Em Évora, o dia do PS foi de apelos e de ver a obra “desenguiçada”
Obras “enguiçadas”, empreitadas a meio e a sombra da “certeza de uma vitória” que poderá desmobilizar votos essenciais aos socialistas. O dia do PS começou no Alentejo e terminou no Ribatejo, em Santarém.
No segundo dia em território alentejano, António Costa visitou as obras que durante anos estiveram “enguiçadas” e que só arrancaram quando esteve à frente do Governo (como os socialistas fizeram questão de realçar) e a cada oportunidade e microfone ligado apelou à mobilização dos eleitores do PS. Entre visitas a empresas, “selfies à Marcelo”, visitas à construção do novo hospital central de Évora e contacto com comerciantes e simpatizantes, o líder socialista voltou a vestir a samarra (mas voltou a não largar a gravata) e centrou a agenda na região onde pretende manter os dois deputados dos três mandatos em disputa (nas últimas legislativas, o terceiro mandato foi para o cabeça de lista da CDU, João Oliveira) no círculo de Évora.
Durante quase todo o dia, primeiro no centro histórico, depois pelas obras de construção do novo Hospital Central do Alentejo – projecto avaliado em cerca de 200 milhões de euros –, o líder socialista teve ao seu lado o ex-ministro da Agricultura Luís Capoulas Santos, que lembrou que foi o Governo de Pedro Passos Coelho que suspendeu o projecto em 2014, apesar de já ter financiamento garantido.
Porém, no terreno da obra – que ainda está numa fase muito preliminar –, os maiores elogios viriam da presidente da Administração Regional de Saúde [ARS] do Alentejo, Maria Filomena Mendes. “Era uma aspiração da população do Alentejo, que começou a ser projectada nos anos 80. Só com o empenho deste Governo foi possível”, elogiou. A responsável afirmou que o actual hospital da cidade não tem uma capacidade de resposta eficaz para as necessidades da população. “Foi um hospital planeado no século passado, nos anos 50”, justificou.
Segundo a presidente da ARS, a construção estará concluída no final de 2023 e o hospital estará pronto a abrir portas em 2024. O novo centro hospitalar terá 360 camas, incluirá quartos privativos com casa de banho e a promessa de equipamentos mais actualizados, que permitam deixar de encaminhar utentes alentejanos para Lisboa. “Não vão encontrar outro hospital público com as mesmas condições”, prometeu a responsável.
Nos planos do PS está transformar o actual hospital numa futura faculdade de Medicina e numa residência universitária. “O actual hospital não consegue dar um curso de medicina ou escola de enfermagem”, completou o primeiro-ministro.
No final do dia, em Santarém, a cabeça de lista pelo círculo e governante Alexandra Leitão traçou um objectivo para as eleições: eleger cinco deputados (em 2015 e 2019 o PS elegeu quatro deputados por este círculo). A também ministra de Estado e da Modernização colou os sociais-democratas à direita e afirmou que uma vitória da direita será um “retrocesso inaceitável” no modelo de Estado social, já que os partidos da direita põe “em causa a gratuitidade do Serviço Nacional de Saúde, querem privatizar o ensino e a Segurança Social, são contra o aumento do salário mínimo nacional e contra um sistema fiscal mais justo”. “O PSD que se diz de centro, mas não é”, vaticinou. Para a candidata socialista, “a direita confunde o combate à pobreza com subsidiodependência e o humanismo com fraqueza e confundem solidariedade com caridade”.
O dia não terminaria sem o ex-ministro da Administração, Eduardo Cabrita, “entrar” na campanha socialista, por causa do pedido feito pelo Ministério Público de levantamento da imunidade parlamentar do deputado e ex-governante. Na visita à cooperativa agrícola Carmim, em Reguengos de Monsaraz, o secretário-geral do PS foi questionado sobre o impacto que poderia ter na campanha. “Acho que as pessoas já todas se habituaram a uma ideia que é muito importante num Estado de direito democrático: à política o que é da política, à justiça o que é da justiça”, limitou-se a responder e sem dar margem a mais perguntas.
"Está ganho, primeiro-ministro!": “Não, não está!"
Pelo meio, o secretário-geral do PS pouco – ou nada – falou com os jornalistas, preferindo concentrar-se no apelo ao voto directo. E a cada palavra de confiança que ouvia na rua, Costa lembrava que nada está decidido. “Está ganho, está ganho”, gritava uma mulher, enquanto cumprimentava o “primeiro-ministro”. “Não, não está”, respondia Costa preocupado, lembrando que “vencer sondagens não é vencer eleições”. “O nosso campeonato não é o campeonato de estarmos à frente das sondagens, o nosso campeonato é estar à frente no dia das eleições”, diria António Costa logo ao início da tarde. “Não faltem dia 23. Aqueles que preferirem aguardar por dia 30, aguardem por dia 30, mas que não faltem!”, voltaria a apelar na última declaração do dia.
Se faltam dois dias para a primeira “empreitada de votos” – com o voto antecipado em mobilidade no domingo, 23 de Janeiro –, a caravana socialista ainda tem milhares de quilómetros para percorrer. E para lançar os primeiros tijolos “de estabilidade” é preciso mobilizar o eleitorado.