Xiomara Castro toma posse como Presidente nas Honduras em clima de crise

Nas vésperas da cerimónia da tomada de posse da primeira mulher no cargo, vários deputados rebeldes do seu partido decidiram desafiar a escolha para liderar o Congresso.

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Xiomara Castro é a primeira mulher eleita como Presidente das Honduras Bienvenido Velasco / EPA

A nova Presidente das Honduras, Xiomara Castro, toma posse esta quinta-feira, numa cerimónia considerada histórica por vários motivos, mas ensombrada por uma crise política que deixa antever uma forte instabilidade num país já assolado pelo narcotráfico, pela pobreza extrema e por uma crise migratória.

As expectativas sobre Castro, de 62 anos, são elevadas. A sua vitória nas eleições de 28 de Novembro veio romper com o domínio do Partido Nacional, que tinha chegado ao poder na sequência da deposição em 2009 do ex-Presidente Manuel Zelaya, casado com Castro, para além de se tornar na primeira mulher a governar o país.

A vitória da candidata do partido Liberdade e Refundação (Livre) representa igualmente um novo triunfo da esquerda latino-americana, que se junta aos de Gabriel Boric no Chile e de Pedro Castillo no Peru, que procura regressar aos tempos da “onda rosa” do início do século.

A elevada participação nas eleições de Novembro também reforça a urgência com que muitos hondurenhos encaram a situação no país, onde os desafios são monumentais. Depois de oito anos da governação do muito polémico Juan Orlando Hernández, marcada por um êxodo acelerado de pessoas rumo aos EUA para escapar à violência e à pobreza, a expectativa é de que Castro traga novas soluções e rapidamente.

Talvez por tudo isso a tomada de posse de Xiomara Castro, marcada para o Estádio Nacional em Tegucigalpa, conte com nomes relevantes da política regional e mundial, como a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, a vice-presidente argentina, Cristina Kirchner, o rei de Espanha, Felipe VI, ou o vice-presidente taiwanês, William Lai (as Honduras são um dos poucos países que continua a reconhecer a soberania de Taiwan).

No entanto, a divisão entre o próprio partido Livre está a ameaçar o início do mandato de Castro. Nas vésperas da tomada de posse, duas alas rivais do partido decidiram apoiar diferentes candidatos para presidir o Congresso. Imagens de uma sessão parlamentar na semana passada mostram deputados aos empurrões e a trocar insultos, deixando patente a forte divisão no partido.

Um grupo de 20 deputados do Livre juntou-se à oposição para eleger Jorge Cálix, desafiando a escolha de Castro que recaiu em Luis Redondo. A Presidente eleita expulsou 18 dos deputados rebeldes e tentou negociar com Cálix uma saída, oferecendo-lhe um cargo no Governo. A poucas horas da tomada de posse ainda não era claro quem iria entregar à nova chefe de Estado a faixa presidencial.

Ainda é difícil discernir de que forma é que a crise que marca o início do mandato de Castro poderá influenciar os seus planos. Os analistas notam que o Governo já não dispunha de uma maioria no Congresso e com a saída dos deputados rebeldes a sua posição fica ainda mais fragilizada.

“Esta divisão do Livre, independentemente da forma como se venha a resolver, dá aos partidos da oposição muita capacidade de veto, o que irá limitar a aprovação de legislação pela qual muito aguardamos e que foram prometidas durante a campanha, como o combate contra a impunidade”, diz à BBC o investigador da Universidade Nacional Autónoma das Honduras, Eugenio Sosa.

O início pouco auspicioso do mandato de Castro antecipa muitas dificuldades, especialmente tendo em conta os enormes desafios que as Honduras enfrentam. Num dos países mais pobres da América Central, a pandemia veio agravar ainda mais a desigualdade. Hoje estima-se que 71% dos dez milhões de habitantes vivam na pobreza.

A insegurança é também um dos maiores problemas com que a Administração de Castro terá de lidar. A forte implantação dos cartéis do narcotráfico nas Honduras faz do país o segundo da região com maior número de homicídios (39 por cem mil habitantes), apenas superado por El Salvador.

Não é de admirar que sejam os hondurenhos aqueles que mais alimentam as incessantes caravanas de migrantes que chegam à fronteira sul dos EUA. Para além de assistir à cerimónia de tomada de posse, Kamala Harris vai reunir-se com Xiomara Castro para discutir formas de conter a imigração para os EUA, segundo a Reuters.

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