Cartas ao director

A chave para a maioria

Tendo em conta as ultimas sondagens (da CNN Portugal), o PS e o PSD tem uma percentagem quase similar dando a possibilidade de os sociais-democratas terem maior representatividade no Parlamento. A Iniciativa Liberal e a CDU irão ter o mesmo número de deputados (não havendo assim um desempate entre uma “geringonça” de direita ou de esquerda). Enquanto o Chega e o CDS comparativamente com o BE e o Livre juntos irão também ter o mesmo número de deputados que estes dois partidos de esquerda juntos.

Sendo assim, parece haver um empate técnico entre a direita e a esquerda que só pode ser desempatado com o PAN (que admite coligações com a direita e com a esquerda). Mas será que o PAN e o CDS-PP no mesmo lado é exiquível? Parece-me que não e sendo assim o PSD irá ter de escolher entre formar governo (com o PAN e sem o CDS, pois o PAN nas sondagens vai ter um maior número de deputados que os democratas cristãos) ou então deixar a esquerda formar governo e continuar leal a um partido amigo.

Gonçalo Leal, Lisboa

Não há almoços grátis

No seu tempo, Mário Soares depressa percebeu que à esquerda não tinha parceiros fiáveis. Mas esperava-se que a maturidade da experiência democrática alterasse alguns comportamentos juvenis dessa esquerda. Tal não aconteceu. Essa esquerda não interiorizou a importância que pode ter como “regulador” ou “estimulante” das políticas do PS, em vez de se focar numa rapina de votos que o eleitorado já demonstrou não aceitar. Os partidos de direita não deitam abaixo no Parlamento governos do PSD. Pelo contrário, os partidos mais à esquerda sempre se uniram despudoradamente à direita para derrubar ou impedir governos do PS. O resultado foi sistematicamente uma pesada derrota da esquerda como um todo: 10 anos de Cavaco Silva, 3 anos de Durão Barroso, 4 anos de troika-Passos Coelho.

Temos, em Portugal, dois problemas que impedem uma governação consistente e moderna, que fortaleça um sistema de economia competitiva mas com sólidas garantias sociais: (1) o PS, cujo eleitorado é estruturalmente social-democrata, não pode contar com a esquerda para governar; (2) o PSD não consegue ser social-democrata durante mais de 5 ou 10 minutos, deslizando facilmente para o neoliberalismo bacoco em que o futuro é uma folha de Excel. A moda requentada do neoliberalismo tem vindo a destruir a confiança das sociedades ocidentais na democracia e nas vantagens do mercado livre (não é por acaso que o líder do Chega veio das fileiras do PSD, apoiante devoto de Passos Coelho). Não haverá soluções milagrosas depois da votação de 30 de Janeiro.

Luis Taylor, Porto

Os eleitores e as eleições

Desde maiorias absolutas ou quase absolutas até “geringonças” ou débeis maiorias relativas, os eleitores portugueses já deram diversificadas oportunidades aos seus representantes para mostrarem o que valem a gerir o país. Contudo, ainda dão sinais de descontentamento sentindo-se defraudados. Despejam então as suas frustrações no saco de quem promete abanar os interesses instalados, promete cercear verbas esbanjadas para grupos sociais preguiçosos ou oportunistas, combater a corrupção, debelar as negociatas … Este desfilar de intenções entra como rapsódia musical nos ouvidos de quem tem andado a ouvir a mesma música de ambos os lados de um disco. E lá vão eles a dançar ao som da nova moda num misto de “corridinho” com marcha de protesto em direcção à urna. Resta saber se vão sufragar ou lançar uma pazada de terra por cima da democracia.

José M. Carvalho, Chaves

Agropecuária e ambiente

Oitenta por cento da terra agrícola é usada na criação de animais que contribuem apenas com 20% para o total dos alimentos. A pegada ambiental é enorme: consome muitos recursos e é altamente poluidora. Uma vaca de alto rendimento das explorações intensivas, debita cerca de 52kg de bosta e 30l de urina por dia e pode beber até cerca de 100l de água por dia em climas mais quentes.

Hoje toda a soja produzida seria suficiente para nutrir as carências proteicas da população mundial, mas é usada na sua maior parte – 85% - na alimentação animal. Um quilo de proteína animal precisa de muito mais terra do que o seu equivalente em soja (32x para a vaca, 9x para o porco e 3x para o frango). Comer menos carne e reconverter solos agrícolas para hortifrutícolas é bom para a saúde e o ambiente.

José Torcato, Lisboa

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