Francisco Louçã: “O Governo tem-nos tratado como estúpidos”

Francisco Louça acusou o PS de ter mergulhado o país numa crise política pela “ambição desmedida” por maioria absoluta. Fundador do Bloco de Esquerda discursou em comício do Bloco em Braga, encerrando décimo dia da campanha eleitoral.

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Francisco Louça discursou esta terça-feira

“O Governo tem-nos tratado como estúpidos: mal Francisco Louça proferiu estas palavras, a sala composta por militantes do Bloco de Esquerda (BE) emitiu um burburinho e, logo depois, instalou-se um silêncio total. No púlpito montado no comício de Braga, um dos fundadores do partido em 1999 e antigo coordenador acusava o Partido Socialista, liderado por António Costa, de ter mergulhado o país numa crise política. A razão? Uma “ambição desmedida” pela maioria absoluta. Louçã esteve ao ataque nesta terça-feira no comício que encerra o décimo dia de campanha eleitoral, acusando a direita de estar, mais do que nunca, “com as garras à mostra”, postura que tenta disfarçar “com a fofura do bichano”.

“Não me lembro de ver nenhuma campanha eleitoral em que a direita se apresentasse de forma tão crua como uma coligação de grandes empresas. Querem entregar a TAP à Lufthansa. Querem entregar os hospitais à MEO e à Fosun. É uma mistura mirabolante de ideias extraordinárias”, afirmou Louçã.

Para aquele que é um dos fundadores do partido, o “contrato” que Bloco e PS podem negociar após as eleições será, porventura, “a maior responsabilidade da história do BE”. Depois das “farpas” à direita, as críticas estenderam-se à esquerda, com mira apontada exclusivamente ao PS.

“Chegámos a esta eleição com o país enfraquecido: perdemos dois anos. Ainda hoje não sabemos e há um Governo que pensa que não tem de explicar por que é que poupou à EDP 110 milhões de euros de um imposto. É uma gota de um oceano de quatro mil milhões de benefícios, vendas, favorecimentos, incentivos…. o Governo tem-nos tratado como estúpidos.”

O fundador do Bloco diz que o Governo preferiu mergulhar o país numa crise política a aceitar melhorias para carreiras e para o Serviço Nacional de Saúde. E, segundo a sua análise, essa crise poderá ser prolongada no próximo domingo.

“O maior fracasso de todos é o truque da crise. É um truque para a maioria absoluta e criou um vazio. O pesadelo da maioria absoluta finou-se na passada sexta-feira e o PS está a ser engolido pelo seu mistério. Qual é a sua alternativa? Quer que os eleitores escolham sem lhes dizerem o que vão escolher. Querem criar uma crise no próximo domingo à noite ou talvez um bloco central. Ou um bloco central de um só partido apoiado no PSD sorrateiramente”, acusou o fundador bloquista.

Francisco Louçã considera que “o mistério” e “o vazio” estão a aproximar PS e PSD, considerando que o voto no Bloco de Esquerda assume outra importância.

“Toda a gente sabe que o vazio e o mistério estão a fazer desta campanha uma campanha empatada. Por isso, só há uma certeza: o voto no Bloco de Esquerda é o único que pode virar a eleição. Se o Bloco for a terceira força política, o país tem uma certeza: não haverá um governo de direita. É um voto que decide tudo. Vencendo o Chega, e que orgulho para a esquerda toda, o voto no BE desempata e impede qualquer Governo de direita”, finalizou Louçã.

A “má notícia” para Rui Rio

Depois de Louçã, foi a vez de Catarina Martins tomar a palavra em Braga. Num discurso virado fundamentalmente para os desafios na habitação, a coordenadora do Bloco de Esquerda fechou a intervenção com um recado para Rui Rio, líder do PSD.

“Tenho uma má notícia para o doutor Rui Rio: esta campanha já não é sobre o gato Zé Albino. Esta campanha é mesmo sobre o programa para o país. Sobre o contrato à esquerda que estaremos a debater na segunda-feira porque a força da esquerda é a resposta do povo às exigências de Portugal. Cá estaremos e sabem aqui em Braga como é um voto do Bloco de Esquerda que fará a diferença no domingo. O Bloco é a esquerda que elege, de confiança e que vira o jogo”, resumiu Catarina Martins.

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