Autor do massacre de Utoya não deve ter liberdade condicional, pede procuradora norueguesa

Condenado aparece na sala de audiência a fazer a saudação nazi e peritos temem que use as audiências como palco para inspirar outros.

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O condenado pelo massacre de Utoya sai da sala de audiências que decorrem para decidir da sua potencial liberdade condicional Reuters/NTB

O assassino norueguês responsável pelo massacre de Utoya, em 2011, não mudou durante o seu tempo na prisão, continua a glorificar as suas acções, e por isso não deve ser libertado, declarou esta quinta-feira a procuradora do Ministério Público no processo de avaliação de uma potencial liberdade condicional de Anders Breivik.

O responsável pelo ataque em que morreram 77 pessoas e outras dezenas ficaram feridas entrou na sala de audiências na primeira sessão, na terça-feira, fazendo uma saudação nazi (algo que já fez noutras ocasiões) e com mensagens supremacistas brancas coladas na sua lapela e pasta, que virou para as câmaras. Mas disse “dissociar-se da violência e terror”, e declarou que lutaria pela sua causa de modos não violentos.

Não foi muito convincente. A psiquiatra Randi Rosenqvist, que o avaliou, disse que o condenado “tem o mesmo diagnóstico que sempre teve” e que “o risco de acções violentas futuras não mudou em relação [ao determinado em] 2012 e 2013”, quando fez a primeira avaliação. O criminoso é “associal, histriónico e narcisista”, declarou, e não apresenta empatia, o que lhe dá “poucas hipóteses de funcionar” na sociedade caso seja libertado, considerou Rosenqvist na audiência de quarta-feira.

Vários especialistas dizem que será muito improvável que lhe seja concedida a liberdade condicional, segundo o diário britânico The Guardian. A decisão deverá ser tomada na próxima semana.

A procuradora repetiu a falta de empatia do autor do massacre como motivo para lhe ser negada a liberdade condicional. Em apoio da sua posição, ainda foram submetidos a tribunal relatos detalhados de 33 sobreviventes, que foram atingidos várias vezes a tiro, e ficaram com sequelas permanentes (algumas das vítimas tiveram membros amputados).

O massacre de Utoya foi a pior atrocidade cometida na Noruega em tempos de paz. O seu autor deixou uma carrinha-bomba junto a edifícios governamentais em Oslo – a explosão matou oito pessoas –​ e depois foi para a ilha de Utoya, onde decorria um acampamento da Juventude Trabalhista. Aí matou 69 jovens, disparando sobre quem fugia, quem estava parado, quem se fingia de morto, quem tentava fugir a nado.

Quando foi detido, percebeu-se que tinha um plano, incluindo fazer do julgamento um palco para as suas ideias.

Breivik, 42 anos, foi condenado à pena máxima na Noruega, 21 anos de prisão, uma pena que pode ser aumentada se for considerado que continua a ser uma ameaça para a sociedade. Tem a possibilidade de pedir liberdade condicional, e disse em curtas declarações aos jornalistas que espera “não morrer na prisão” e ser libertado “a dada altura entre 2032 e 2070”.

Teme-se que as audiências para pedir a liberdade condicional, que podem ser repetidas a cada ano, sirvam para lhe dar oportunidade de difundir a sua ideologia e tentar inspirar outros a cometer ataques. A partir da sua cela, o preso tem tentado apresentar-se como um líder da extrema-direita na Europa e tem tentado estabelecer contacto com outros extremistas, quer nos EUA quer na Europa.

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