Irá o desporto, também, fazer parte do debate eleitoral?

O desporto e o movimento associativo desportivo têm, ao contrário do que alguns dos programas eleitorais parecem fazer crer, pela sua importância numa sociedade moderna do século XXI, de fazer parte do debate eleitoral.

IIrá o desporto que, diariamente, delícia os portugueses com competições organizadas pelas mais de seis dezenas de federações com Utilidade Pública Desportiva e representa 2.3% do Valor Acrescentado Bruto, a votos no próximo dia 30? A resposta só pode ser não, tendo em conta o espaço que lhe é dedicado nos programas dos partidos concorrentes ao ato eleitoral que se aproxima.

De facto, após uma leitura dos programas eleitorais dos partidos com assento parlamentar constata-se a inexistência, ou quase inexistência, a referências ao Desporto, o que, por si só, demonstra a fraca importância que este sector ainda tem para os principais atores políticos nacionais.

Devia ter, porque o setor do desporto tem grande importância para a economia nacional. Em julho de 2021 a Confederação do Desporto de Portugal, juntamente com o Comité Olímpico e o Comité Paralímpico, apresentaram um Estudo caracterizador do setor do desporto em Portugal e o impacto da COVID-19, o qual conclui que em Portugal o setor não tem sido alvo de destaque a nível estratégico, mas antes frequentemente incluído em áreas contíguas como a Saúde e o Turismo. São exemplos a inexistência de destaque autónomo na Agenda Estratégia Portugal 2030 ou no Plano de Recuperação e Resiliência, onde o desporto se apresenta residualmente em vertentes relacionadas com a componente de saúde, educação e inclusão social, e não com secção própria.

Em 2019, estima-se que o setor do desporto em Portugal (na sua definição ampla) terá gerado um Valor Acrescentado Bruto (VAB) de €4210 milhões e 133 mil empregos (impactos diretos, indiretos e induzidos), traduzindo-se num peso de 2.3% no VAB e 2.8% nos postos de trabalho nacionais. Além dos impactos económicos, o desporto tem um impacto incalculável a nível social, sendo prova disso a forte estratégia dos restantes países nossos parceiros europeus na utilização do desporto como catalisador do bem-estar das pessoas pós-pandemia.

Continuamos a viver no dia a dia momentos difíceis. A pandemia de covid-19 implicou fortes restrições às competições e mesmo ao treino desportivo, ao nível de limitações ou mesmo ao adiamento e cancelamento de eventos desportivos contribuindo para uma, por vezes, drástica redução do número de praticantes. Tais limitações traduziram-se na perda de receita dos clubes e consequente redução de postos de trabalho e de remuneração. Em Portugal, este impacto estima-se que tenha implicado, em 2020, uma quebra estimada de ~12% em termos de VAB, face a 2019.

Mas o setor deveria ter mais atenção daqueles que deterão em breve o poder legislativo porque os principais prejudicados com o fraco apoio dado ao desporto serão os jovens e os clubes de base que, em muitos casos, deixaram de ter condições para manter uma prática regular, o que será prejudicial, a médio longo prazo, para vários outros sectores como sejam a educação, saúde ou economia.

Como vamos então fazer para que o desporto seja uma realidade no dia a dia da nossa sociedade e o setor do desporto possa recuperar do autêntico tsunami que se abateu sobre a sociedade em geral nos últimos dois anos?

O movimento associativo desportivo, tem vindo a apresentar diversas propostas, que consideramos serem decisivas para que possamos ter mais e melhor desporto em Portugal e nos possamos aproximar dos nossos parceiros europeus. Medidas, entre outras, como a Consignação do IRS a instituições desportivas de utilidade pública, apoio aos Dirigentes associativos, a dedução do IVA ou o Reforço do mecenato desportivo são algumas das ações concretas que defendemos para a melhoria do sector em Portugal.

Poderíamos enumerar muitas outras áreas, aspetos e motivos onde se justifica uma muito maior valorização política do desporto. Não o incluir nos programas eleitorais revela um profundo desconhecimento do que se passa fora das paredes partidárias, o que aliás ficou patente no debate dinamizado pela CDP com as federações desportivas e os partidos políticos, nesta fase de apresentação dos programas, e no qual apenas se preocuparam em estar presentes o Partido Socialista, o Partido Comunista e o Partido das Pessoas, dos Animais e da Natureza.

Mas terminamos como começámos. O desporto e o movimento associativo desportivo têm, ao contrário do que alguns dos programas eleitorais parecem fazer crer, pela sua importância numa sociedade moderna do século XXI, de fazer parte do debate eleitoral.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Sugerir correcção
Comentar