em 2018, o cão foi atropelado por um carro e morreu. Mas as publicações no Instagram não pararam.

A fotógrafa e influenciadora norte-americana pagou dezenas de milhares de euros à ViaGen Pets, uma famosa empresa de preservação de células e clonagem de animais de companhia do Texas e agora tem, renascido das cinzas, o Phoenix.

A biotecnologia permite usar as células originais do animal de companhia, isolar o ADN e usá-lo para fertilizar um óvulo. Com a ajuda de gestação de substituição, nasceu um cachorro tão igual a Willow que, se Udvar-Hazy não tivesse descrito o processo de duplicação genética online, nenhum dos seguidores saberia.

Na verdade, a influenciadora ficou tão contente, que pagou para replicar o processo e oferecer mais cinco clones adoráveis aos amigos (que por vezes se reúnem e resultam em publicações no Instagram muito bem sucedidas).

Não é a única a falar abertamente online sobre a clonagem: @baxter_the_clone, @theadventuresofpippapeacock ou @holdtheclone são alguns exemplos de cães e gatos que foram clonados a partir de outros animais de companhia. E, em 2018, Barbara Streisand revelou à à Variety que as suas duas cadelas, Miss Violet e Miss Scarlett, são clones de Samantha, concebidas a partir das células da boca e do estômago retiradas antes da Coton du Tulear de 14 anos morrer. As personalidades, contava, são diferentes.

A conta de Instagram da ViaGens, fundada em 2016, está repleta de imagens adoráveis de cães, gatos e cavalos que são réplicas genéticas de animais vivos ou mortos. Custa 30 mil euros clonar um gato, valor que nos cães sobe para os 45 mil.

Seguindo o modelo de negócio do Instagram, a marca até já fez parcerias pagas com contas de animais de companhia famosas, que dizem ter células e ADN preservado para no futuro considerar a clonagem. A mini @tinkerbellethedog é um exemplo.

Em 2021, a empresa participou numa investigação para trazer de volta não um animal de companhia mas uma espécie em risco de extinção. Cientistas nos Estados Unidos da América clonaram, com sucesso, um furão-de-patas-negras, utilizando as células de um animal selvagem que viveu há mais de 30 anos.

Elizabeth Ann é uma cópia genética de Willa, capturada entre os últimos indivíduos selvagens, que não deixou descendentes.

O Departamento de Caça e Pesca do Wyoming, onde indivíduos da espécie que se julgava extinta foram encontrados em 1980, preservou os genes e enviou amostras de tecido da Willa para o jardim zoológico congelado de San Diego, em 1988. Foi a primeira vez que uma espécie nativa em perigo de desaparecer foi clonada no país. Antes, a empresa já tinha ajudado a clonar um cavalo de Przewalski, que teve os últimos exemplares selvagens nas planícies secas do Alentejo e em Xinjiang, na China.

Este trabalho de preservação de espécies, no entanto, é menos contestado do que a tentativa de manter vivos, de alguma forma, os animais de companhia que vivem durante poucos anos. Perder um animal de companhia pode ser tão ou mais difícil do que lidar com a perda de um amigo ou familiar, mas este sofrimento tende a não ser legitimado pelos outros. A replicação genética, aparentemente, também não.

“As pessoas dizem que tenho cães zombies”, conta, ao site Input. “A coisa mais importante para mim foi continuar o legado e a linha de sangue de Willow. Eu não estava bem, na altura. Imaginei que pudesse ser algo que curasse um pouco o meu coração.”

O processo, muito semelhante à fertilização in vitro, tem algumas questões éticas contestáveis, principalmente quanto ao sofrimento desnecessário da cadela usada para a gestação de substituição. Na China, e com regulações menos castradoras do que no Ocidente, a Sinogene foi a primeira empresa chinesa a oferecer serviços comerciais de clonagem de cães.

Alegando preocupações com a privacidade dos clientes, Melain Rodriguez, representante da norte-americana ViaGens, não revela à Input quantos animais já nasceram a partir deste processo, especialmente de petfluencers. “Se alguém ganhava a vida com o seu animal de estimação e de repente o animal desaparece, o que é que a pessoa faz?”, diz. Rodriguez falou nisto a instagrammers em conferências de influenciadores de animais de companhia. “Ficaram todos espantados”, diz. “Temos definitivamente alguns clientes que avançaram com a preservação das células.”

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