PS sugere abstenção mas dá liberdade de voto no orçamento de Lisboa

Primeiro orçamento de Carlos Moedas foi aprovado em câmara com os votos a favor de PSD e CDS e a abstenção do PS. Chega na quinta-feira à assembleia municipal, onde a votação tem um desfecho ainda incerto.

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Carlos Moedas viu aprovado em câmara o seu primeiro orçamento no dia 100 do seu mandato Rui Gaudencio

Haverá suspense até ao fim. Os deputados do PS na Assembleia Municipal de Lisboa vão ter liberdade de voto na apreciação do orçamento municipal para este ano, o que torna incerto o desfecho da votação. Se todos seguirem a proposta da direcção da bancada, a abstenção, o documento passa. Se alguns votarem contra, será preciso ver como se comportam os outros partidos e puxar da calculadora.

“Não faz sentido criarmos uma crise política”, avisa o líder dos socialistas na assembleia, Manuel Portugal Lage, garantindo que “todos os deputados do PS têm a noção de que o que está em causa é a estabilidade da governação da cidade.”

No dia em que a Câmara de Lisboa se reuniu novamente para votar (e aprovar) o orçamento, depois de um fim-de-semana de acusações mútuas entre Carlos Moedas e os vereadores socialistas, Manuel Lage distancia-se de uns e de outros e posiciona a assembleia como o lugar da “serenidade” que não existiu na reunião autárquica da semana passada. “O que faltou de parte a parte foi serenidade”, diz, lamentando a “gritaria na praça pública” que se seguiu.

A bancada socialista considera que “90% do orçamento municipal apresentado por Carlos Moedas é de continuidade”, mas a direcção decidiu “não implementar disciplina de voto”, diz Lage, confiante de que existe um “alargado consenso” entre os deputados para seguir a indicação de abstenção.

E aproveita para falar para dentro e para fora: “Não podemos continuar a ser acusados de ser força de bloqueio quando somos a única força política que viabiliza o orçamento. Não vamos ser o bode expiatório de um orçamento chumbado. O que nós queremos é que Moedas governe, ele não pode ter nenhum álibi para não governar.”

Em plena campanha eleitoral para as legislativas de domingo, a votação do orçamento municipal na quinta-feira é um momento político importante. O PS tem 27 deputados, exactamente o mesmo número de eleitos por PSD, CDS, MPT, PPM e Aliança, que compunham a coligação que apoiou Moedas. Com três eleitos cada, o posicionamento de IL e Chega ainda é desconhecido. Se à esquerda se mantiver o chumbo dado em câmara, há 14 votos contra garantidos (PCP, BE, Livre, PEV, independentes). Falta também saber o que fará o deputado único do PAN.

O orçamento foi aprovado na câmara esta terça-feira apenas com os votos a favor de PSD e CDS, a abstenção do PS e o voto contra de PCP, BE, Livre e da independente Paula Marques.

“Moedas panicou”

Num encontro com jornalistas que deveria ter servido para um balanço dos primeiros cem dias de mandato, mas em que praticamente só se falou do orçamento municipal, Manuel Lage disse que há “uma impreparação muito grande” no executivo.

Nas últimas duas semanas, e quebrando uma regra não escrita de que a assembleia municipal não funciona durante as campanhas eleitorais, as comissões parlamentares fizeram audições aos vereadores com pelouro. Alguns deles tinham mais de uma centena de perguntas dos deputados para responder, mas Lage notou “desconhecimento das áreas, dos projectos e do que se estava a falar”. “Estamos a compilar uma lista de perguntas às quais não tivemos resposta”, afirmou o socialista.

Quanto ao que se passou na reunião da semana passada, quando os vereadores socialistas encontraram uma discrepância de 40 milhões de euros nos mapas orçamentais da habitação, Manuel Lage considera que “o presidente panicou” e fez “uma fuga para a frente” ao culpabilizar o PS pelo adiamento da votação. “Não podemos gerir isto nem na televisão nem aos gritos uns com os outros.”

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