Dono do Novo Banco investiga actuação de António Ramalho revelada pelas escutas

O fundo norte-americano Lone Star abriu, através do Conselho Geral de Supervisão, “uma análise independente” à gestão de António Ramalho, cujos resultados serão partilhados com o BCE.

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Byron Haynes, à esquerda, é o presidente do órgão interno que está a investigar a gestão de Ramalho. Rui Gaudencio

O maior accionista do Novo Banco quer apurar todos os contornos da gestão liderada por António Ramalho na relação com grandes clientes como Luís Filipe Vieira, na actuação junto do Fundo de Resolução e no desempenho dos seus responsáveis no quadro da Comissão Parlamentar de Inquérito, reveladas pelas escutas da Operação Cartão Vermelho. E, para tal, o Conselho Geral e de Supervisão do banco vai iniciar uma “análise independente”.

Este órgão de fiscalização interna – composto por vários elementos do Lone Star e liderado por Byron Haynes, homem de confiança do fundo americano – confirmou, esta sexta-feira, que iniciou “imediatamente a 7 de Janeiro de 2022 uma análise independente dos conteúdos divulgados na imprensa nas últimas três semanas relativos à ‘Operação Cartão Vermelho’”

Em causa estão as escutas da investigação que tem como alvo o antigo presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, e as suas relações com vários intervenientes do mundo do futebol, mas também com vários gestores do Novo Banco, inclusive Vítor Fernandes e António Ramalho. As escutas, divulgadas pela Sábado e também pelo PÚBLICO, dão conta, entre outros temas, de um plano para alegadamente ocultar informação em torno da elevada dívida de Luís Filipe Vieira não só ao Parlamento, mas também ao Fundo de Resolução.

“O Conselho Geral e de Supervisão confirma que os assuntos abordados relacionados com a ‘Operação Cartão Vermelho’ estão a ser analisados com seriedade e que a análise independente está a ser efectuada de forma pormenorizada, rigorosa, e baseada em factos e nas informações disponíveis ao CGS e ao Novo Banco”, lê-se no comunicado enviado às redacções.

Esta tomada de posição do órgão de controlo interno do banco surge depois de o Banco Central Europeu ter confirmado que está a investigar a relação de Ramalho com Vieira, no âmbito de um eventual processo de avaliação da idoneidade do gestor, à luz dos mais recentes desenvolvimentos públicos.

Aliás, nesse sentido, o Lone Star confirma que “a análise independente estará concluída de forma atempada e exaustiva, através de um procedimento adequado. A abordagem, os resultados e a documentação relevante de suporte desta análise serão partilhados com o Banco Central Europeu numa base contínua e quando completa”.

Já esta quinta-feira, questionado pelo PÚBLICO sobre o andamento deste processo de averiguação da idoneidade de António Ramalho, fonte oficial do supervisor europeu afirmou que ainda não havia novidades sobre o tema.

Refira-se que António Ramalho foi reconduzido pelo Lone Star em Outubro de 2020, tendo o seu conselho de administração executivo sofrido algumas baixas para o novo mandato que dura até 2024, inclusive Vítor Fernandes, um dos elementos mais activos nas escutas da Operação Cartão Vermelho, dada a sua relação com Luís Filipe Vieira.

O Lone Star - que controla 75% do capital do banco - decidiu também, no que diz respeito à avaliação que fez à gestão de António Ramalho no primeiro mandato, atribuir um prémio de perto de dois milhões de euros depois de três exercícios consecutivos com prejuízos acima dos mil milhões de euros. Uma iniciativa que foi travada pelo Fundo de Resolução, depois da oposição do Ministério das Finanças, mas que Byron Haynes - que vai agora investigar Ramalho - defendeu no Parlamento, tendo em conta o interesse público em “reter e atrair a melhor equipa de líderes disponível para fazer com que o Novo Banco passe por estes períodos conturbados”.

O Novo Banco está perto de esgotar a almofada de 3,89 mil milhões de euros criada na venda ao Lone Star para cobrir as perdas com créditos problemáticos e financiada pelo sector bancário com o recurso a transferências e garantias públicas. Um processo que envolveu créditos tóxicos de grandes clientes do antigo BES e que foi acelerado pela gestão, no seguimento da estratégia do Lone Star e com o patrocínio do BCE, para demorar metade do tempo previsto para a sua duração.

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