Open da Austrália sob fogo por confiscar t-shirts de apoio a Peng Shuai

Tentativa de aceder ao recinto com mensagem direccionada à tenista chinesa foi travada pela organização. Actuais e antigos jogadores já repudiaram a decisão.

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Reuters/MORGAN SETTE

A federação australiana de ténis (Tennis Australia) volta a estar no centro das atenções. Depois da polémica em torno da participação de Novak Djokovic no Open da Austrália, agora são as manifestações de apoio a Peng Shuai a gerar desconforto. Tudo porque a organização do torneio impediu alguns adeptos de usarem t-shirts alusivas à tenista chinesa, cujo paradeiro continua a ser incerto.

Um par de incidentes registado nos últimos dias chamou a atenção de algumas figuras da modalidade. Os organizadores do Open da Austrália pediram a alguns activistas dos direitos humanos que tentavam entrar no recinto com t-shirts que tinham estampada a pergunta “Onde está Peng Shuai?” que cobrissem essas palavras ou que retirassem a camisola. Uma decisão que, defenderam, foi tomada ao abrigo da política de venda de bilhetes em vigor.

“De acordo com a nossa política de entrada [no recinto], não são permitidas roupas, tarjas ou cartazes com conteúdo comercial ou político”, explicou a Tennis Australia, em comunicado. “A segurança de Peng Shuai é a nossa principal preocupação. Continuamos a trabalhar com a WTA e com a comunidade global do ténis para clarificar a situação”.

Esse não é o entendimento, porém, de alguns atletas e ex-atletas, que já se manifestaram contra esta tomada de posição. “O que se passa? Que falta de coragem! E se não tivessem patrocinadores chineses?”, questionou o francês Nicolas Mahut (5.º do ranking ATP), no Twitter, numa alusão a empresas como a Luzhou Laojiao, que comercializa bebidas espirituosas e é um dos principais sponsors do torneio.

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A antiga estrela do ténis feminino, Martina Navratilova, também foi dura nas palavras: “Isto é simplesmente patético. A WTA [entidade que rege o ténis feminino] está sozinha nesta luta”, escreveu, enquanto a francesa Alizé Cornet (61.ª do ranking) deixou um apelo: “Não vamos calar-nos!”.

Estes incidentes já geraram, entretanto, uma acção espontânea de angariação de fundos. Na plataforma GoFundMe, foi praticamente atingido o objectivo de reunir 15 mil dólares para mandar estampar cerca de 1000 t-shirts que serão oferecidas aos adeptos nas imediações do recinto, em Melbourne. A ideia é dificultar a vida à organização do major australiano, chamando simultaneamente a atenção para um problema que continua por solucionar.

O paradeiro de Peng Shuai continua a ser uma incógnita, mesmo depois de uma intervenção do Comité Olímpico Internacional, que estabeleceu contacto por videoconferência com a tenista chinesa. Em causa, recorde-se, está o facto de a atleta ter denunciado um suposto abuso sexual de um alto representante do Governo chinês, com o qual chegou a ter uma relação.

Esta tomada de posição da organização do Open da Austrália não é, porém, um exclusivo desta prova. Algo de idêntico acontece noutro torneio do Grand Slam, o de Wimbledon, que proíbe expressamente a presença de “quaisquer objectos ou roupa que exibam mensagens políticas ou ofensivas” no interior dos recintos.

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