Grupo de Barcelos comprou activos da Dielmar e vai dar-lhes nova vida

Fábrica de Alcains regressa à produção no segundo semestre de 2022, com 210 ex-trabalhadores da empresa que faliu em 2021.

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Fábrica têxtil da marca Dielmar em Alcains Nuno Ferreira Santos

O grupo industrial Valérius, sediado em Barcelos, fechou na quinta-feira a aquisição dos activos da fábrica têxtil Dielmar, que faliu em Novembro de 2021. Pagou 275 mil euros pela totalidade dos activos e já estabeleceu contactos com ex-trabalhadores da fábrica de Alcains, com o objectivo de fazer regressar 210 dos cerca de 250 que trabalhavam naquela unidade fundada em 1965. O objectivo é reabrir a fábrica no mesmo sítio, sob nova gerência, após seis meses de formação de pessoal e uma reestruturação do sector operacional para relançar a marca no segundo semestre de 2022.

A “nova” Dielmar continuará no mercado do vestuário, mas com uma gama de produtos novos. A ideia é manter a aposta na alfaiataria, mas modernizá-la, conjugando-a com maior conforto e um espírito mais casual.

A compra da totalidade dos activos da Dielmar foi concretizada na semana passada, segundo confirmou ao PÚBLICO o Ministério da Economia, cujo secretário de Estado Adjunto, João Neves, participa hoje num encontro promovido pela Câmara de Castelo Branco e que conta também com representantes do grupo adquirente, sediado em Barcelos.

Entre a opção judicial pelo encerramento definitivo, que lançou cerca de 250 trabalhadores para o desemprego (na maioria mulheres), e o último pagamento pela venda dos activos num lote único, concretizado na semana passada, passaram cerca de dois meses. A maioria daqueles trabalhadores deverão regressar às mesmas instalações que a antiga Dielmar ocupava, na vila de Alcains, mas a produção industrial só recomeçara depois de a nova gerência reequipar e readaptar a fábrica e de os trabalhadores escolhidos para a nova vida da empresa passarem por formação.

Segundo o secretário de Estado, João Neves, de fora ficarão apenas os trabalhadores do sector administrativo e aqueles que optaram por não regressar a Alcains, confirmando-se assim o noticiado pelo semanário Expresso, que no fim da semana passada avançou com a informação de que o negócio com o grupo Valérius estava prestes a ficar selado, com o último cheque a caminho da massa insolvente.

O preço pago pelo recheio da fábrica e propriedade industrial e intelectual, como a própria marca Dielmar, acabou por ultrapassar os 250 mil euros inicialmente oferecidos pelo grupo de Barcelos. Segundo João Neves, este pagou mais 25 mil euros, “respeitante aos credores que tinham créditos garantidos”. A venda foi feita num lote único e o grupo Valérius pode agora tomar posse das instalações (arrendadas ao mesmo fundo estatal FIEAE que tinha ficado proprietário numa das muitas injecções de capital que o Estado realizou ao longo de uma década, para tentar ajudar a antiga Dielmar).

"Já houve um conjunto de contacto entre o grupo e os trabalhadores para os alertar para acções de requalificação, nos quais a participação é voluntaria, mas que são uma condição muito importante para que essas pessoas possam ser incluídas no novo projecto industrial”, explicou o governante.

Marisa Tavares, do Sindicato dos Trabalhadores Têxtil da Beira Baixa, confirmou, por seu lado, ao jornal Expresso, que “os trabalhadores da Dielmar já estão a ser chamados pelo Centro de Emprego para começarem a fazer formação em breve e isso são boas notícias”. Mostrando confiança de que “desta vez o processo está mesmo resolvido”, lamentou o desfecho de encerramento e despedimento colectivo depois do pedido de insolvência apresentado no início de Agosto de 2021, anotando que só vai “respirar de alívio” quando as portas reabrirem efectivamente.

A dirigente sindical destacou ainda a coincidência temporal entre o fim do negócio da venda e a campanha eleitoral para as eleições legislativas, que se realizam no próximo domingo, 30 de janeiro. “Quando há eleições à vista parece que tudo é mais rápido”, disse, segundo o semanário.

Quando pediu a insolvência, a anterior administração liderada por Ana Paula Rafael e composta por herdeiros dos fundadores da Dielmar, culpou a covid-19 pela derrocada, mas o Ministério da Economia apressou-se a rectificar essa leitura, culpando a equipa de gestão por anos consecutivos de acumulação de prejuízos.

Entre 2011 e 2021, a empresa registou todos os anos resultados líquidos negativos. Não obstante, teve direito a diversas ajudas do Estado, sob diversas formas financeiras e não financeiras, totalizando cerca de oito milhões de euros. Dinheiro que, segundo o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, o Estado dificilmente iria reaver.

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