Vamos na estrada mestra que nos leva à paz

A paz é mais do que a ausência de guerra, seja ela uma guerra connosco mesmos ou com os outros. É sobretudo a confiança, o diálogo e o respeito que sabemos e sentimos ter uns pelos outros e por nós mesmos.

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"A educação integral promove todas as vertentes do ser humano" Reuters/VATICAN MEDIA

A mensagem do Papa Francisco do dia 1 de Janeiro é muito clara no que diz respeito à educação como estrada mestra no caminho da promoção da Paz.

Nestes tempos em que a pandemia nos virou a todos do avesso nos diversos aspectos da vida, o investimento e cuidado que possamos ter com a educação vai permitir a continuidade renovada da cultura que dá sentido ao nosso propósito e torna coerente e com sentido o nosso trabalho. Nas diversas vertentes da educação para a paz, a educação global e integral é o pilar basilar. Muitas vezes penso no quanto há a fazer na educação para que a paz possa ser uma realidade no mundo e em cada um de nós.

A paz é mais do que a ausência de guerra, seja ela uma guerra connosco mesmos ou com os outros. É sobretudo a confiança, o diálogo e o respeito que sabemos e sentimos ter uns pelos outros e por nós mesmos.

Como se constrói a arquitectura de uma matriz educativa com este objectivo, a promoção actual e futura da Paz? Quem vive num contexto de promoção da paz irá replicá-lo na idade adulta, na sua família e no seu trabalho.

A educação global é abrangente das diversas perspectivas, não é julgadora, é promotora do diálogo, da inclusão da diferença e da diversidade. A educação integral promove todas as vertentes do ser humano, dando espaço para que cada um consiga encontrar e seu propósito e projecto de vida.

Como construir este modelo na realidade? Que carga horária, disciplinas, projectos, recursos, espaços e tecnologia? Não podemos fazer tábua rasa do que temos e construir de novo, mas podemos ir agindo com este propósito e desenhando objectivos concretos e realizáveis, que passo a passo nos levem ao propósito que temos. O diálogo é a chave fundamental para este novo paradigma. Em educação nada se consegue por imposição, mas antes pela mudança de mentalidades com a clareza da necessidade de fazer diferente. Os espaços de diálogo nas escolas são fundamentais. Os pequenos anfiteatros redondos onde o espaço convida a uma visão de 360º, com a facilidade de se poder usar tecnologia, é um recurso promotor de entendimento.

Mas afinal o que é isto do diálogo? É apenas falar? Um diálogo pressupõe mais escuta do que fala. Escuta atenta, com genuíno interesse e não julgamento pelo que o outro está a dizer, com responsabilidade nas ideias expressas, com o propósito de construção conjunta de algo novo e não de fazer vencer as suas ideias. Num diálogo as posições estão equilibradas, não é um jogo de forças, e o objectivo é a co-criação. Como conseguimos a humildade necessária para atingir o nível produtivo e construtivo de diálogo? Com empenho e determinação. Com lideranças que dêem o exemplo desta prática de co-construção de ideias.

Aprendemos muito com os exemplos que temos e fazemos como vemos fazer. Um verdadeiro diálogo contempla a dimensão global e integral. Não é um debate nem uma discussão. O mentoring é aqui uma ajuda preciosa, nesta aprendizagem do que podem ser conversas poderosas e construtivas. Antes da aprendizagem de conceitos e a apropriação de competências ser feita, quem aprende precisa de sentir o contexto favorável à sua aprendizagem e não em confronto. Estes contextos abertos e favoráveis a novas e diferentes ideias e modos de pensar e fazer, com o objectivo de co-criar, constroem-se, facilitam-se, promovem-se. E até pode acontecer de baixo para cima numa organização, mas é muito difícil furar lideranças com vistas curtas e com poucos hábitos de escuta.

Obviamente que numa escola promotora da paz, a abertura à globalidade e a necessidade do desenvolvimento das várias vertentes do ser humano não a leva a aceitar tudo, mas antes a traçar as suas linhas mestras pela integridade e dignidade da pessoa humana, e pela aprendizagem verdadeira, responsabilizando cada aluno pela sua própria aprendizagem, disponibilizando os melhores recursos humanos e físicos que conseguir.

Humildade. Respeito. Interesse. Responsabilidade. Não-julgamento. Mentoring. Vamos na estrada mestra que nos leva à paz?

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