João Oliveira chega ao Algarve com “um murro no estômago” que mostra as dores do SNS

Campanha comunista começou o dia em Silves, num distrito onde tenta recuperar o deputado que perdeu em 2019. CDU quer reverter “falta de investimento” no SNS e diz que sondagens “parecem desligadas da realidade”.

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João Oliveira fez campanha em Messines LUSA/LUÍS FORRA

Maria Nascimento tem 72 anos e cuida do marido de 80 anos, acamado há sete. Aproveitou o microfone aberto instalado numa acção de campanha da CDU, ao lado do Centro de Saúde de Messines, no concelho algarvio de Silves, para lamentar as dificuldades em encontrar médicos. “Não estão cá tempo nenhum, não conhecem as pessoas, não podem ajudar-nos”, diz, como que confirmando os cartazes da campanha comunista que por ali iam sendo empunhados, a pedir mais médicos, mais consultas e a salvação do Serviço Nacional de Saúde.

Estava dado o mote para João Oliveira fazer a primeira intervenção do dia, sobre um tema que é caro à CDU – o SNS – mas também para tocar em vários outros pontos que servem de farpas ao PS, como o apoio aos cuidadores informais.

Esta sexta-feira, a campanha que ainda conta com João Oliveira à cabeça anda por Faro, distrito onde a coligação de comunistas com verdes perdeu em 2019 o deputado que tinha conseguido eleger em 2011 e segurado em 2015. Começou a manhã num terreno que lhe é mais favorável: Silves, a única autarquia que à qual a CDU preside na região.

Em São Bartolomeu de Messines, João Oliveira falou na necessidade de atrair médicos para zonas carenciadas e de “uma imensa mancha de território do nosso país cujas populações não-acesso” a cuidados médicos “por falta de investimento no SNS”. O que ouviu ali, “mostra como a realidade, às vezes, é um murro no estômago”, disse o dirigente comunista.

O problema da falta de médicos acabou por ser ilustrado por Domingos Gonçalves, já com os seus 84, que abordou João Oliveira já no final da sessão, para explicar que lhe davam no centro de saúde era ser atendido por um de dois médicos estrangeiros – um ucraniano e outro moldavo - o que torna a comunicação difícil.

E como atrair médicos para estas regiões? “Não é possível fazer um médico de barro numa olaria. Os médicos demoram tempo a formar, a preparar-se”, introduziu, para defender a necessidade de implementar agora medidas que só daqui a uma década terão efeito. Entre elas estão a necessidade de assegurar o alargamento da formação em medicina ou o acesso às especialidades médicas a todos os médicos internos, mas também de “valorizar especialidades que têm sido desvalorizadas ao longo de décadas”, como a de saúde pública ou com os médicos de famílias. “Não podemos ficar com um país com oftalmologistas, cardiologistas, médicos de outras especialidades e sem médicos de família ou sem médicos de saúde pública”, sublinhou.

Um “resultado em construção”

O dia arrancou com a sombra de mais uma sondagem que não é propriamente favorável à CDU. A aproximação do PSD ao PS interrogações sobre a possibilidade de se formar um governo à direita, mas não é assunto que desanime o dirigente comunista. E se das eleições sair um governo de direita, perguntam os jornalistas. “Se quiser decidir o resultado das eleições a partir das sondagens não vale a pena sequer chegar ao dia 30. Essa questão pode ficar resolvida já. Temos noção que o nosso resultado está em construção”, responde João Oliveira, para quem as sondagens “parecem muito desligadas da realidade”.

Relativamente aos socialistas, João Oliveira não tem dúvidas: “O objectivo do PS é retirar deputados à CDU”. Tanto que sua própria eleição no círculo eleitoral de Évora pode estar em risco. “A questão que está colocada no distrito de Évora é a mesma que está colocada nos outros distritos”, diz, antes de apelar ao voto na CDU, “não apenas para impedir a maioria absoluta do PS, mas também para dar força à construção das soluções para o país”.

Apesar disso, a mensagem comunista continua a apelar a uma solução de “convergência”, mesmo que, até agora, o PS continue a manter à distância dos antigos parceiros à esquerda.

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