CDU apresenta as suas “contas certas” para lançar o OE de 2022

Num sábado com dois comícios, comunistas trouxeram para agenda a legislação laboral, fiscalidade e travão à fuga de capitais. O que há três meses, quando o orçamento foi chumbado, era urgente, é-o ainda mais agora, defende João Oliveira. Entre Seixal, Almada e Santiago do Cacém, Setúbal ainda é uma casa calorosa para a CDU.

Foto
A caravana do PCP teve o seu primeiro banho de multidão em Almada LUSA/MÁRIO CRUZ

O tempo deu razão à CDU. Pelo menos esta é a tese que João Oliveira defendeu em Santiago do Cacém, no auditório municipal, quando falava no último comício do dia. O tema era o Orçamento de Estado para 2022 e o seu chumbo: três meses depois, as medidas que eram apresentadas pela CDU como sendo urgentes, são-no agora ainda mais. E vão continuar cá no dia a seguir às eleições, quando uma solução de governo terá que ser acertada.

O líder parlamentar do PCP referia-se às medidas sobre salários e pensões, mas também às propostas para o Serviço Nacional de Saúde, como valorização e contratação de mais profissionais ou o incentivo à fixação de profissionais em zonas carenciadas. “Já na altura eram urgentes. Três meses depois, a sua urgência torna-se ainda mais evidente”, sublinha.

E já que o pano de fundo era o orçamento, João Oliveira puxou um slogan do PS quando falou sobre as ajudas à banca. “Nos últimos 12 anos, as despesas públicas com ajudas à banca atingiram quase 30 mil milhões de euros. Repito: 30 mil milhões de euros. São duas bazucas”, disse, bolo suficiente para resolver vários dos problemas do país, defendeu. “Nós também somos pelas contas certas, mas pelas contas certas com o povo, com o país e não com os banqueiros”.

Nesse acerto de contas, a CDU inclui a taxação devida das “fortunas que fogem para paraísos fiscais”, numa mensagem. No sentido contrário, “é preciso desagravar a tributação sobre os rendimentos mais baixos e intermédios no IRS, baixar os impostos indirectos, baixar o IVA da energia de 23% para 6%, repondo o valor anterior à troika” e assumir a mesma descida, pela primeira vez, no caso do gás natural.

Sobre taxação, João Oliveira lembrou ainda a “falaciosa solução” proposta por “PSD e seus sucedâneos”, que acenam com a redução do IRC para o investimento estrangeiro. “Uma fraude”, classificou, “porque baixas significativas de impostos sobre os lucros nunca se traduziram em mais investimento, mas apenas em mais lucros e mais dividendos para os accionistas”.

Na defesa deste argumento, o dirigente comunista recuou ao início do milénio e ao governo de Durão Barroso, Santana Lopes e Paulo Portas, “que decidiram baixar a taxa de impostos sobre os lucros em 5 pontos percentuais” e resultou num crescimento de “pouco mais do que nada”. “Mas quem vive do trabalho passou a pagar mais”, apontou.

Pelo meio do discurso, nova mensagem contra a bipolarização da campanha entre PS e PSD: “quando em 2015 também diziam o mesmo, a vontade do povo trocou-lhes as voltas”.

Cinismo e hipocrisia do PS

Depois de arrancar o dia no Clube Desportivo e Recreativo Águias Unidas do Fanqueiro, na freguesia de Amora, Seixal, onde abriu a porta à continuidade à frente do grupo parlamentar do PCP, a caravana teve o seu primeiro banho de multidão. Em Almada, onde os comunistas ainda recuperam do dissabor da reconquista falhada da câmara ao PS, João Oliveira procurou desmontar uma das ideias lançadas pelos socialistas para esta corrida: “Vir agora, em tempo de campanha eleitoral, dizer que se quer reflectir sobre a semana de quatro dias de trabalho, é de enorme cinismo e hipocrisia”, acusou, no comício que teve lugar após a primeira arruada desta campanha.

A proposta, defende, não é mais que “uma manobra para fugir à discussão sobre o que interessa discutir hoje: o fim dos abusos do trabalho por turnos e nocturno, regulação do horário de trabalho e a sua diminuição”. João Oliveira, que falava no Jardim da Cova da Piedade, em frente a uma plateia onde esteve a secretária-geral da CGTP, Isabel Camarinha, também não se esqueceu da “caducidade da contratação colectiva, que o PS se recusou a revogar”.

“Concentrar em quatro dias o trabalho que era feito em cinco não reduzindo o horário de trabalho”, prosseguiu, “é uma solução que pode servir a quem quer continuar a agravar a exploração, mas não serve a quem trabalha e cria a riqueza no nosso país”.

Sugerir correcção
Comentar